terça-feira, 28 de agosto de 2007

Ser Eremita no Capão


Bem, fiquemos, como de costume, com alguns comentários a respeito de uma postagem mais informativa. Como a mais recente se refere às belezas da Chapada Diamantina, creio que se faz necessário tecer algumas palavras sobre aquilo que Dulce chamou de “comunidades esotéricas e alternativas”.
Como estou imerso num âmbito que podemos chamar de alternativo, haja vista que faço parte da comunidade dos estudos em comunicação, possuo algum respaldo para tais próximas assertivas. Aliás, o pessoal de comunicação é bem alternativo, até demais. Pois bem, é um verdadeiro rebuliço o que circunda sobre as maravilhas de ser um vivente no Capão. Logicamente, não estou aqui para atacar as preferências pessoais de cada um. Por outro lado, creio que este estado ermitão de contato com o mundo é algo um tanto passageiro e que confirma não necessariamente uma vida alternativa, mas uma espécie de modismo na cultura alternativa. É sabido que esta ânsia pelo isolamento e contato com a natureza é algo oriundo da moda, ainda presente, do pensamento hippie e toda a sua indumentária ideológico-cultural. De todo modo, este isolamento do contato humano é um tanto exagerado e, até mesmo, não-humano.
O que quero dizer com isso é que a raça humana (para usar uma terminologia eremita) é condicionada ao contato com seus semelhantes. Não agüentamos ficar distantes do calor humano. O distanciamento nos causa esquizofrenia e, em casos extremos, suicídio e profunda melancolia, depressão. Ou ainda, podemos recorrer ao velho preceito romântico-naturalista de Rousseau a respeito do “bom selvagem”. Será mesmo que conseguiríamos nos manter neste estado de isolamento? Creio que não. A assertiva de Rousseau é cabível porque ele considera o homem como um ser a-social, na medida que ele o coloca fora do seio do mundo social. Por outro lado, uma vez que consideramos o indivíduo como um animal intrinsecamente social, ele já nasce imerso no contato com o mundo social.
Pois bem, de qualquer maneira, o que desejo destacar é que se considerar como um eremita no Capão é algo um tanto simples ou até mesmo paradoxal. Simples e paradoxal se complementam, haja vista que o eremita no Capão sempre está em contato com o social, ou seja, ele não fica literalmente isolado na natureza; paradoxal porque, se assim concebemos o eremita do Capão, em fins últimos, não há possibilidade do eremita ser, de fato, um eremita. Aparentemente, isto é complicado, mas, de fato, é muito óbvio o raciocínio. Em suma, creio que não há indivíduos eremitas no Capão.
Por fim, esta nova prática, em busca do contato com a natureza é, muitas vezes, uma justificativa para poder usufruir dos gracejos da sensação de liberdade de fumar um cigarro de cannabis, da liberdade sexual e outros tipos mais de liberdade. Ainda assim, creio que esta vida, dita alternativa, é um tanto engraçada, já que carrega consigo traços marcantes da cultura urbana. Mas, os Estudos Culturais diriam que é exatamente este o ritmo da cultura na contemporaneidade. Global, Local ou Glocal?

P.S.: Imagens retiradas do Google Images.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Chapada Diamantina: o paraíso é aqui.

Não sei ao certo por que, mas senti um desejo repentino de falar de Mucugê. Aliás, da Chapada Diamantina. Esse é, sem dúvida, um dos mais lindos e inspiradores lugares desse planeta (digo isso mesmo não o conhecendo integralmente, mas por imaginá-lo). É, decididamente, o local apropriado para renovar as energias, recuperar o fôlego diante do estresse cotidiano, vencer eventuais episódios de mau humor e desesperança, fortalecer o espírito... Enfim, é demais! Só tenho boas recordações, e elas me bastam, pois lá vivenciei momentos muito aprazíveis e enriquecedores. Na minha memória, estão suas indescritíveis paisagens naturais. Cânions, serras, imensos paredões de rocha, grutas, flores de um colorido riquíssimo, cachoeiras simplesmente maravilhosas (um dos banhos mais deliciosos que já experimentei, apesar da água geladíssima) povoam minhas lembranças, fazendo-me sentir mais e mais vontade de retornar. Além disso, o contato com seu povo, tão acolhedor, revela, mesmo que parcialmente, a riqueza, e ao mesmo tempo, a simplicidade de sua cultura (por mais que isso pareça paradoxal, para alguns). Só vale a pena conhecer a Chapada! E, nela, além de Mucugê, pode-se conhecer também cidadezinhas bem rústicas, como Igatu, e cidades de maior porte e repercussão cultural, como Lençóis.

Na realidade, o que se chama Chapada Diamantina é uma região de serras situada no centro do Estado da Bahia, apresentando uma vegetação exuberante, composta de espécies da caatinga semi-árida e da flora serrana, com destaque para bromélias, orquídeas e sempre-vivas (essa, cabe salientar, uma espécie endêmica). Mas ela nem sempre foi uma imponente cadeia de serras: há cerca de dois bilhões de anos, um imponente conjunto de depressões sofreu a ação de diversos agentes modificadores, como os ventos e as chuvas, que lhe preencheram os espaços, tornando-se elevações de altitudes significativas. Nas ruas e calçadas das cidades da Chapada Diamantina, lajes de superfícies onduladas revelam a ação dos históricos ventos e águas que passaram sobre areais antigos.

