sábado, 20 de outubro de 2007

E por falar em flores...


Aproveitando que a primavera já chegou, com todo o seu característico vigor e indiscutível beleza, falemos de flores. Em um primeiro momento, alguns podem até se perguntar: qual a relação entre flores e Turismo? Aparentemente, nada, mas tem tudo a ver. São muitos os destinos internacionais e nacionais em que elas são a motivação turística primária. E nem só para ornamentação servem as flores: hoje, a gastronomia faz amplo uso desse recurso que tem sido considerado atraente não apenas do ponto de vista de seu visual, bastante diverso, como também do paladar.

Nas últimas décadas, o Turismo Gastronômico tem crescido significativamente, em especial no continente europeu, onde já há uma tradição culinária muito forte, a exemplo de Itália, Espanha, Portugal, França e Alemanha. Na América Latina, a gastronomia é um dos mais importantes elementos culturais, de forte cunho identitário. Brasil e México se destacam, pela grande e variada influência de colonizadores e imigrantes: portugueses, espanhóis, japoneses, africanos, indígenas, povos pré-colombianos (como os astecas). Tendo em vista o comprovado incremento do interesse pela culinária local e regional de muitos destinos turísticos, as administrações municipais, estaduais e federal têm investido em sua divulgação, no intento de mais e mais atrair e fidelizar turistas. Aliás, essa tem sido uma das mais relevantes metas do Turismo mundial, mais especialmente do Brasil: aumentar a captação, os gastos e o tempo de permanência dos turistas, favorecendo, desse modo, a arrecadação de impostos, bem como a geração de emprego – direto e indireto - e renda.

No mercado brasileiro, em se tratando de produção e comercialização de flores e plantas, o destaque é a cidade de Holambra, no Estado de São Paulo, conhecida como “cidade das flores”. Com cerca de dez mil habitantes, Holambra tem por base econômica a agropecuária - englobando a horticultura, a citricultura, a produção de laticínios e de produtos derivados de suínos e aves – e o turismo. Sua produção de flores e plantas exóticas é volumosa e de alta qualidade, constando, inclusive, de sua pauta de exportações. Atualmente, há na cidade, aproximadamente, cerca de 100 floricultores ocupando uma área de 106 hectares em estufas, além de cerca de 130 hectares de rosas cultivadas em campo aberto.

Conhecida como estância turística, apresenta uma arquitetura bastante peculiar, de forte influência holandesa, além de um rico e variado calendário de eventos, contando com a participação de brasileiros e estrangeiros, o que tem rendido, para o município e seu entorno, significativos negócios. Seu público é, fundamentalmente, composto por floristas, decoradores, organizadores de festas, “buffets”, promotores de eventos; produtores; atacadistas e distribuidores.

Entre os eventos, ressaltam-se a Exploflora, maior feira no segmento em toda a América Latina, realizada anualmente no mês de setembro; o Enflor (Encontro Nacional de Floristas), o Gardenfair e a Hortitec. Da programação desses eventos, constam atividades como Feira de Acessórios, Flores e Plantas; Congresso para Floristas (Arte Floral e Palestras); Oficinas de Arte Floral; Vitrines de flores e plantas (diversas regiões); Decorações; e Ambientação para festas.

Mas nem só de floricultura e arte floral vive Holambra. O município é sede, também, de eventos esportivos, tais como o Trekker-Trek (competição de arrancada de tratores), a Corrida na Lama (prova individual com obstáculos naturais e artificiais), a Gincana de Charretes (competição em equipes) e a Média Paulista de Ciclismo.

Eventos de cunho religioso, como a Semana Santa, têm lugar especial na Cidade das Flores. A Prefeitura Municipal promove a exposição das 13 Estações da Via Sacra, sendo montados painéis e esculturas gigantescas, em que são utilizados diversos materiais, entre os quais placas de madeira, isopor, tecido, fibra de vidro sintética e tintas especiais. Também a festa natalina é um espetáculo de grande luminosidade, encantamento e beleza em Holambra. A Prefeitura Municipal organiza uma decoração muito bela e divertida. Estruturas em tamanho natural chamam a atenção: Papai Noel Esportivo, Papai Noel do Pólo Norte, Chuva de Neve, Presépio, Casa do Papai Noel, Vila de Natal e Árvore Cantante. Um encantador Desfile de Natal completa a festividade.

Na Bahia, o Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio a Pequenas e Médias Empresas – implementa um importante projeto de promoção do desenvolvimento integrado e sustentável das regiões com potencial para a floricultura tropical e temperada, chamado Cadeia Produtiva de Floricultura . São promovidas ações de capacitação dos produtores, melhoria do processo produtivo, facilitação do acesso à informação tecnológica e formação de associações para a compra de insumos e venda de produtos. Entre os municípios atendidos, vale salientar, por região: Amélia Rodrigues e Mata de São João (Litoral Norte); Valença, Camamu, Nilo Peçanha, Ituberá, Taperoá e Piraí do Norte (Baixo Sul); Ilhéus, Itabuna, Santa Cruz da Vitória e Canavieiras (Sul); Maracás, Jaguaquara, Lajedo do Tabocal e Vitória da Conquista (Sudoeste); Mucugê, Andaraí, Lençóis, Barra da Estiva, Rio de Contas, Bonito, Ibicoara, Piatã, Seabra e Palmeiras (Chapada Diamantina); Morro do Chapéu e Senhor do Bonfim (Piemonte da Diamantina). É o agronegócio expandindo fronteiras, gerando trabalho e renda, promovendo, assim, a inclusão social, um dos pilares da sustentabilidade.

