sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Nizan Guanaes: "o futuro da Bahia é o turismo"


Bem, a partir do próprio título desta postagem, podemos perceber qual é o grande objeto da mesma. Logicamente, não estamos aqui para transcrever a tão medíocre palestra de Nizan Guanaes, no encontro "Conexões Bahia - Século XXI", que ocorreu internamente às paredes do Teatro Castro Alves - TCA, no dia 10/09. Por outro lado, deixar passar em branco, neste blog, algum comentário sobre a mesma seria uma injúria, já que o marqueteiro falou sobre perspectivas para a Bahia.

Logicamente, a grande centralidade do discurso, sempre que possível homenageado com palmas e por autoridades do Estado da Bahia, foi a questão do Turismo. Por outro lado, podemos perceber que nada de novo foi dito por Nizan Guanaes. Uma palestra que qualquer um de nós poderia proferir sobre a perspectiva turística da Bahia. Afirmar que este Estado é uma potência para o Turismo não é, de forma alguma, uma novidade. Aliás, basta lembrarmos que o discurso político acerca da “baianidade” começou por conta desse fomento do Turismo baiano. Infelizmente, não cheguei no momento em que o professor Albergaria (conhecedor da “baianidade” e movido pelo senso de escracho) proferia palavras sobre a figura de Nizan Guanaes e seu intento de uma Bahia pró-turística. De fato, foi uma lástima, é sempre bom ver Albergaria tecendo suas farpas contra as pessoas, um belo motivo para darmos risada. Permitam-me voltar ao cerne da questão. Pois bem, gostaria que Nizan Guanaes falasse algo mais profundo acerca do Turismo na Bahia e não apenas afirmasse o óbvio. Quem não sabe que este Estado é precário no ensino de história, que não damos atenção às belezas daqui e todo o blá blá blá que já estamos acostumados? Na verdade, creio que a grande "novidade" de Nizan Guanaes foi propor um desenvolvimento do Turismo no Estado da Bahia que extrapolasse a questão da politicagem. O modelo proposto pelo marqueteiro era unir forças políticas e privadas em prol do desenvolvimento da Bahia.

Mostrando-se um pífio conhecedor dos restaurantes populares da Bahia, Nizan Guanaes disse que não bastava apenas desenvolver os bons restaurantes como o Trapiche Adelaide (voltado para uma fatia ínfima da população local), mas que também até mesmo o Paraíso Tropical deveria ser colocado sob o foco. Ele esquece que o Paraíso Tropical também é um restaurante voltado para uma pequena parcela da população local, uma vez que a média de preço de um prato é de R$ 60,00. Então, é exatamente esta uma das grandes questões deste texto. Desenvolver uma Bahia pró-turística apenas salientando os aspectos potenciais do Estado sem dar um retorno à população é algo de absurdo. Ademais, como fazer da Bahia um Estado pró-turístico, se a questão da educação foi discutida a partir do simples mote: "devemos dar educação para esse povo, fazê-lo conhecer a história...". Seria isso algo tão simples assim?

Por fim, o que notamos na palestra de Nizan Guanaes foi algo que ele realmente sabe fazer: marketing. O problema é que a palestra foi uma estratégia de marketing pessoal para o palestrante, uma vez que ele trouxe música para o centenário de Dona Canô e também exibiu suas belas publicidades. Deveríamos analisar a postura destes comunicadores. Não basta que falemos o óbvio, devemos mostrar como operacionalizá-los. O pior de tudo é observar uma platéia de jovens deslumbrados com as palavras do marqueteiro. Aplaudamos!


P.S.: Imagem retirada do Google Images.


domingo, 16 de setembro de 2007

Natureza, História e Arte em Lençóis/Ba


Este blog tem por proposta falar sobre a atividade turística no Brasil, tanto em termos informativos quanto reflexivos, sempre que necessário (e não faltam circunstâncias em que tal necessidade se impõe). Pode parecer que estamos falando demasiadamente da Bahia, mas, garanto, não é proposital. Desta vez, a escolha de Lençóis se deve a um fato premente: aproxima-se um dos mais relevantes eventos da região, o Festival de Inverno. Portanto, não me restou alternativa.