Completam-lhe o cenário suas transparentes piscinas naturais e as belas e ruidosas cachoeiras, que se formam do movimento das águas dos rios Paraguaçu, Jacuípe e Rio de Contas. Os dois pontos mais altos da Bahia estão na Chapada: o Pico do Barbado, com 2.033 metros, é o mais alto do Nordeste, e o Pico das Almas, com 1.958 metros. Não é à toa que se diz que, para desbravar esse paraíso ecológico, não podem faltar curiosidade, coragem, espírito de aventura e muito, muito fôlego e preparo físico. Mas é preciso, acima de tudo, muita sensibilidade. Sensibilidade para entender a possibilidade de “explorá-la” sem destruí-la.

A Chapada Diamantina foi, no período compreendido entre a segunda metade do século XIX e a década de 30, uma região, por assim dizer, “explosiva”, comandada pelos coronéis, chefes das tradicionais famílias proprietárias de terras, que disputavam o poder político local. Até hoje, é uma região marcada por grande concentração de renda e, consequentemente, fortes diferenças sociais. Passando da opulência e prestígio – durante o ciclo do diamante e do ouro, no século XIX – ao abandono, em parte do século XX, a Chapada encontra, na atividade turística (mais precisamente, no Ecoturismo), uma excelente alternativa econômica, com possibilidades de desenvolvimento regional, revalorização cultural e inclusão social.

O Parque Nacional da Chapada Diamantina é uma das mais fascinantes unidades de conservação ambiental do Brasil. Abriga uma extraordinária variedade de ecossistemas, como caatinga, mata atlântica, cerrado e campos rupestres. Foi criado, por meio de um decreto federal, no ano de 1985, abrangendo uma área de 152 mil hectares da Serra do Sincorá e seus arredores, incluindo os municípios de Lençóis, Palmeiras, Andaraí e Mucugê (nesta, concentram-se aproximadamente 52% do parque). Suas montanhas e serras abrigam e sustentam variadas espécimes animais: jaguatiricas, onças, mocós, veados, teiús e seriemas estão entre os principais. As cidades situadas ao redor do Parque Nacional revelam, na rica e singular arquitetura colonial de seus prédios, a importância do ciclo do diamante para a riqueza local e para o Brasil, tornado primeiro produtor mundial no início do século XX. Atualmente, é administrado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA), que tem sua sede em Palmeiras. A realização de qualquer passeio ou roteiro, seja qual for a localidade, deve ser solicitada às associações locais de guias de turismo, o que se justifica por razões de segurança e de proteção ao meio ambiente.

A Chapada abriga também, em seus vales e cumes, diversas comunidades esotéricas e alternativas, a exemplo do Vale do Capão. Pequenos e grandes grupos de pessoas movidas por ideais de vida comuns, como o respeito à natureza, através de práticas agrícolas ecologicamente corretas, a utilização de energias limpas e as experimentações com bioconstrução, propagadores do auto-conhecimento, da vida saudável, praticantes de diversas técnicas alternativas - psicoterapias, astrologias, cromoterapia, florais – desenvolvem trabalhos com a medicina natural (à base de ervas), agricultura orgânica e apicultura, consolidando um modo de vida holístico. Destacam-se a Comunidade Lothlorien, fundada em 1984; a Comunidade Campina, fundada em 1990, às margens do Riachinho; a Comunidade Rodas do Arco-Íris, fundada em 1997, de forte inspiração artística: são músicos, capoeiristas, dançarinos, artistas plásticos, poetas.

Indo à Chapada, não deixe de conhecer Xique-Xique de Igatu, intitulada a Machu Picchu baiana, pois suas ruínas se assemelham às ruínas sagradas dos Incas, no Peru. Acredita-se que Igatu foi descoberta, por volta de 1840, por garimpeiros, que fizeram as obras em pedra. Localiza-se no distrito de Andaraí, distante 114 km de Lençóis. Nos tempos do diamante e do ouro, a vila já teve cerca de 15 mil habitantes; conta, hoje, com menos de 500. Sua arquitetura à base de pedras constitui seu principal atrativo. De.Igatu, no alto da Serra do Sincorá, pode-se apreciar grande parte da Chapada Diamantina: vales profundos, chapadões, a variedade de sua vegetação, a cerração matinal. Em seu entorno, estão cachoeiras, grutas, igrejas e até um cemitério. Recomenda-se, para um melhor aproveitamento da visitação aos atrativos, a companhia de um bom guia, para o que não faltam nativos qualificados, alguns deles ex-garimpeiros, memória viva da história local.