Constata-se que as relações de consumo têm se transformado rápida e radicalmente também no mercado de floricultura: mesmo que em nossa cultura predomine, ainda, o sentido da visão, na atualidade as flores despertam as mais variadas sensações, especialmente a olfativa (muito explorada pela indústria química e de cosméticos) e a gustativa. Graças a elas, muitas cidades descobriram seu potencial turístico, bem como ampliaram sua base econômica. Nesse sentido, a atividade turística se apresenta em diversas modalidades: Turismo de Natureza, Turismo de Observação, Turismo Cultural e Turismo de Saúde, entre outros.

P.S.: Imagens retiradas do Google Images. As fotos das extremidades são da cidade de Holambra.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Festival de Lençóis: Nova Programação

A título de retificação, informamos que o evento está programado para acontecer no período de 24 a 28 de outubro, com atrações musicais de reconhecimento nacional e internacional, tais como Xangai; Lobão; Carlinhos Brown; Isabella Taviani e os sambistas Mariene de Castro, Edil Pacheco e Nelson Rufino. Diversas oficinas serão oferecidas, durante todos os dias do evento: fotografia, pintura, artesanato (em retalhos, em papel, em tecido, em madeira etc), arte em pedra, papel reciclado, fantoches e trilha interpretativa. Sem dúvida, grande oportunidade de diversão e qualificação profissional.

sábado, 13 de outubro de 2007

VOCÊ SABIA?

* Que no dia 27 de setembro se comemora o Dia Mundial do Turismo, com o propósito principal de promover, nas sociedades, a consciência para a importância da atividade turística e de seus valores sociais, cultural, políticos e econômicos?

* Que o Plano Nacional de Turismo – PNT (2007-2010) prevê investimentos de r$ 6,6 bilhões do orçamento federal, além de projetar a geração de 1,7 milhão de novos empregos e a entrada de us$ 7,7 bilhões em divisas para o país?

* Que o Plano Aquarela foi desenvolvido pelo Ministério do Turismo, por meio da Diretoria de Marketing e Relações Institucionais da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), para a promoção de todas as ações de divulgação do país no exterior, servindo de base para as ações de promoção, marketing e apoio à comercialização dos destinos, produtos e serviços turísticos brasileiros nos próximos anos?

* Que o Programa de Regionalização do Turismo é um modelo de gestão descentralizada, coordenada e integrada, que visa transformar a ação centrada na unidade municipal para uma política pública mobilizadora de planejamento e coordenação, com vistas ao desenvolvimento turístico local, regional, estadual e nacional, de forma articulada e compartlhada?

* Que o governo federal brasileiro objetiva, através da regionalização do turismo, ampliar e qualificar o mercado de trabalho, dar qualidade ao produto turístico brasileiro, diversificar a oferta turística, estruturar os destinos turísticos, ampliar o consumo turístico no mercado nacional, aumentar a inserção competitiva do produto turístico nacional no mercado internacional, ampliar o consumo turístico no mercado nacional e aumentar o tempo de permanência e gasto médio do turista nos destinos brasileiros?

*Que foi encaminhado à apreciação do Congresso Nacional, em setembro último, pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, o projeto da Lei Geral do Turismo, objetivando garantir a continuidade e o fortalecimento da Política Nacional do Turismo, bem como a normatização do Plano Nacional do Turismo, além de estabelecer a conceituação do Turismo enquanto atividade econômica e disciplinar a prestação de serviços turísticos e estabelecer as regras para sua fiscalização?

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A Fé que atrai multidões e movimenta milhões


Religião sempre foi tema polêmico. E continua a ser. Prova disso é que muitos conflitos, de pequenas e grandes proporções, como as guerras, são, ainda hoje, “supostamente” travadas em nome de Deus. Muito freqüentemente, convicções religiosas radicalizam-se, surgindo, assim, os fundamentalismos, responsáveis pela destruição irracional de cidades, inclusive as consideradas sagradas, e pela perda lamentável de inúmeras vidas. Para alguns, essa temática é praticamente um tabu, justificando o antigo ditado popular que diz: “Religião não se discute”. Penso ser incompreensível que, a despeito de tamanha evolução econômica, social e cultural por que temos passado, homens ditos civilizados usem de preceitos e dogmas sagrados, que, ao menos teoricamente, visam ao bem-estar geral e à paz, para obtenção e manutenção de poder material. A meu ver, tais atitudes chegam a ser paradoxais e, portanto, injustificadas.