Lençóis é uma das mais belas e importantes cidades históricas do Brasil. Situada na Chapada Diamantina, tem sua evolução histórica intimamente associada aos ciclos do ouro e diamante, responsáveis pela fundação de tantos municípios baianos aqui já citados, como Mucugê, Andaraí, Xique-Xique de Igatu, Palmeiras, Guiné, Caeté-Açu e Rio de Contas. Em seu auge, foi a maior produtora mundial de diamantes, posição hoje ocupada por Angola. Hoje, sua economia se baseia em atividades primárias e Turismo.

Sem fugir à regra, iniciou como um arraial de garimpeiros, no ano de 1845. Há uma lenda a justificar sua denominação: diz que os garimpeiros acamparam no alto do Serrano, cobrindo suas tendas com tecidos brancos que, de longe, pareciam lençóis estendidos. À medida que se fortalecia a atividade mineradora, proprietários de terras e comerciantes – em especial, de alimentos - foram gradualmente se instalando no entorno dos garimpos, tendo em vista a enorme potencialidade de rápido enriquecimento. Em 1856, passou a Comercial Vila de Lençóis, chegando a sediar um consulado francês, no intuito de estreitar os laços comerciais entre Brasil e França.

O garimpo ajudou a consolidar o crescimento de Lençóis até 1871, quando, por ocasião do esgotamento dos solos e a concorrência africana na exploração de pedras preciosas, foi praticamente abandonada por exploradores brasileiros e estrangeiros, amargando anos de muita escassez e pobreza extrema. Foram a cafeicultura e a extração do carbonato, muito utilizado pelas indústrias européias, que, em 1880, vieram a retomar, mesmo que parcialmente, a economia da cidade.

Apresentando um vasto e muito rico casario colonial, Lençóis foi, em 1973, tombada como Patrimônio Histórico Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ampliando as oportunidades para o desenvolvimento do Turismo não apenas da região de Lençóis, como de toda a Chapada Diamantina. Chamada cidade-patrimônio, é considerada, pelo “trade” turístico, um dos dez melhores destinos turísticos do país, em especial o ecoturismo. Possui uma boa infra-estrutura turística, com meios de hospedagem, restaurantes e bares, agências de turismo, acesso pela rodovia federal BR-242 e um aeroporto, que recebe vôos regulares. È a partir de Lençóis que a grande maioria dos roteiros ecoturísticos da região são organizados.

Embora costume ser muito lembrada por suas belezas naturais, aliás, como toda a Chapada, a cidade conta com uma variada oferta de atrativos históricos e culturais, começando por suas ruas pavimentadas, por escravos, em pedras. Entre os principais atrativos, destacam-se: a Igreja Nossa Senhora do Rosário, cuja construção, em estilo rural, data da segunda metade do século XIX; o Mercado Municipal, situado na Praça Aureliano Sá (antiga Praça dos Nagôs, em virtude de haver sediado intenso comércio de escravos), cuja construção teve início no século XIX com conclusão apenas em meados de 1900. Atualmente, sua importância se deve ao fato de sediar um centro de atividades culturais; o Campus Avançado da Universidade Estadual de Feira de Santana, onde estão os museus do Jarê, do Garimpo e o Geológico. Esta construção pertenceu a uma respeitada figura do século passado, Sinhazinha Sobral; a Igreja Senhor dos Passos, padroeiro dos garimpeiros, cuja imagem foi trazida de Portugal em 1852. Foi construída na segunda metade do século XIX por escravos em adobe em um período de 90 dias; o Casarão no alto do bairro São Félix, ex-quartel-general do coronel Horácio de Mattos, figura lendária da região, tendo sido prefeito de Lençóis, deputado e senador, além de haver lutado contra a Coluna Prestes dos sertões baianos; a Casa de Cultura Afrânio Peixoto, em que funciona um museu e uma biblioteca, com informações sobre a vida do famoso escritor. Funciona de 2ª a 6ª feiras, das 8:00 às 18:00h; a Praça do Coreto, com características típicas de interior, constitui ponto de encontro da comunidade local, em seu cotidiano, mas, principalmente, em apresentações musicais, a exemplo da Lyra Popular de Lençóis; o Antigo Prédio da Prefeitura, chamado Palacete do Cel. César Sá, construído em 1860 com influências neoclássicas. Com recursos do programa Monumenta, uma parceria entre o Ministério da Cultura e o Banco Mundial, foi transformado em museu; a Biblioteca Pública Urbano Duarte, casa em que nasceu um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, abriga a biblioteca municipal, fonte de estudo e pesquisa de estudantes, visitantes e curiosos; o Antigo Vice-Consulado Francês, localizado na Praça Horácio de Matos, importante centro econômico da época do garimpo, onde se travava o comércio direto com a Europa; as praças Horácio de Matos e dos Nagôs, com belíssimos casarões em estilo colonial, revelando a história e o luxo do período áureo do garimpo.