Fontes:

www.faced.ufba.br/~nec/capao.html
www.cidadeshistoricas.art.br/chapada
Guia da Chapada

P.S.: Fotos retiradas do Google Images. A primeira delas é o famoso Poço Encantado. A segunda retrata uma bela vista da cidade de Mucugê. A terceira enfoca uma pequena cachoeira em Mucugê. Já a última é a mais famosa paisagem da Chapada Diamantina.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Sideways: um filme para enoturistas


Já que estamos falando sobre enoturismo, considero válido destacar um filme lançado em 2004, do premiado diretor Alexander Payne: Sideways (traduzido para o português como Sideways: entre umas e outras). Bem, apesar de um certo alvoroço que se fez sobre o filme, Sideways é uma comédia que ultrapassa, em larga medida, o mero estado de “filme engraçado norte-americano”. Ainda assim, não creio que o filme seja uma “obra-prima da comédia”, como apontou o New York Daily News.

Logicamente, não estou aqui para resumir a própria história do filme, mas, ainda assim, considero que seja interessante traçar uma breve sinopse. O filme se desenrola a partir de uma viagem entre dois amigos ao redor da Costa Central da Califórnia. Esta viagem, na verdade, se mostra como despedida de solteiro para um deles, o mulherengo Jack (interpretado por Thomas Haden Church). Por outro lado, Miles (Paul Giamatti, o mesmo que protagonizou Harvey Pekar em Anti-herói AmericanoAmerican Splendor: 2003), é um professor de literatura que encontra-se completamente desolado com a separação daquela que fora seu grande amor. E é exatamente este par ambivalente que se junta em prol do prazer da degustação de vinhos pela Califórnia. Obviamente, não seria novidade dizer que quem se coloca como um verdadeiro connaisseur de vinhos é Miles.

Como Baco já disse em outrora: “que venha a verdade com o vinho”. É justamente esta a metáfora que faz a narrativa de Payne ganhar uma interessante tomada. A partir da degustação dos vinhos (e da tentativa de Miles ensinar este ofício para Jack), os dois amigos passam por diálogos que, apesar de cômicos, tentam evidenciar alguma reflexão sobre como é chegar aos quase quarenta anos e estar sozinho no mundo. Sozinho pelo menos em relação à uma companhia amorosa. Enquanto Jack é um conquistador barato, Miles se mostra como um indivíduo romanticamente apaixonado por uma única mulher e que jamais pode se abrir para outros ares, um legítimo amor nostálgico-platônico. Bem, a partir daí, o que efetivamente acontece é ajustamento entre tais individualidades. E aqui, fica patente um certo aspecto de moralidade: de nada adianta ser um indivíduo como Jack, uma vez que esta profusão de relações amorosas é efêmera e o coloca sozinho, mas também não adianta ser como Miles, um indivíduo perdido num amor não-correspondido. Portanto, Sideways é um filme que está inserido naquilo que podemos chamar de uma “tentativa de redenção do sujeito por ele mesmo”.

Por fim, gostaria de ressaltar a bela trilha sonora e a fotografia também está muito razoável. Um filme que deve ser assistido por todo e qualquer turista que anseia conhecer as rotas de vinho da Califórnia, região célebre por suas vinícolas. Ou, ainda assim, é um filme bacana para ser assistido por um grupo de amigos ao bom vinho e fondue. Pena que, para nós (soteropolitanos), isso seja uma prática muito difícil, devido ao calor da cidade.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Enoturismo: as surpreendentes rotas de uvas e vinhos

Pode ser, ainda, uma novidade para muitas pessoas, porém já é uma viva realidade o incremento do chamado Enoturismo no Brasil e no mundo. Trata-se de uma modalidade turística bastante singular, em que a viagem é motivada pela apreciação do sabor e do aroma de uvas e vinhos, bem como do conhecimento e vivência das tradições e costumes de suas localidades produtoras. Atrevo-me a dizer que se trata de um misto de turismo cultural, turismo rural e turismo gastronômico.

A produção de vinho no Brasil está intimamente associada à forte imigração italiana, que trouxe seus hábitos e sua cultura para várias regiões do país. Segundo Sant'Anna (2007), o aumento quantitativo e qualitativo, no Brasil, dos investimentos em pesquisa e a promoção dos produtos nacionais no mercado externo fizeram do país, em setembro de 1995, membro da Organização Internacional do Vinho, órgão que regula as normas internacionais de cultivo e produção do vinho, objetivando o alcance de padrões de qualidade internacional. Foi implementado, também, o programa de Denominações de Origem Controlada, a exemplo do que ocorre nos países europeus, com vistas à atribuição de maior credibilidade aos produtos (e, consequentemente, contribuindo para o aumento de seu consumo). A primeira criada e registrada no Brasil é a Denominação de Origem Vale dos Vinhedos.