Creio que nunca na história da humanidade foi tão importante, digo imprescindível, a necessidade de fortalecer valores morais e éticos como a tolerância e o respeito às diferenças. Até porque vivemos em um mundo de enorme diversidade, em todos os sentidos: geográfica, política, econômica, étnica, cultural, social. Enfim, somos todos muito diferentes, graças a Deus! Sendo assim, por que não aceitá-las? A meu ver, são essas pequenas e grandes diferenças que valorizam a vida humana, que nos inspiram e incitam a refletir nossas existências e experiências, que nos possibilitam inovar e renovar atitudes e comportamentos. Não podemos perder de vista que a religião é, em sua essência, um traço identitário de um indivíduo ou grupo, compondo, portanto, sua cultura. Para mim, em se tratando de aspectos culturais, deve-se ter bastante cautela ao se fazer comparações, principalmente quando estão em estágios evolutivos significativamente distintos, podendo-se, assim, incorrer em injustiças muitas vezes inconseqüentes e irremediáveis.

Na verdade, essa reflexão de caráter pessoal foi uma breve introdução ao tratamento de um dos assuntos mais caros ao setor do Turismo: o volumoso deslocamento de visitantes e turistas – ditos peregrinos – a diversos destinos turísticos de apelo religioso, seja em datas comemorativas ou não. Esses movimentos configuram os chamados “Roteiros da Fé”, cada vez mais disseminados nacional e internacionalmente. O Turismo Religioso figura como uma das principais modalidades de atividade turística em âmbito mundial, mais especialmente no Brasil, considerado o maior país católico do mundo. A despeito do Catolicismo ser, ainda, a prática religiosa dominante, outras religiões – Islamismo, Judaísmo, Protestantismo, Candomblé, entre outras – costumam atrair milhares de fiéis a seus ”templos”, movimentando vigorosamente as economias locais e regionais, principalmente no que diz respeito ao comércio e prestação de serviços.

Para o Ministério do Turismo brasileiro (Mtur), “O Turismo Religioso configura-se pelas atividades turísticas decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa em espaços e eventos relacionados às religiões institucionalizadas”. Consiste na realização de visitas a locais que expressam sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade nos fiéis. Na prática, são verdadeiros espetáculos de fé e devoção. Ao mesmo tempo em que se presenciam cenas de amor e crença inconteste, capazes de nos causar encantamento, há também cenas dolorosas de flagelação, que nos provocam fortes emoções. São as ambigüidades da interpretação e da prática da fé.

Fora do Brasil, destacam-se: Cidade do México, em função de N. Sra. de Guadalupe, reconhecida como a protetora das Américas; Fátima, em Portugal; Santiago de Compostela, na Espanha; Lourdes, na França; Swieta Lipka, na Polônia; Assis, Roma e Vaticano, na Itália; os mais de 100 mosteiros da Suíça; Jerusalém (Terra Santa), em Israel; Llasa, capital do Tibet, na China, onde vive o Dalai Lama; Meca, na Península Arábica, a mais importante das cidades santas do Islã, onde nasceu o profeta Maomé; Delfos, na Grécia, onde se situa o famoso Oráculo de Delphos, localizado no interior de um templo dedicado ao deus Apolo; Kasi ou Benarés, cidade sagrada da Índia; e, mais recentemente, em virtude da posse do Papa Bento XVI, a cidade de Munique, na Alemanha.

No Brasil, são mais de 50 os destinos religiosos espalhados de norte a sul do país. Entre os mais relevantes, ressaltam: Belém do Pará (PA), onde cerca de dois a três milhões de devotos disputam a corda da berlinda de Nossa Senhora de Nazaré, na famosa festa do Círio de Nazaré; Juazeiro do Norte (CE), onde aproximadamente dois milhões de fiéis celebram, no dia 24 de março, sua fé em Padre Cícero; Nova Trena (SC), que recebe, por ano, 250 mil devotos de Madre Paulina; e Bom Jesus da Lapa (BA), conhecida como a capital baiana da fé, concentra, no mês de agosto, a segunda maior festa religiosa católica do país, com milhares de fiéis, sendo conhecida como Procissão ou Romaria do Bom Jesus. Em função da canonização, pelo Vaticano, de Frei Galvão, conhecido como o protetor das parturientes, Guaratinguetá (SP), sua terra natal, é o mais novo destino de fé do país.