O Ecoturismo em Lençóis mais que se justifica: além das típicas formações rochosas de chapada, há também muitos rios, com águas ainda cristalinas; cachoeiras diversas; grutas e cavernas; morros; poços de águas, com colorações variadas, com predomínio do azul e do mate (em função da decomposição das folhas das árvores que caem a todo o momento, tendo em vista a elevada umidade climática da região); fauna e flora riquíssimas; e muitas trilhas a dar acesso a um mundo realmente inesquecível. Aventura não falta, permitindo a prática tanto de suaves caminhadas quanto de esportes radicais, como “rappel”, “canyoning”, “trekking”, mergulho profundo e de superfície, arborismo, espeleologia. Há, em toda a região da Chapada Diamantina, grande oferta de serviços em agências de viagens especializadas.

Nesse ano, apesar das ameaças de não se realizar por falta de patrocínio, será no período de 19 a 23 de setembro que Lençóis sediará a 9ª edição do Festival de Inverno, um evento aberto ao público, sem cobrança de ingresso. O festival acontece há oito anos e, tradicionalmente, ocorre entre julho e agosto, meses de auge da estação invernal. Envolve uma dinâmica bastante enriquecedora, pois, nele, são promovidas diversas Oficinas Culturais sobre temas variados - teatro, dança, música, fotografia, fabricação de brinquedos e muito artesanato – buscando-se sempre a comunhão de arte, música e educação. A programação inclui também eventos esportivos; manifestações de caráter popular (grupos folclóricos); apresentações teatrais; shows com atrações locais, como o cantor baiano Gerônimo, e nacionais, em que grandes nomes da música popular brasileira se apresentam, a exemplo de Gal Costa, Los Hermanos, Zizi Possi, Luiz Melodia e Lobão.

Apesar de sua relevância econômica e cultural para a cidade de Lençóis e seu entorno, cabe refletir sobre as condições em que o evento acontece. De cara, uma questão essencial: são esperados aproximadamente 25 mil pessoas entre turistas e residentes locais. Todo esse fluxo atende à efetiva capacidade de carga turística da região? A infra-estrutura local - abastecimento de água, esgotamento sanitário, alimentação, hospedagem, transportes, comunicações etc – suporta essa sobrecarga? O evento promove a inclusão social da comunidade local? Não podemos esquecer que não só Lençóis mas toda a Chapada Diamantina são patrimônios naturais e culturais inestimáveis, e que cabe aos órgãos públicos, empresários e toda a sociedade civil prezarem por sua sustentabilidade econômica, social e ambiental.

P.S.: Imagens retiradas do Google Images.

domingo, 9 de setembro de 2007

Nicho de mercado: uma compreensão oriunda do marketing?

Num primeiro instante, podemos pensar, ainda que de modo apressado, que a noção de especialização do mercado e de mão-de-obra é um advento do mundo contemporâneo, ou ainda, que nunca fora antes pensada. Porém, esta é uma temática cara à sociologia do século XIX, sobretudo nas figuras de Weber, Simmel e Dürkheim. Bem, talvez, estes nomes assustem aqueles leitores preguiçosos ou aqueles que não estão acostumados a uma discussão teórico-sociológica. De todo modo, não é esse o objetivo aqui do texto, por outro lado, não posso ficar restrito a não comentar sobre as fortes contribuições que tais pensadores trouxeram a esta discussão. Digo isso porque o texto anterior de Dulce é um excelente exemplo para mostrar como algumas concepções sociológicas estão espraiadas no discurso dito prático, a exemplo do “sistema aberto”.