Embora, pode-se dizer, incipiente no Brasil (hoje, é o 15º maior produtor mundial da bebida feita a partir da fermentação de uvas), a idéia de transformar o vinho em evento cultural e turístico nasceu na Itália, em 1993, por iniciativa do Movimento de Turismo do Vinho, uma associação italiana que criou a idéia de “Cantina Aberta”, uma jornada promovida por diversos produtores para acolhimento de visitantes interessados na degustação guiada. Seu sucesso foi tamanho, que, em cinco anos, desencadeou a criação do Wine Day, evento de abrangência mundial. Na Itália, são cerca de 600 fazendas que exploram o enoturismo e oferecem visitas guiadas aos vinhedos e à cantina de produção de vinho, além de oferecerem, em alguns casos, hospedagem, alimentação e serviços de lazer e entretenimento. Entre outras regiões que acumulam conhecimento secular no assunto, estão, por exemplo, Vale Leire, na França, e Vale D’Ouro, em Portugal. (ECOLINK, 2007) A Espanha figura também como um dos principais pólos europeus de enoturismo.

Cientes do crescente interesse de apreciadores da bebida no país, as vinícolas investem em infra-estrutura de recepção turística. E a preocupação com a qualidade dos produtos e serviços é enorme, pois, para seus proprietários, o turista de vinho costuma ser de classe A e B, dotados de grande curiosidade por essa cultura. Os roteiros brasileiros se diversificam, ganhando qualidade a cada dia. Os mais expressivos se localizam na Região Sul, com destaque para o Estado do Rio Grande do Sul, especialmente a região serrana, com destaque para os municípios de Bento Gonçalves (a capital brasileira da uva e do vinho, como é mais conhecida), Garibaldi, Monte Belo do Sul e Caxias do Sul. A região do Vale dos Vinhedos concentra a maior parte das vinícolas nacionais – a exemplo de Miolo, Aurora, Casa Amaro, Casa Valduga e Salton - sendo, por isso, o principal destino de enoturismo do país.

Sant'Anna (2007) lembra que, durante os meses de janeiro e fevereiro, acontece a Vindima, época da colheita de uvas, onde são organizadas programações especiais para o acompanhamento de todo o processo produtivo do vinho. É um momento festivo, portanto uma excelente oportunidade para conhecer os vinhedos, saborear variedades diferentes de uvas, entender a influência do clima e conversar com os produtores, “uma viagem imperdível e uma forma de decifrar totalmente a alma da região”.

Fora desse eixo tradicional, e em escala bem menor, destaca-se a região do Vale do São Francisco, próximo às cidades de Juazeiro, na Bahia, e Petrolina, em Pernambuco. Heloísa Bezerra, da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (2006), informa que os curiosos e apreciadores de vinho são os responsáveis pela terceira maior leva de pessoas ao Vale. Os governos municipais e estaduais e os empresários do ramo vêm, em parceria, buscando meios de fomentar o desenvolvimento do enoturismo na região, de tradição agro-pecuária. O problema é que existem alguns relevantes entraves ao incremento do fluxo de turistas ao vale: além da distância em relação aos grandes centros (elevando o custo da viagem), muitas são as dificuldades em garantir a segurança dos visitantes, sobretudo no denominado Polígono da Maconha, composto por municípios em que a produção e o tráfico de drogas geram muita violência.

Há, também, interessantes curiosidades no universo do enoturismo. Uma delas consiste no fato de que há, nos principais roteiros enoturíticos do mundo, uma sinalização específica para os adeptos do vinho, regulamentada pela Convenção Internacional de Placas Indicativas de Enoturismo. O Brasil, por não ser ainda considerado, pelos órgãos públicos internacionais vinculados à sinalização e ao turismo, um país tradicional na Vitivinicultura, não pôde aderir a ela. Mas é apenas uma questão de tempo. Pouco tempo, creio, se considerarmos o significativo crescimento da atividade no país. Entre os indicativos, salientam-se: recepção de grupos, degustação, degustação agendada, visita agendada e tradutores.


Fontes:

BEZERRA, Heloísa. Enoturismo no Vale do São Francisco ainda é incipiente. Disponível em: <http://www.ufpe.br/new/visualizar.php?id=3695> Acesso em: 17 ago 2007.
ECOLINK.IT. Turismo ecológico: Enoturismo. Itália, 2003. Disponível em < idzona="4&idsottozona=" idarticolo="148"> In: http://www.girus.com.br/viagens/conceitos.php?cod_conceito=7 Acesso em: 17 ago 2007.
NOLASCO, Jovino. Enoturismo Brasil. Disponível em: < http://www.enoturismobrasil.com.br/15_sinalizacao_enoturistica.htm> Acesso em: 17 ago 2007.
SANTA’ANNA, Adriano Lins.Enoturismo no Sul do Brasil. Disponível em: http://www.brasilviagem.com/materia/?CodMateria=35 Acesso em: 17 ago 2007.