Porém, uma vez que estamos no mês de outubro, vale salientar o principal destino turístico brasileiro de cunho religioso: Aparecida do Norte, na região do Vale do Paraíba (SP), conhecida mundialmente como uma estância turístico-religiosa, onde muitos milhares de fiéis celebram, anualmente, dos dias 03 a 12, a padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, com ricas e emocionantes novenas e missas festivas, celebradas tanto na Catedral-Basílica de Nossa Senhora Aparecida – conhecida como “Basílica Nova” - quanto na Basílica Nacional de Aparecida - dita “Basílica Velha”. Ao ano, são cerca de sete a oito milhões de visitantes. Os devotos usufruem, no Santuário, de uma infra-estrutura turística bastante satisfatória, para o que contam com o Complexo Administrativo e Turístico e o Centro de Apoio ao Romeiro, onde se pratica um amplo comércio para todos os gostos (e bolsos). Há, também, sala de batizados, capela da penitência, sala das promessas, berçário, bazar, museu, galeria de exposições, consultório médico e amplo estacionamento. Muitos também são os meios de hospedagem e estabelecimentos alimentícios distribuídos pela cidade. Até para as crianças (embora não só para elas) há opção de entretenimento: um grande parque de diversões, onde são desenvolvidas atividades lúdicas e culturais.

Aparecida do Norte é uma cidade relativamente pequena, com cerca de 112 Km² e aproximadamente 35 mil habitantes, mas possui um grande patrimônio histórico e cultural, composto de prédios antigos, monumentos, antigos seminários e igrejas, em grande parte de arquitetura marcadamente seiscentista, que merecem uma cuidadosa visita e apreciação. Por ocasião do Carnaval, o município dispõe de retiros espirituais para os que desejam afastar-se das atividades profanas típicas da festa momesca. A cidade é também movimentada pela festa de São Benedito, que ocorre uma semana após a Páscoa, congregando milhares de devotos.

O que se pode constatar é que essa modalidade turística representa importante alavanca econômica, entretanto há que se fazer um permanente acompanhamento da atividade e de seus fluxos, no sentido de evitarem-se as problemáticas comuns da massificação: excesso da capacidade de carga da cidade e seu entorno (com comprometimento da infra-estrutura básica), congestionamentos, incremento da poluição (água, solo, ar), superlotação dos locais de visitação e adoração, além do sempre possível risco de descaracterização da autenticidade cultural local. Mais uma vez, planejamento, organização e consciência crítica são essenciais. Aliás, o que é o Turismo sem tais estratégias?

P.S.: Imagens retiradas do Google Images. Da esquerda para a direita: Meca / Aparecida do Norte / Grécia (Delfos)

domingo, 7 de outubro de 2007

OKTOBERFEST: Turismo de Eventos e Negócios é alternativa à sazonalidade turística



Férias tem sido, praticamente, sinônimo de Turismo de Lazer e Entretenimento. E é evidente, também, a superior demanda dos turistas por destinos de grande riqueza natural, em áreas de litoral ou de campo. Praias, dunas, rios, cachoeiras, cânions, grutas e cavernas, montanhas e serras são importantes motivações ao deslocamento das pessoas que desejam curtir a natureza, relaxar e repor as energias. Mas também constituem ambientes não apenas apropriados, mas bastante convidativos para a prática de esportes, inclusive radicais. Não é à toa que cresce significativamente, em todo o mundo, o interesse por destinos ecoturísticos.

Porém, tais recursos e práticas requisitam condições climáticas favoráveis, de preferência com incidência de sol e brisa, bem típicos do verão e da primavera. Além disso, sabe-se que a atividade turística está fortemente atrelada a determinados períodos do ano, como férias escolares e datas festivas e comemorativas. Então, o que fazer na dita baixa temporada? Empresas de variados ramos de atividade, seja na comercialização de produtos seja na prestação de serviços, buscam uma forma eficaz de compensação para os meses de baixa demanda turística. Elas precisam sobreviver durante todo o ano, pois seus custos - especialmente, os fixos - costumam ser elevados. Então, como manter a empregabilidade, quando a arrecadação despenca? Nem mesmo o incremento na oferta de recursos culturais e históricos tem sido suficiente para reverter as significativas quedas no faturamento das empresas.

De fato, vencer a “sazonalidade” da atividade turística tem sido um dos maiores desafios dos diversos destinos turísticos de todo o mundo, em especial os que têm, no Turismo, sua base econômica, bem como os que têm por alicerce principal a oferta de sol e praia, como é o caso da maioria dos estados brasileiros situados na extensa faixa litorânea do país. Na última década, no Brasil, as modalidades turísticas de Eventos e de Negócios têm se revelado relevantes alternativas, para o que é fundamental investir em qualificação profissional, tecnologia e logística.

A despeito de ser um país tipicamente tropical, sem estações tão bem definidas, o Brasil apresenta sua alta estação concentrada, em geral, no período de verão (de dezembro a março) e nos meses de junho e julho (a depender da região). Porém, sua riqueza histórica e cultural permite formatar um amplo e variado calendário comemorativo. Assim é que as administrações municipais e estaduais investem no reforço de seus calendários festivos locais e regionais, na tentativa de atrair turistas para suas comemorações de caráter religioso, cívico e popular. É muito comum que certos eventos, há pouco tempo restritos, de pequeno porte e de cunho local ou regional, ganhem fama e tornem-se megaeventos, reconhecidos nacional e internacionalmente.