Pois bem, adentremos na seara do tão problemático e raso estudo de marketing. Esta palavra se tornou um tanto mágica no mundo de hoje e, para piorar, ela geralmente aponta táticas e concepções dadas como receitas de bolo. Os estudos de marketing comportam uma mediocridade tão abissal que chega a ser débil. Uma vez imerso em duas graduações em Comunicação Social, sou um indivíduo que está esgotado com a área de marketing, aliás, parece que a comunicação está, cada vez mais, presa ao ramo do marketing. Para além desta crítica a esse excesso do marketing, considero interessante abordar aquilo que Dulce e os estudiosos da área chamam de nichos de mercado. Isso nada mais significa que um mercado especializado em algum ramo de atividade. É curioso observar como isso data de séculos, pois, desde a corte de Luís XIV, a França reconheceu a especialidade de atividades de alto luxo, desde a sapataria até a cozinha. Portanto, essa euforia do marketing nada mais é do que a simplificação de estudos.


O que talvez encante neste discurso de nichos de mercado é a capacidade que as empresas possuem para desenvolver mais e mais mercados. Ou pior, a capacidade sedutora que este discurso de marketing possui. Aliás, basta lembrarmos da exacerbada ode que se faz, atualmente, aos ditos marqueteiros. Na verdade, muitos creditam a vitória de uma empresa num determinado mercado a partir destes seres enviados dos céus. A grande astúcia do marketing é uma só: desenvolver constantes pesquisas a respeito do mercado consumidor. Como afirmam os estudiosos da área, “devemos conhecer, cada vez mais, o consumidor nos seus aspectos psicológicos”, ou seja, os anseios dos mesmos. A grande lástima é que isso seja ratificado por um tom de aparente novidade.


Por fim, gostaria de saber até que ponto esta ode pela especialização de serviços e mercados chegará. Por mais que estejamos imersos num mundo líqüido, para parafrasear Bauman, em que a expectativa e o anseio individual sejam reinantes, considero que isto pode beirar o absurdo.
Aliás, uma coisa que me causou uma grande curiosidade, como seria um turismo virtual?!? A satisfação de um cliente deveras exigente e especializado pode ocasionar coisas interessantes e bizarras, como a morte de adepto da zoofilia nos EUA. Ao passo que Simmel compreende a especialização como a tragédia da cultura, os estudos de marketing observam isso como a salvação do mercado.

sábado, 8 de setembro de 2007

O Brasil é também serrano


Falando em regiões serranas, são diversos os destinos turísticos brasileiros com essas características. São lugares que se destacam pela exuberância de seu relevo e sua vegetação (em especial, os pinhais e a mata de araucárias), mas também por seu clima diferenciado – próprio para repouso e tratamento médico - e sua riqueza cultural. Sim, porque, em geral, são cidades que contribuíram significativamente para a evolução histórica do país, tendo em vista sua participação efetiva nos frequentes movimentos políticos de emancipação local e de independência nacional.

Com destaque para as regiões Sudeste e Sul, em especial os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, muitas são as motivações que alimentam seu constante fluxo turístico: lazer e entretenimento, saúde, vitivinicultura, observação da natureza, vivência rural, história e cultura, aventura, eventos, entre outras. Em muitas dessas cidades, são evidentes as influências européias, especialmente portuguesa, espanhola , italiana e alemã, manifestadas não apenas em seus costumes e tradições, como também na culinária, um de seus principais atrativos turisticos.

Inicio, assim, com a região serrana do Rio Grande do Sul, pelo fato de haver sediado, recentemente, um dos mais relevantes eventos nacionais de cunho cultural, o Festival de Cinema de Gramado que, desde 1973, no mês de agosto, congrega um enorme número de artistas, intelectuais, interessados e curiosos, de procedências brasileira e estrangeira, em especial da América Latina. A exemplo do Oscar norte-americano (guardada as devidas proporções, é lógico), sua estatueta – o kikito – é uma das mais cobiçadas premiações nacionais da sétima arte.