P.S.: Fotos retiradas do banco de imagens: sxc.hu

domingo, 19 de agosto de 2007

Cresce o investimento, decai o senso de raiz


Cá estamos, mais uma vez, para comentar sobre o processo que move a cultura baiana: a nítida sensação de que estamos de mãos atadas com a raiz da cultura africana. Pois bem, é sabido que, há mais de 200 anos, a Irmandade da Boa Morte dava seus primeiros passos na cidade de Cachoeira na Bahia. Tal emblema da cultura afro-brasileira está se tornando, cada vez mais, um verdadeiro chamariz para o turismo na cidade. É válido ressaltar que, sob a minha compreensão, o turismo étnico é, logicamente, uma espécie de turismo cultural. No entanto, o que mais nos chama atenção para Cachoeira é que o turismo por lá praticado ultrapassa tudo isto e também se coloca como um turismo religioso e que, por outro lado, fornece aos pesquisadores, estudiosos e curiosos algumas possibilidades de contato com a raiz africana. É justamente por isso que o governador da Bahia, Jacques Wagner (PT) e a Ministra do Turismo, Marta Suplicy, firmaram um contrato de incentivo ao turismo étnico em Cachoeira. O contrato está em torno de R$ 1,2 milhão. Obviamente, isto ultrapassa a mera necessidade de um turismo étnico para a cidade. Trata-se, sobretudo, de incentivar o turismo baiano, haja vista que também foi firmado um contrato para revitalizar outras áreas do Pelourinho que estão situadas na região do Carmo. Por sinal, o bairro do Carmo abriga o mais luxuoso hotel de Salvador, o Convento do Carmo (auto-intitulado como Hotel Histórico), cuja diária pode ultrapassar a taxa de R$ 2.500,00. Portanto, podemos perceber que este pacto entre governos estadual e federal em prol do incentivo turístico ultrapassa uma mera questão de incentivar o contato com as raízes culturais.

Além disso, podemos perceber que um dos mais polêmicos representantes da cultura afro-brasileira, Vovô (presidente do Bloco Afro Ilê Ayê), também ficou satisfeito com o acordo, “há uma expectativa criada há muito tempo neste sentido. E as comunidades têm que ser beneficiadas com este tipo de turismo e intercâmbio cultural”. Algo um tanto estranho para este velho guerreiro pela cultura afro-brasileira no estado da Bahia. Obviamente, o que mais me causou estranhamento nas palavras de Vovô foi a noção de um intercâmbio cultural. Será isso mesmo o que acontecerá? Creio que ultrapassaremos isto. Para um defensor da cultura de raiz, Vovô pareceu estar um tanto mais aberto aos novos ares da mundialização. Esquece-se todavia que o freqüente turismo em Cachoeira, tende a minar esta chamada cultura de raiz. Isto é algo inevitável. Muitos dos que procuram estabelecer contato com o candomblé mais roots acabam indo para Cachoeira, com a sensação de que lá é um dos redutos intocados pelo processo de capitalização da cultura. Entretanto, sabemos que não é bem assim. Há um ano e meio, tive contato com um cineasta europeu que ficou em Cachoeira por quase dois anos para produzir seu documentário e não mais retornar àquela cidade. Já não temos mais antropólogos como Pierre Verger. Portanto, fica este pequeno paradoxo: incentivar o turismo étnico para se ter um maior contato com as origens do homem americano. É válido lembrar que este projeto visa, em especial, aos turistas afro-norte-americanos. Algo que também me gerou certo estranhamento, porque, antes mesmo de serem afro, os negros norte-americanos são norte-americanos. O que, no Brasil, infelizmente, não ocorre. O auto-intitulado negro brasileiro, precisa, mais que tudo, mostrar que ele tem raízes africanas, para depois falar de uma brasilidade.

Por fim, Cachoeira se tornará um forte centro de atração de estudiosos e pesquisadores, haja vista que, recentemente, a Universidade Federal do Recôncavo instalou um campus na cidade. A Universidade congrega os cursos de História, Comunicação e Museologia e, mais recentemente, implementou o curso de Ciências Sociais. Obviamente, uma escolha muito acertada. Um campus que congrega somente cursos de ciências humanas e que, por conseguinte, fica difícil destacar um deles, uma vez que todos podem contribuir para a revitalização da cultura afro-brasileira, seja a partir de vídeo-documentários, traçando estudos antropológicos, ou por recuperação histórica e fundando museus. Resta saber se todo este desenvolvimento contribuirá para a preservação desta cultura afro-brasileira quiçá ainda intocada.

Fontes:
Correio da Bahia
Agecom - Assessoria Geral de Comunicação Social do Estado da Bahia

P.S.: Fotos retiradas do Google Images.

Cachoeira e os seus encantos



Cachoeira não é, decididamente, uma cidade comum. Nela, respira-se história, da melhor qualidade. Nem mesmo seus problemas socioeconômicos, comuns a diversos municípios baianos, são capazes de ofuscar suas belezas naturais e sua inegável relevância histórica e cultural. Sua íntima ligação com a cidade de São Félix, de quem está geograficamente apartada pelo rio Paraguaçu, enriquece ainda mais a sua existência. Uma ponte rodoferroviária, construída em ferro e doada ao município, em 1859, por D. Pedro II, também permite o trânsito entre elas. Não é à toa que se costuma chamá-las “cidades-irmãs”.