No Brasil, outubro é, sem dúvidas, um mês significativamente propício ao Turismo de Eventos. Um dos eventos de maior expressividade é a Oktoberfest, que acontece anualmente na cidade de Blumenau, no estado de Santa Catarina. Nesse ano de 2007, no período de 04 a 21, ela vive sua 24ª edição. A exemplo de toda a região sul brasileira, a fortíssima influência germânica se faz presente como a motivação maior para a festividade. Os blumenauenses, juntamente com convidados, turistas e curiosos, celebram a vida e as tradições dos imigrantes alemães que ajudaram a construir o país de forma tão diversa e enriquecedora. Porém, essa festa é celebrada também em outras cidades do Sul, tais como Santa Cruz do Sul (RS) e Igrejinha (RS).

A versão brasileira inspirou-se na maior festa da cerveja do mundo, a Oktoberfest de Munique, na Alemanha, iniciada no ano de 1810, por ocasião do casamento do Rei Luis I da Baviera com a Princesa Tereza da Saxônia. Lá, a Oktoberfest se inicia em meados de setembro e termina duas semanas mais tarde, no primeiro domingo de outubro.

Durante todo o evento, popularmente conhecido como “festival do chope”, residentes e turistas desfrutam de diversas atrações: feira cultural e artesanal; apresentações de bandas e grupos folclóricos; desfiles de carros e fanfarras, com a presença da rainha e das princesas; cervejarias (onde se pode beber o famoso “chope em metro”, motivo para competição com direito a premiação) e parque de diversões.

A Oktoberfest possui grande representatividade econômica pra o município e toda a região, o que se pode comprovar por seus impressionantes dados estatísticos: de sua primeira edição, em 1984, até o ano passado, acumulou um público de mais de 15,5 milhões de pessoas, com um consumo superior a nove milhões de litros de chope. São, em média, cerca de 700 mil pessoas por ano, admirando e usufruindo a autêntica cultura alemã: seus trajes típicos, sua música, suas danças, sua culinária, seu folclore. Diante de tais números, pode-se até imaginar o quanto esse evento movimenta a cadeia produtiva de consumo – hospedagem, alimentação, transporte, comunicação, artesanato, comércio etc – aumentando, consideravelmente, a arrecadação tributária.

Sugiro que esse modelo de preservação da autenticidade cultural de um povo sirva de inspiração a diversas manifestações culturais do país, ao contrário do que vem ocorrendo com o Carnaval baiano. Cabe ressaltar, também, a efetividade do Turismo de Eventos e Negócios como alternativa à sazonalidade turística, desde que devidamente planejado, organizado e executado.

Saiba mais sobre a OktoberFest Brasil.






P.S.: Vídeo retirado do YouTube.
P.S.: Imagens retiradas do Google Images.

sábado, 6 de outubro de 2007

Canudos: História, Cultura e Turismo Sustentável.




Para quem não sabe, mas se interessa pela cultura sertaneja, comemora-se, nesse mês de outubro, o 110º aniversário da Guerra de Canudos (1893 – 1897), um dos mais relevantes movimentos sócio-religiosos do país. É o momento de reverenciar seu líder, Antônio Conselheiro, homem de fortes e honestas convicções, que lutou por dignidade e justiça para o povo do Sertão. As bibliotecas do Estado estarão apresentando, para a população, exposições e atividades gratuitas durante todo o mês. Como aluna do curso de Turismo e Hotelaria da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), tive a oportunidade de estar em Canudos por três vezes, acompanhando professores e alunos que desenvolvem um projeto de significativa importância não só para o universo acadêmico e o município, mas para o Estado da Bahia. De nome “A Caminho dos Sertões de Canudos”, esse projeto, idealizado pelos professores Roberto Dantas e Sérgio Guerra, do Departamento de Ciências Humanas do Campus I, em Salvador, visa à implementação de uma política ecologicamente responsável para o setor do turismo na região do entorno de Canudos, o que equivale a dizer que busca o desenvolvimento do turismo sustentável na região. Além de seu caráter histórico-cultural, revela-se de fundamental importância para aquela comunidade que, fortemente carente, padece com os grandes males da atualidade: desemprego, uso de drogas, alcoolismo e prostituição. Na verdade, esse projeto representa um fio de esperança para várias famílias que vêem seus jovens sem grandes perspectivas de futuro, mesmo já tendo concluído seus estudos básicos (fundamental e médio). Para quem deseja se aprofundar no assunto, a literatura já é bastante razoável. O pleno desenvolvimento desse projeto depende, fundamentalmente, da participação e do apoio de órgãos governamentais, de entidades do setor privado e da sociedade civil. Todos podemos colaborar. Certamente que vale a pena, tendo em vista as animadoras possibilidades de recuperação econômica, social e cultural da região e entorno.