O Rio Grande do Sul, com uma população de mais de 11 milhões de habitantes, situa-se no pólo mais meridional do país, mantendo limites geográficos com o estado de Santa Catarina ao norte, o Oceano Atlântico ao leste, Uruguai ao sul e Argentina a oeste. No contexto brasileiro, é o quarto estado mais rico (depois de São paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), o quinto mais populoso e o terceiro com mais elevado índice de desenvolvimento humano (IDH), em que a Organização das Nações Unidas – ONU – avalia a qualidade de vida local com base em critérios de educação, saúde e renda. Sua capital, Porto Alegre, tem a maior região metropolitana da Região Sul e a quarta maior do Brasil, conhecida como a Grande Porto Alegre, reunindo 31 municípios e uma população de mais de quatro milhões de habitantes.
Sua população é bastante variada, sendo, em grande parte, formada por descendentes de índios, portugueses, alemães, italianos, africanos e asiáticos. Em algumas de suas regiões, o português parece não ser a língua oficial, pois predominam os dialetos de procedência italiana e alemã. Além disso, vestimentas e alimentos típicos desses países chamam a atenção, despertando a curiosidade em experimentá-los.

Anualmente, cerca de 2 milhões de turistas visitam este Estado de grande vocação e potencial turístico. A oferta atende a, pode-se dizer, todos os gostos: praias no litoral norte, com suas imensas e belas falésias, nas cidades de Capão da Canoa, Tramandaí e Torres; na “Pequena Itália” – composta pelas cidades de Caxias do Sul, Garibaldi e Bento Gonçalves (as cidades do vinho) – estão as melhores vinícolas brasileiras; a oeste, destaca-se a cidade de São Miguel das Missões (em referência às Missões Jesuíticas); e, nas serras, durante o verão e o inverno, diversas cidades são (inundadas” de apreciadores dessa cultura singular: Gramado e Canela, com seu café colonial e seus chocolates irresistíveis e sua riquissima decoração natalina; São José dos Ausentes e Cambará do Sul, por suas baixíssimas temperaturas, inclusive nevascas, que exercem verdadeiro fascinio nos turistas. Nelas também se situam os maiores cânions do país, o de Itaimbezinho, o da Fortaleza e o Malarca. Ao Sul, está o maior complexo lacustre do mundo, formado pela Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim, bem como o ponto mais extremo ao sul do Brasil, o Chuí.

Parte da Serra Geral, uma das maiores do Brasil, a Serra Gaúcha se caracteriza por ser uma das mais frias regiões do país, foi essencialmente colonizada por imigrantes italianos e alemães, ainda no século XIX, tendo constituído sua primeira colônia no município de São Leopoldo. Nessa região serrana, as estações do ano são bem definidas, apresentando um verão quente e um inverno – período que vai do mês de junho a agosto - bastante frio. Nem parece ser o Brasil, país reconhecido, internacionalmente, por sua tropicalidade. Apesar disso, essa é a época mais recomendada para visitá-la.

A Serra Gaúcha fica no centro do Mercosul, distando cerca de 1.000 Km de grandes centros urbanos como São Paulo, Buenos Aires e Assunção. Compreende, basicamente, as cidades de Nova Petrópolis (com seus pinheirais deslumbrantes), Novo Hamburgo (a capital dos calçados), Gramado, Canela, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Garibaldi, Carlos Barbosa, São Francisco de Paula, São José dos Ausentes, Antonio Prado, Veranopolis, Flores da Cunha, Farroupilha, São Leopoldo e Nova Prata (situada em meio à mata nativa, possui um parque temático hidrotermal, com fontes que jorram águas a uma temperatura de 41ºC, com, dizem, excelentes propriedades medicinais e terapêuticas), entre outras. Em Gramado, o Lago Negro, o Parque Knorr, os canteiros de hortênsias – mais floridos entre os meses de novembro e março - e as enormes pedras-mirante são atrações imperdíveis. Oito quilômetros a separam de Canela, cidade de beleza singular, cercada de muitas e belas flores, sendo apreciada por seu rico artesanato e por maiores atrações: a Cascata do Caracol, a Catedral de Pedra e o Vale do Quilombo.

Como é de praxe dos turistas, vale a pena comprar algumas das inesquecíveis especialidades serranas: os chocolates caseiros, o artesanato de madeira e as malhas, todos amplamente ofertados nas inúmeras lojas de toda a Serra Gaúcha. Outra compra muito recomendada, principalmente para os apreciadores, são os vinhos, muitas vezes de produção limitada. Fora isso, recomendo muita fotografia e filmagem. Dá para compor um belíssimo álbum, tradicional ou virtual, não importa. Há até quem, de tanto fascínio, traga uma amostra da neve. Pena ser tão efêmera.