Cachoeira, que primeiro se denominou freguesia de Nossa Senhora do Rosário da Cachoeira e, depois, Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira do Paraguaçu (segundo município a se instalar no Recôncavo Baiano), compõe, com mais 32 municípios, entre eles Amargosa, Cruz das Almas, Castro Alves, Muritiba, Nazaré das Farinhas, Santo Antônio de Jesus e Muniz Ferreira, a região dita Recôncavo Sul, localizada em uma faixa de terra que contorna a Baía de Todos os Santos, incluindo também os municípios que constituem o denominado Vale do Jiquiriçá, nome de um de seus rios mais importantes, juntamente com os rios Paraguaçu e Subaé.

Sua ocupação inicial se deu por volta do século XVI, tendo a monocultura canavieira de exportação (plantation) como principal responsável por seu processo de formação econômica e social. Em torno do sistema canavieiro-açucareiro, desenvolveram-se na região, o fumageiro, o de subsistência e o pecuário. Foi a expansão da lavoura fumageira e seu beneficiamento industrial, juntamente com a mineração de ouro, que proporcionaram uma mais rápida interiorização da região, e favorecendo, assim, o aparecimento e o desenvolvimento de numerosos núcleos urbanos.

Cachoeira conta, segundo o censo demográfico e social elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2005, com uma população de aproximadamente 32 mil habitantes. Com uma temperatura média oscilando entre 20 e 28ºC, apresenta condições favoráveis de visitação durante o ano todo. Apenas entre os meses de maio e julho, as chuvas são mais constantes, não sendo, porém, empecilho à sua “exploração”.

Partindo de Salvador, seja pela BR 324 ou pela BR 101, duas das mais importantes do Estado da Bahia, percorre-se pouco mais de 100 Km, passando por alguns dos mais conhecidos municípios baianos, como Feira de Santana, Santo Amaro e Maragogipe. Também se chega lá em lanchas e escunas (muitas são as agências de viagens que operam esse tipo de transporte), pelo rio Paraguaçu, navegável de sua foz até Cachoeira. É uma viagem muito agradável, em que se pode usufruir belas paisagens, com áreas de Mata Atlântica e manguezais.

Em Cachoeira, encontram-se também algumas das mais significativas unidades de conservação ambiental do Estado da Bahia: APA (Área de Proteção Ambiental) da Baía de Todos os Santos, APA do Lago de Pedra do Cavalo, Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape, RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) da Peninha e RPPN São Joaquim da Cobonha. Nelas, torna-se cada vez mais freqüente a prática de diversas modalidades turísticas, como o ecoturismo, turismo de aventura, turismo de esportes, turismo rural.

Apesar de sua incontestável riqueza natural, Cachoeira se destaca, nacional e internacionalmente, por seu riquíssimo patrimônio cultural material e imaterial. É também conhecida como “Cidade Heróica”, por sua forte participação no movimento da Sabinada (século XIX). Em 13 de Janeiro de 1997, por meio do Decreto nº. 68.045, Cachoeira foi considerada, pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (IPHAN), “Cidade Monumento Nacional”, graças a seu rico patrimônio arquitetônico e paisagístico, um dos mais importantes da América Latina. É também considerada, pela UNESCO, Patrimônio da Humanidade, por suas riquezas históricas, arquitetônicas e naturais. Depois de Salvador, é a cidade que mais se destaca pelo acervo de construções barrocas: casas coloniais, igrejas e prédios históricos, dos séculos XVII a XIX. Razão pela qual participa, desde 2002, do Programa Monumenta, parceria entre o Ministério da Cultura (MinC) e o Banco Mundial (BID), com previsão de restauro de 327 imóveis.

Agosto é um mês de grande festividade em Cachoeira. É quando os cachoeiranos homenageiam sua padroeira, Nossa Senhora da Boa Morte, com uma grande e secular festa afro-católica, atraindo turistas de diversas procedências, especialmente norte-americanos. A Irmandade da Boa Morte, existente na cidade desde o século XIX, é uma confraria religiosa composta apenas por mulheres negras descendentes de escravas africanas, que atuam na preservação de tradições, valores, ensinamentos religiosos e culturais de seus ancestrais. Trata-se de uma das mais belas manifestações litúrgicas do catolicismo barroco brasileiro, com uma ampla presença processional nas ruas, mesclando religiosidade e rituais profanos, pontuados de muito samba-de-roda e comidas. Muitos são os segredos de seus rituais noturnos, ligados à religião dos orixás – os “santos” do Candomblé - originados dos tempos da escravidão (quando eram proibidos). Conhecidas como “irmãs negras”, todas vinculadas a casas de candomblé de origem jêje-nagô, apresentam-se em belos trajes e jóias, durante os cinco dias de oração e louvor.