P.S.: Filme retirado do YouTube.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A Força Econômica, Social e Cultural do Turismo (3)

Na Bahia, a Secretaria Estadual de Turismo – SETUR (criada pelo atual governo, em dezembro de 2006, fruto do desmembramento da ex-Secretaria de Cultura e Turismo) tem por finalidade o planejamento, a coordenação e a execução das políticas de promoção e fomento ao Turismo. Sua estrutura organizacional se compõe de órgãos da administração direta e indireta. Na primeira, estão duas importantes superintendências: a de Investimentos em Pólos Turísticos - SUINVEST e a de Serviços Turísticos - SUSET, além do gabinete do secretário e da diretoria geral. Na outra, está a Empresa de Turismo da Bahia S/A – Bahiatursa, órgão oficial de Turismo do estado, responsável pela coordenação e execução de políticas de promoção, fomento e desenvolvimento da atividade turística, de acordo com as diretrizes governamentais, para o que conta com importantes parcerias com a administração federal e entidades privadas.

A missão da SETUR é “promover o desenvolvimento responsável e sustentável de áreas de interesse turístico, valorizando e preservando o patrimônio natural e cultural do estado, sempre com foco no desenvolvimento econômico e social das comunidades e respeito aos direitos humanos”. É responsável também pela administração e comercialização do Centro de Convenções da Bahia - CCB, entidade voltada à captação de eventos e à prestação de informações turísticas nas diversas localidades do estado.

O cumprimento de suas metas está atrelado a seus programas, entre os quais merecem destaque: (1) Bahia Qualitur – programa de certificação da qualidade, visando à melhoria da qualidade dos serviços oferecidos aos turistas que visitam o estado; (2) o Programa Fidelidade Bahia – que oferece prêmios e recompensas aos freqüentes visitantes do estado, estimulando seu retorno para conhecimento de novas atrações turísticas existentes; (3) o Portal www.bahia.com.br - portal oficial de turismo do estado, contendo todas as informações necessárias para o planejamento de sua viagem à Bahia; (4) o Programa de Capacitação de agentes de Viagens - que visa ampliar o conhecimento dos agentes de viagens acerca dos destinos turísticos do estado; e (5) o Programa de Regionalização - Roteiros do Brasil, juntamente com o Ministério do Turismo - que pretende transformar ações antes centralizadas nos municípios (em atendimento ao não mais vigente Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT) em “ações de foco regional”, com vistas a dar mais visibilidade aos destinos tanto no cenário nacional quanto no internacional.

Segundo pesquisas realizadas pela EMBRATUR em conjunto com a SETUR, Salvador possui mais de 2,6 milhões de habitantes, e apresenta-se, hoje, como o terceiro destino turístico do Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Tem como os cinco principais países emissores Itália, Estados Unidos, Portugal, Argentina e França; em âmbito doméstico, os principais estados emissores são Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe e Pernambuco. Em âmbito municipal, vinculada à Prefeitura Municipal de Salvador - PMS, é a Empresa de Turismo S/A – EMTURSA, fundada em 1986, o órgão responsável pelo Turismo, com a missão de “fomentar as atividades turísticas, promovendo Salvador como destino nacional e internacional, oferecendo aos visitantes e à comunidade, infra-estrutura e serviço de qualidade, gerando emprego e renda para o município”.

Entre suas competências, destacam-se: (1) Conscientizar a comunidade sobre a importância do turismo para a economia da cidade; (2) Resgatar, promover e proteger os autênticos valores culturais, religiosos, históricos, folclóricos e naturais da cidade do Salvador; (3) Explorar outros potenciais turísticos de Salvador, como: turismo religioso, náutico, cultural, gastronômico, lazer, melhor idade; (4) Estreitar o relacionamento com o “trade” turístico e entidades de ensino superior de turismo; (5) Estabelecer parcerias que viabilizem o aprimoramento da mão-de-obra, melhorando a qualidade dos serviços prestados na cidade. Mas, atualmente, o foco principal desse órgão é o planejamento, a coordenação, o fomento e a execução do Carnaval de Salvador, evento responsável pelo maior fluxo turístico do estado na dita Alta Temporada, concentrada entre os meses de dezembro e março.

Segundo a nova gestão da entidade, as ações prioritárias para o fortalecimento e crescimento do Turismo na cidade do Salvador são: Firmar parcerias e convênios para identificação do perfil e hábitos de consumo dos turistas; Implantar o Projeto Salvador 12 meses, que consiste em realizar ou apoiar grandes projetos ou eventos; Viabilizar parcerias para a revitalização da Península Itapagipana, através da construção de novos hotéis e centro de convenções; Fomentar, junto a investidores, a implantação de hotéis de bandeiras internacionais na cidade; Desenvolver o projeto de pousadas residenciais e viabilizar a implantação do mesmo em parceria com as demais secretarias; Criar parcerias para requalificar a mão-de-obra local; Articular, com demais secretarias, o projeto de revitalização das barracas de praia da orla Urbana; Fomentar a construção de parques temáticos e espaços para shows; Ampliar os postos de informação EMTURSA, especialmente em pontos estratégicos como porto, aeroporto, estação rodoviária; Modernizar o Mercado Modelo, o Elevador Lacerda e o Camping.