P.S.: Imagens retiradas do Google Images.

Turismo para todas as idades


Uma das modalidades turísticas com mais elevados índices de crescimento em âmbito mundial é o Turismo da Melhor Idade (antes, Terceira Idade), voltado a um público bastante especial - a partir dos 60 anos - não apenas em termos de suas necessidades, mas, especialmente, pelo que podem agregar às atividades no sentido de suas experiências de vida.

Cabe ressaltar a importância de superar preconceitos e quebrar paradigmas: as pesquisas mais atuais comprovam que, ao contrário do que pensam muitas culturas (em especial, as do mundo ocidental), o envelhecimento é um processo natural e não constitui um fator impeditivo para a maioria das atividades cotidianas de um adulto. Nos últimos anos, consolidou-se uma maior conscientização da importância da atividade física, do lazer, do contato com a natureza e da valorização de hábitos saudáveis, essenciais à melhoria da qualidade de vida.

Considerando-se o incremento, em escala quase mundial, da expectativa de vida humana, sua prática tem se difundido significativamente, com destaque para Europa e Estados Unidos. Com interesses mais centrados em aspectos culturais - embora muitos idosos já sejam, hoje, praticantes de esportes radicais – “rafting”, canoagem, “trekking”, montanhismo, “off-road”, pára-quedismo, mergulho, entre outros, BENI (2003) afirma que esse fluxo turístico tem como principal característica a não-sazonalidade, ou seja, elege seus períodos e destinos de viagem não em razão da alta ou baixa estação, mas em razão do tempo e da renda disponíveis. Esse público costuma realizar viagens com permanência mais prolongada nas destinações e tem preferência pelos deslocamentos em grupos, recebendo atenção especial na programação e no acompanhamento dos roteiros, equipamentos de hospedagem e alimentação.

Devidamente planejado e orientado, o Turismo da Melhor Idade propicia, além de uma maior ocupação dos equipamentos turísticos na baixa estação, outros relevantes benefícios, tais como: expansão e melhoria de infra-estrutura e atendimento da rede hoteleira; e qualificação da mão-de-obra local, por demandar treinamento especializado em recreação e saúde (1).

No Brasil, onde cerca de 25 milhões de brasileiros têm mais de 60 anos, este segmento turístico cresce de modo significativo, impulsionado, principalmente, pela profissionalização e especialização de algumas empresas do “trade” turístico, bem como por políticas governamentais de incentivo. Um exemplo disso é o programa Viaja Mais – Melhor Idade, divulgado recentemente pela ministra do Turismo, Marta Suplicy, com o objetivo de reduzir as taxas de desemprego no setor, durante o período de baixa ocupação. O projeto já conta com mais de 120 pacotes para 18 destinos brasileiros. Porém a Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), parceira do Ministério do Turismo para a execução do projeto, continua a receber novas propostas de destinos. A previsão é que, até o final desse ano, a programação completa esteja fechada.

O programa oferece pacotes a custos reduzidos, com possibilidades de parcelamento dos roteiros em até 12 meses. Será possível, também, a concessão de prazo de carência de até 180 dias. Aposentados e pensionistas do INSS podem optar pelo parcelamento em folha (crédito consignado), com juros inferiores a 1%, pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil. Mas o valor emprestado não pode ultrapassar 30% do valor líquido mensal do benefício. O beneficiário poderá levar um ou mais acompanhantes na viagem, desde que esteja dentro do limite de R$ 3 mil e do seu limite de crédito, e que seja uma pessoa maior de 16 anos (2).

Médicos e especialistas na atividade turística indicam como melhor época do ano para esse público viajar o período a que costumamos chamar “baixa temporada”, pois é quando os destinos turísticos mais procurados, em geral por sua diversidade natural e cultural, sua mais completa e confortável infra-estrutura e um mais qualificado atendimento, estão menos saturados. Desse modo, pode-se garantir não apenas pacotes promocionais, mas também melhores condições de acesso e estada, sem todo o alvoroço típico da alta temporada, em especial nas cidades costeiras, onde a procura por lazer e entretenimento é a motivação líder.