Muitas são as possibilidades de prática da atividade turística em Cachoeira e entorno: turismo histórico, cultural, étnico, religioso, rural, aventura, esportes (náuticos), ecológico etc. Entre seus atrativos, destacam-se: o rio Paraguaçu (uma das principais fontes de renda do município, com a extração da argila para artesanato e da atividade pesqueira), a Vila de Belém de Cachoeira (distrito municipal, a 7 km do centro de Cachoeira), a Capela Nossa Senhora da Penha, o Convento São Francisco do Paraguaçu, a Imperial Ponte Dom Pedro II, o Convento e Igreja Nossa Senhora do Carmo e a arquitetura colonial barroca. A culinária, rica e saborosa, também merece atenção especial.

Dentre as manifestações festivas, vale salientar: a Festa de Aniversário da cidade (13 de março), Semana Santa (abril), Festa do Divino (maio), São João/Feira do Porto (21 a 26 de junho), Festa de São Cosme e Damião (27 de setembro), Festa de Nossa Senhora do Rosário (1ª quinzena de outubro), Festa de Nossa Senhora D'Ajuda (1ª quinzena de novembro), Festa de Santa Cecília (2ª quinzena de novembro) e Festa de Santa Bárbara (4 de dezembro). São igualmente relevantes as manifestações folclóricas, como o Samba de roda, o Bumba-meu-boi, a Esmola Cantada e a capoeira.

P.S.: Vídeo retirado do You Tube.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Ó paí, ó: uma baianidade "for export"


Uma vez que a última postagem se refere propriamente a Salvador e, além disso, Dulce nos forneceu a deixa para falar sobre a tão conturbada e polissêmica noção de baianidade, sinto-me conduzido pela maré, como todo bom soteropolitano, a falar algumas coisas a respeito de tal problemática. E, como estamos imersos num blog sobre turismo, nada mais cabível que elencar um ícone cinematográfico que bem espelha, não completamente, a baianidade que exportamos para o mundo. Tal referência está inscrita no filme mais recente de Monique Gardenberg, “Ó paí, ó”, que conta com a produção e participação de Lázaro Ramos.

Pois bem, não me atenho, nestas entrelinhas, a comentar os aspectos propriamente fílmicos desta película, ou seja, a narrativa enveredada por Gardenberg. De todo modo, arrisco-me dizer que é um filme sem um enredo e trama amarrados, uma multiplicidade de personagens que, por conseguinte, deixa a narrativa solta e perdida. Em relação à história do filme, ou, em termos cinematográficos, à fábula, ela não nos diz muita coisa, apenas espelha, ou tenta exprimir, alguns estereótipos acerca do povo baiano. Estereótipos esses que são a alegria do baiano, o negro forte e destemido conquistador (a gíria atual baiana para isso é “putão”), o candomblé como religião oficial da Bahia, a ridicularização da religião evangélica, a própria histeria das pessoas que moram no Pelourinho, o excessivo apelo erótico-sexual, o Carnaval... No entanto, Gardenberg tenta mostrar a não-submissão do negro perante ao branco, o lado da pobreza destes citadinos soteropolitanos (que não é muito focada) e, por fim, a própria violência nos arredores financeiramente desprivilegiados da cidade.

A questão que se faz muito forte é a confirmação de estereótipos, sejam eles considerados positivos ou negativos. Obviamente, o cinema trabalha com a estereotipagem. Mas, ainda assim, quando a proposta, e ao que me parece é esta em “Ó paí, ó”, é de ruptura com estereótipos, podemos considerar que o citado filme malogra em seu intento. A baianidade que é evidenciada no filme, para além das questões já citadas, é uma visualização dos panfletos e folders que os órgãos oficiais baianos de turismo exportam. “Venha para a Bahia e você se sentirá em casa com esta grande hospitalidade, com o vigor do povo negro...”.

Entretanto, para o soteropolitano, a questão acerca da baianidade não se resume a isto. Como já fora apontado, ela é um tanto polêmica e múltipla. O discurso da baianidade porta consigo múltiplas vozes. Atenho-me à noção da cultura negra de raiz (ou melhor, o que é cultura de raiz?!). Apesar de pregar um discurso da multiplicidade de raças e da ampla aceitação, o que podemos perceber é que toda esta multiplicidade está circunscrita, majoritariamente, na figura da cultura negra, que já não é, há muito tempo, raiz. Uma coisa precisa ficar clara para nós, soteropolitanos e turistas, antes de ser uma cidade da dita cultura negra, Salvador está imersa num país que se chama Brasil e que possui raízes para além das africanas. A Cidade da Bahia já criou suas raízes há um bom tempo. A Salvador em que nascemos é híbrida, desde sua gênese, e isto, para qualquer cultura, é algo primoroso.

Por fim, a questão da baianidade é hoje, para mim, uma questão de mero discurso. Logicamente, esta noção é útil para diversos discursos, desde o Movimento Negro (muito forte na cidade) até as agências de viagem. O palco desta batalha é um caminho muito interessante de ser percorrido e assistido, todavia, não me intrometo a perambular sobre ele. Comentar sobre a ratificação de estereótipos no filme de Gardenberg é um recurso para falar como muitos dos soteropolitanos adoraram esta película e passaram a usar esta gíria popular nos diversos grupos sociais de Salvador. Portanto, o filme ultrapassa uma mera representação.