Percebe-se que, em termos de intenções, a Bahia e Salvador estão “no caminho certo”. Porém, diante da divulgação de índices econômicos e sociais tão animadores, que os órgãos oficiais insistem em divulgar (com elevados custos, diga-se de passagem) – do tipo “A Bahia cresce mais que a média nacional” - questiono: como se explicam os elevados índices de pobreza no estado? E os assombrosos índices de analfabetismo? E a mais elevada taxa de desemprego do país? Cresceram os investimentos em tecnologia de fiscalização e cobrança de impostos e tributos, mas para onde estão indo estes recursos? A quem tem favorecido essa enorme movimentação financeira? Será que o tão citado “enigma baiano” ( que marcou o início do século XX na Bahia) deixou, algum dia, de existir?

A Força Econômica, Social e Cultural do Turismo (2)

O Ministério do Turismo (MTur) brasileiro tem por missão “desenvolver o turismo como uma atividade econômica sustentável, com papel relevante na geração de empregos e divisas, proporcionando a inclusão social”. Propõe-se a conduzir as políticas públicas com um modelo de gestão descentralizado, orientando-se pelo pensamento estratégico, para o que conta com órgãos de execução, desenvolvimento e promoção da atividade turística, a citar: (1) Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, responsável por executar a politica nacional para o setor, zelando pela promoção interna e pela qualidade da prestação do serviço turistico brasileiro; (2) Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, com atribuição de promover o desenvolvimento da infra-estrutura e a melhoria da qualidade dos serviços prestados; e (3) Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur) que, desde 2003, concentra-se na promoção, no “marketing” e no apoio à comercialização dos produtos, serviços e destinos turísticos brasileiros no exterior.

Caminhando em sua gestão “descentralizada e participativa”, o Governo Federal, buscando tratar a atividade turística como uma prioridade de Estado, lançou o Plano Nacional de Turismo (PNT) 2007-2010, que traduz um trabalho integrado de cooperação e participação entre diversos setores do governo, da iniciativa privada e do terceiro setor, bem como das instituições com assento no Conselho Nacional de Turismo – CNT. Tem como norte o lema maior “Uma Viagem de Inclusão”. Entre seus diversos lemas de base, constam: “Turismo para todos”, “Mais turistas, mais empregos” e “Mais divisas para o Brasil”. Suas grandes temáticas, voltadas a salientar a função social do Turismo, são: Desenvolvimento Sustentável, Desenvolvimento Regional, Preservação do Patrimonio Cultural, Proteção ao Patrimonio Natural e Geração de Empregos. Evidencia-se, assim, sua enorme abrangência teórica, mas, na prática, como andam as coisas? Parece-me haver um significativo descompasso entre o discurso (de primeiríssima qualidade) e a ação (muito incipiente, muito pautada em aspectos políticos, que, em geral, constituem verdadeiros entraves ao desenvolvimento).

Segundo o Mtur, o Turismo já é, atualmente, o quinto principal produto na geração de divisas em moeda estrangeira para o Brasil, disputando a quarta posição com a exportação de automóveis, uma das mais importantes indústrias mundiais. Há notícias de que, no contexto mundial de todas as atividades econômicas já praticadas, incluindo as de caráter ilegal, o Turismo só perde para o narcotráfico e a indústria bélica. Diante de tamanha representatividade, o Governo Lula ressalta que “o sentido mais profundo deste plano é a inclusão social, pois trata de erguer pontes entre o povo brasileiro e as esferas de governo federal, estadual e municipal, bem como da iniciativa privada e do terceiro setor, para construir um lazer que seja também uma visão compartilhada da nossa terra, da nossa gente, da nossa imensa vitalidade econômica, cultural e ambiental”.

Como não poderia deixar de ser, o Turismo faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, lançado recentemente, com propostas de ações, metas e um amplo conjunto de investimentos em infra-estrutura, bem como medidas de incentivo aos investimentos privados, aliados a uma busca de melhoria na qualidade do gasto público. Para o governo, essas ações conduzem para a crescente profissionalização da atividade. Esse é um plano de extrema relevância para o país, o que se verifica, de imediato, por suas metas: (1) promover a realização de 217 milhões de viagens no mercado interno; (2) criar 1,7 milhões de novos empregos e ocupações; (3) estruturar 65 destinos turísticos com padrão de qualidade internacional; e (4) gerar 7,7 bilhões de dólares em divisas. Seu cumprimento, seja a curto, médio e longo prazos, depende de diversos macro-programas e programas, lastreados em parcerias entre as três esferas de governo, entre os quais: planejamento e gestão; informação e estudos turísticos; logística de transportes; fomento à iniciativa privada; infra-estrutura pública; qualificação dos equipamentos e serviços turísticos; promoção e apoio à comercialização; e regionalização do turismo.