Em todo o Brasil, várias empresas turísticas voltam suas atividades ao público da melhor idade, especialmente agências e operadoras de viagens e meios de hospedagem. Não apenas cidades históricas e estâncias hidrominerais interessam aos idosos, mas também, e cada vez mais, locais de riqueza natural como montanhas e praias, onde podem realizar caminhadas, passeios, jogos e práticas desportivas. Assim é que regiões serranas são um dos destinos mais freqüentes, com destaque para os estados brasileiros de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Recife e Bahia. Há também a maravilhosa opção dos cruzeiros marítimos, com seis refeições diárias e muita diversão a bordo.

A título de exemplo, há, em Salvador, uma agência especializada nesse público, a Lobotur, situada no bairro do Itaigara. Sua experiência de mais de 15 anos de mercado lhe permitiu constituir o que denominam Família Lobotur, uma vez que possuem um grande número de clientes “habitues”. Atuam na oferta de pacotes personalizados e excursões, todos com serviço de guiamento de primeira qualidade. Seu trabalho pode ser considerado diferenciado, pois engloba etapas que têm agradado muito aos clientes: lançamento, venda, recepção para entrega do kit (literatura completa, com informações sobre a geografia, a história e a cultura locais), distribuição de brindes (camisas, bonés, bolsas), encontros pré e pós-viagem (troca de fotos, integração). Oferece, aos idosos, um excelente suporte, estando preparados para acompanhar portadores de diabetes e hipertensão, bem como pessoas com significativa limitação motora ou qualquer espécie de necessidade especial. Outro aspecto relevante é que oferecem seguro-viagem de ótima cobertura, inclusive para atendimentos emergenciais.

Lobotur: Endereço: Avenida ACM, nº. 846 Edf. Max Center sala 360.
Tels: (71) 3353-8780 / 3353-3439
E-mail: lobotur@lobotur.com.br
Web: www.lobotur.com.br
Funcionamento: Segunda a Sexta das 9h às 19h e Sábado das 9h às 12h



Fonte:

BENI, Mário C. Análise Estrutural do Turismo. 8 ed. São Paulo: Editora Senac, 2003. p. 436


(1) Disponível no site: <http://revistaturismo.cidadeinternet.com.br/artigos/pref-3idade-2.html> Acesso em: 31 ago 2007.

(2) Disponível no site: < http://oglobo.globo.com/viagem/mat/2007/08/24/297421962.asp> Acesso em:
31 ago 2007.

P.S.: Imagem retirada do Google Images.

Profissionalização e Segmentação do Turismo: oportunidades de inclusão sócio-cultural


Quem, entre nós, não quer ser, mesmo que por alguns instantes, turista? Mudar de ares, conhecer novos lugares, pessoas e culturas diferentes, satisfazer curiosidades, fazer amigos, experimentar uma outra culinária, quem sabe uma nova paixão? São imensas as possibilidades de relaxar, aventurar-se, entreter-se, realizar desejos e sonhos... Sim, porque é exatamente isso que, pelo menos a maioria das pessoas, quando em viagem de “férias”, busca. Afinal, em muitos casos, são meses, e até anos, de poupança e acúmulo de expectativas até que o fato se concretize.

Por isso, é tão grande a responsabilidade de quem trabalha na atividade turística. O estudo e a prática profissional do Turismo devem ter caráter sistêmico, tendo em vista que a atividade envolve relações ambientais de naturezas diversas e de elevada complexidade: econômicas, políticas, sociais, ecológicas, culturais. Assim, pode-se perceber que seu crescimento depende de uma série de variáveis, as quais devem ser focalizadas mais sob o aspecto qualitativo que quantitativo. Compreender o Turismo como um sistema aberto nos conduz ao entendimento de que, embora a atividade tenha limites de expansão, sua sustentabilidade é sempre possível.

Toda a cadeia produtiva – meios de hospedagem, bares e restaurantes, transportes, comércio, centros artesanais e culturais, postos de informação turística, serviços públicos etc – deve estar devidamente capacitada ao atendimento e satisfação das necessidades dos visitantes, mas deve, prioritariamente, buscar superar suas expectativas, surpreendê-los, de modo que se tornem clientes habituais. Além disso, turistas satisfeitos costumam ser uma das menos dispendiosas estratégias de promoção para um empreendimento e/ou destino turístico.

