segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A Força Econômica, Social e Cultural do Turismo (1)

Não há, ainda, um consenso sobre a conceituação de Turismo: para alguns, é ciência, com todo o rigor metodológico que ela exige; para outros, uma arte de atrair, conquistar, satisfazer e surpreender clientes; há, também, quem a ele se refira como uma mera atividade ou prática de cunho essencialmente econômico, embora com fortes impactos socioculturais. Independente desse caráter dispersivo que tal discussão tem assumido em âmbito acadêmico, fato é que, especialmente nas últimas duas décadas, atribui-se a ele o poder (excessivo, a meu ver) de reverter as mais sérias crises econômicas que muitas nações têm enfrentado, principalmente a partir da década de 80, quando o processo de globalização - ou mundialização, como preferem os franceses - se consolida de modo irreversível.

Dizem muitos governantes que o Turismo é a “salvação da pátria”. Porém, o que eles costumam “esquecer” é que a atividade turística demanda permanentes investimentos em ampliação e melhoria de infra-estrutura – transportes, energia, comunicações, segurança alimentar, hospedagem, segurança pública e, principalmente, capacitação e qualificação profissional - bem como a modernização da superestrutura local, entendida como todo o aparato constituído pelos sistemas e relações de caráter político, ideológico e jurídico. Decididamente, não dá para brincar de “faz-de-conta”. O exercício da atividade turística requer conhecimento, responsabilidade, compromisso e uma profunda visão estratégica. Estes são requisitos indispensáveis ao alcance dos objetivos e metas que compõem um adequado planejamento governamental.

Analisando a evolução histórica do Brasil, percebe-se claramente o quanto os governantes brasileiros, contando com a nossa conivência implícita e explícita, foram incompetentes e irresponsáveis para com as diretrizes e políticas públicas para o Turismo, o que acabou por comprometer, em décadas, o desenvolvimento da economia nacional. Tanto que se tornou evidente, hoje, o fato de países significativamente mais pobres – não somente em recursos naturais, mas também em tecnologias - que o Brasil, a exemplo do Chile, apresentarem índices econômicos e sociais bem mais estáveis. Esse histórico descomprometimento político, a crescente corrupção e a escassa responsabilidade social de governantes e empresários foram (e continuam a ser) os maiores responsáveis pelo atraso brasileiro.

Durante décadas, nossa publicidade institucional se concentrou nos recursos naturais do país - sua incontestável rica biodiversidade - e, principalmente, na figura da mulher brasileira, preferencialmente nua ou seminua. Essa visão contribuiu significativamente para o empobrecimento da imagem do país, e consequentemente da atividade turística, passando a atrair turistas sem qualquer compromisso com nosso patrimônio material e imaterial. Não é, portanto, à toa que o Brasil desponta como um dos principais destinos mundiais na prática de turismo sexual. Crianças e jovens, indefesos e desprotegidos, são grandes vítimas de exploração sexual comercial e pedofilia. Segundo a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), cerca de um milhão de crianças entram, anualmente, para o mercado do sexo mundial, estando 10% deles concentrados em Brasil, Tailândia e Taiwan. Está constatada sua íntima relação com a pobreza, daí que o enfrentamento desse crime passa, necessariamente, pela solução de nossos mais crônicos problemas estruturais. Essa é uma questão de base: não adianta tratar o efeito, sem que se combatam as causas.

Séculos de concentração de renda e riqueza consolidam desigualdades socioeconômicas e culturais não apenas internamente, mas também externas. Não é a toa que crescem os índices de violência. Situações agudas tornam-se, frequentemente, crônicas e, em algum momento da história, se conformarão insustentáveis. Então, o que fazer? Até que ponto os dados estatísticos divulgados oficialmente e pela mídia massiva (em geral, a serviço dos grandes conglomerados da comunicação) são confiáveis, quando anunciam relevantes índices de crescimento do país? Será mesmo que eles refletem uma realidade brasileira integral ou são situações pontuais, de determinadas cidades, estados ou regiões? Como, por exemplo, comparar Sudeste e Norte, realidades tão distintas, inclusive no que concerne ao aporte de recursos que o Governo Federal destina para as imprescindíveis necessidades de emprego, educação, saúde, transporte, limpeza, segurança etc?

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