Os recursos para implementação desses planos – PNT e PAC – são da ordem dos bilhões, necessários se não para a erradicação do atraso, ao menos para sua minimização. Porém, vale salientar que o problema do Brasil, com relação a recursos, não é de caráter quantitativo (pois nunca se viu no país tamanha arrecadação tributária), mas, sim, qualitativo. O que o país precisa é de uma gestão racional, lastreada em critérios de prioridade estratégica, com vistas à preservação da soberania nacional, ao fortalecimento da cidadania brasileira e à sustentabilidade. Exatamente o que não vem acontecendo há muitas décadas. Tanto é que, devido a uma infra-estrutura deficitária – como, por exemplo, no setor de transportes (rodovias com péssimas condições de tráfego, hidrovias sub-dimensionadas, ferrovias mal-conservadas e insuficientes, carência de mão-de-obra qualificada) – muitos negócios lucrativos deixam de ser efetivados, com enormes prejuízos para o país. Consequentemente, padece o povo, carente de emprego e condições de vida dignas.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A Força Econômica, Social e Cultural do Turismo (1)

Não há, ainda, um consenso sobre a conceituação de Turismo: para alguns, é ciência, com todo o rigor metodológico que ela exige; para outros, uma arte de atrair, conquistar, satisfazer e surpreender clientes; há, também, quem a ele se refira como uma mera atividade ou prática de cunho essencialmente econômico, embora com fortes impactos socioculturais. Independente desse caráter dispersivo que tal discussão tem assumido em âmbito acadêmico, fato é que, especialmente nas últimas duas décadas, atribui-se a ele o poder (excessivo, a meu ver) de reverter as mais sérias crises econômicas que muitas nações têm enfrentado, principalmente a partir da década de 80, quando o processo de globalização - ou mundialização, como preferem os franceses - se consolida de modo irreversível.

Dizem muitos governantes que o Turismo é a “salvação da pátria”. Porém, o que eles costumam “esquecer” é que a atividade turística demanda permanentes investimentos em ampliação e melhoria de infra-estrutura – transportes, energia, comunicações, segurança alimentar, hospedagem, segurança pública e, principalmente, capacitação e qualificação profissional - bem como a modernização da superestrutura local, entendida como todo o aparato constituído pelos sistemas e relações de caráter político, ideológico e jurídico. Decididamente, não dá para brincar de “faz-de-conta”. O exercício da atividade turística requer conhecimento, responsabilidade, compromisso e uma profunda visão estratégica. Estes são requisitos indispensáveis ao alcance dos objetivos e metas que compõem um adequado planejamento governamental.

Analisando a evolução histórica do Brasil, percebe-se claramente o quanto os governantes brasileiros, contando com a nossa conivência implícita e explícita, foram incompetentes e irresponsáveis para com as diretrizes e políticas públicas para o Turismo, o que acabou por comprometer, em décadas, o desenvolvimento da economia nacional. Tanto que se tornou evidente, hoje, o fato de países significativamente mais pobres – não somente em recursos naturais, mas também em tecnologias - que o Brasil, a exemplo do Chile, apresentarem índices econômicos e sociais bem mais estáveis. Esse histórico descomprometimento político, a crescente corrupção e a escassa responsabilidade social de governantes e empresários foram (e continuam a ser) os maiores responsáveis pelo atraso brasileiro.

Durante décadas, nossa publicidade institucional se concentrou nos recursos naturais do país - sua incontestável rica biodiversidade - e, principalmente, na figura da mulher brasileira, preferencialmente nua ou seminua. Essa visão contribuiu significativamente para o empobrecimento da imagem do país, e consequentemente da atividade turística, passando a atrair turistas sem qualquer compromisso com nosso patrimônio material e imaterial. Não é, portanto, à toa que o Brasil desponta como um dos principais destinos mundiais na prática de turismo sexual. Crianças e jovens, indefesos e desprotegidos, são grandes vítimas de exploração sexual comercial e pedofilia. Segundo a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), cerca de um milhão de crianças entram, anualmente, para o mercado do sexo mundial, estando 10% deles concentrados em Brasil, Tailândia e Taiwan. Está constatada sua íntima relação com a pobreza, daí que o enfrentamento desse crime passa, necessariamente, pela solução de nossos mais crônicos problemas estruturais. Essa é uma questão de base: não adianta tratar o efeito, sem que se combatam as causas.

Séculos de concentração de renda e riqueza consolidam desigualdades socioeconômicas e culturais não apenas internamente, mas também externas. Não é a toa que crescem os índices de violência. Situações agudas tornam-se, frequentemente, crônicas e, em algum momento da história, se conformarão insustentáveis. Então, o que fazer? Até que ponto os dados estatísticos divulgados oficialmente e pela mídia massiva (em geral, a serviço dos grandes conglomerados da comunicação) são confiáveis, quando anunciam relevantes índices de crescimento do país? Será mesmo que eles refletem uma realidade brasileira integral ou são situações pontuais, de determinadas cidades, estados ou regiões? Como, por exemplo, comparar Sudeste e Norte, realidades tão distintas, inclusive no que concerne ao aporte de recursos que o Governo Federal destina para as imprescindíveis necessidades de emprego, educação, saúde, transporte, limpeza, segurança etc?