Não podemos esquecer que uma viagem, desde sua idealização até sua efetivação, envolve um importante processo: a decisão de compra, ou seja, decidir gastar para obter uma satisfação, seja ela material ou imaterial. Cabe aqui uma importante ressalva: a compra de um bem ou serviço turístico tem uma singularidade: sua satisfação é bem mais difícil de mensurar, tendo em vista que o turista está adquirindo algo de forte valor simbólico (mesmo que de natureza tangível) – uma fantasia, um sonho, uma esperança, uma expectativa, às vezes uma ilusão. Saliente-se, também, que a produção e o consumo do produto turístico são simultâneos, não permitindo testes prévios ou devolução. Em virtude disso, requer, da parte do turista potencial, certos cuidados e disponibilidade para renunciar, pois, certamente, algumas de suas vontades ou exigências não poderão ser atendidas, por razões as mais diversas.

Hoje, os clientes são mais exigentes. Visam à aquisição de produtos e serviços de qualidade a preços mais acessíveis. Demandam, cada vez mais, vantagens: custos mais baixos, prazos mais dilatados, “upgrade” de categoria (em hotelaria e na aviação aérea, principalmente), bonificações. Tendo em vista a dinamicidade e a forte competitividade do mercado turístico, as empresas estão em constante adaptação e renovação de estratégias, de modo a desenvolver uma administração de “marketing” competente, que garanta a satisfação dos clientes.

Um dos mais modernos e eficientes conceitos de “marketing”, a segmentação de mercado se mantém como uma forte tendência em tempos de globalização, pois constitui um instrumento poderoso, capaz de fornecer subsídios à percepção e compreensão do mercado: entende-se que os consumidores, reais e potenciais, são diferentes em termos de necessidades e desejos, embora também partilhem hábitos e interesses comuns. É assim que surgem os ditos “nichos de mercado”.

O Turismo é um dos mercados mais segmentados da economia atual, seja em âmbito local, regional, nacional ou global. De acordo com a vocação turística e o poder de atração dos destinos, BENI (2003) destaca as seguintes modalidades de Turismo: de lazer e entretenimento ou recreação, ecológico, ecoturismo, rural, agroturismo, de aventura, hidrotermal (climático e paisagístico), desportivo, cultural, étnico-histórico-cultural, temático, educacional, científico, religioso, de eventos, de negócios, de incentivos, urbano, de megaeventos, de saúde, esotérico ou esoturismo, de vinhos ou enoturismo, de habitação, sexual, alternativo, de jogo ou cassinismo, da melhor idade e, mais recentemente, o virtual.

Oportunamente, gostaria de evidenciar outras possibilidades de prática turística, o turismo especializado para “novos” segmentos de consumo, formados por grupos sociais que, a despeito de toda a evolução cultural por que temos passado em termos de conceitos e valores, permanecem, ainda hoje (mesmo que em escala menor), coagidos socialmente, sendo, muitas vezes, podados de seus direitos. Atualmente, já participam mais livre e espontaneamente do amplo e variado mercado de viagens. Entre eles, estão o Turismo GLBT – gays, lésbicas, transformistas e simpatizantes, o Turismo Naturista (inclusive os admiradores da flora e da fauna, que desejam a observação de pássaros, borboletas, insetos diversos etc, bem como os fotógrafos da natureza), o Turismo “Single” (pessoas sós, que buscam companhia ou novos relacionamentos sociais) e o Turismo para portadores de necessidades especiais, com demanda de espaços, instalações e equipamentos adequados à sua acessibilidade e circulação.

Independentemente de sua especialização, é importante ter em mente que, como atividade de forte impactação socioeconômica, o Turismo demanda, tanto da parte de gestores públicos e privados, quanto dos profissionais envolvidos, um planejamento estratégico amplo, consistente e participativo, enfatizando a formulação de diretrizes de desenvolvimento, para o que é de fundamental relevância a elaboração de um plano integral de “marketing”. Porém, que fique claro: embora tenha se originado com vistas à satisfação das necessidades de mercado, o “marketing” – ou, resumidamente, estudo de mercado - não está limitado a bens materiais de consumo, sendo muito utilizado também para a “venda de idéias”.


Fonte:
BENI, Mário C. Análise Estrutural do Turismo. 8 ed. São Paulo: Editora Senac, 2003. p. 428-439.

P.S.: Imagesn retiradas do Google Images.