P.S.: Imagens retiradas do Google Images. À esquerda o cartaz do filme; à direita, um óleo sobre tela de um Pelourinho pretérito.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

E falando de Salvador...


Salvador é, inegavelmente, uma cidade, ao menos do ponto de vista geográfico, privilegiada. E linda...linda de viver! A ela se chega por terra, água e mar, e logo se percebe sua grandiosidade. Salvador possui um forte poder de sedução, começando por oferecer um clima bastante agradável. Há quem a considere um lugar exótico, verdadeiramente único, pois, nela, pode-se morar e sentir-se estrangeiro, ser turista e sentir-se nativo. Há também quem diga que, a cada esquina, é possível encontrar uma surpresa. Especialmente durante o verão, quando, parece, nossos sentidos se aguçam, a cidade fica mais iluminada, dinâmica, alegre.

Debruçada sobre a Baía de Todos os Santos, a segunda maior do país, em pleno Recôncavo Baiano, Salvador revela sua magnitude não apenas em sua riqueza natural, mas, essencialmente, em sua diversidade racial e cultural. Oficialmente fundada em 29 de março de 1549, foi a capital brasileira durante 214 anos, quando, em 1763, assumiu o posto a cidade do Rio de Janeiro. O que, ressalte-se aqui, não ofuscou seu brilho nem extraiu sua importância para o país. 458 anos decorreram desde sua fundação, conformando-se como um dos mais importantes destinos turísticos brasileiros, ainda não plenamente explorada, tamanha a riqueza de seus atrativos e atrações turísticas, com ênfase para sua arquitetura bastante singular.

Sua atratividade se justifica pela grande e variada oferta de bens e serviços, como praias; parques; igrejas; terreiros; museus; praças; monumentos e prédios históricos; faróis; teatros; cinemas; mercados e feiras; bares, lanchonetes, delicatessens e restaurantes; shoppings centers; ruas, avenidas e ladeiras, cujos assoalhos, muitas vezes de pedras, falam, por si mesmos, de sua história, das muitas influências e das lutas travadas em nome de sua construção, preservação e posse. E, em especial, ressalta aos olhos uma característica que lhe é bem peculiar: nela, duas cidades, a alta e a baixa, embora com características bem distintas, encontram sua interseção em um de seus mais famosos pontos turísticos, o Elevador Lacerda, de grande beleza e funcionalidade.

E o que falar do povo baiano? É praticamente uma unanimidade a admiração que se tem por ele, graças a sua força, alegria e criatividade. Não é à toa que tanto se fala nessa tal de “baianidade”, que, curiosamente, causa tanta polêmica entre os estudiosos – antropólogos, sociólogos, filósofos, psicólogos etc – e que muitos de nós nem ousa tentar definir, até mesmo por não sabê-lo. O fato é que, para quem já teve a oportunidade de conhecer os diversos cantos e recantos desse país, há, sim, algo de diferente no povo da Bahia.

Salvador, que já foi conhecida como Vila do Pereira (em alusão ao primeiro donatário da Capitania da Bahia, Francisco Pereira Coutinho), Vila do Porto da Barra e Vila Velha, surgiu como um pequeno comércio próximo à única praia, à época, com condições naturais para a aproximação de embarcações, a enseada do Porto da Barra. Porém, foi o trecho que vai da atual Praça Castro Alves até a Praça Municipal, o plano mais alto do sítio, o escolhido para sediar a construção da “cidade fortaleza”. Foi a Avenida Sete de Setembro (ou, simplesmente, Avenida Sete), com cerca de 5 Km de extensão, um dos principais vetores de expansão da cidade, promovida, no século XIX, pelos ingleses. Começava, então, a mudar o conceito de moradia em Salvador e, assim, foram surgindo alguns dos mais nobres bairros da cidade, tais como Barra, Graça e Vitória.

A cidade de Salvador é tombada como Patrimônio Histórico da Humanidade, figurando, em âmbito mundial, entre as cidades que melhor preservam o seu patrimônio, integrando a Organização das Cidades do Patrimônio Histórico Mundial. O patrimônio histórico de Salvador, que reúne casarões, prédios, sobrados, capelas, igrejas, basílicas, palácios, palacetes, parques, terreiros de candomblé e solares, além da azulejaria portuguesa e relíquias em metais preciosos, é considerado o maior conjunto arquitetônico colonial da América Latina, tombado pela UNESCO em 1985, com quase 3.000 imóveis dos séculos XVII, XVIII e XIX, constituindo, assim, um documento vivo da história do Brasil colonial.

Apesar de toda essa opulência histórica, religiosa, cultural e econômica, e ser a capital do Estado da Bahia, uma das mais significativas economias nacionais (sem dúvdas, a mais consistente do Nordeste Brasileiro), Salvador padece, já há algumas décadas, a exemplo das principais metrópoles do país, de graves problemas sociais: desemprego, pobreza, fome, violência, preconceitos, entre muitos outros. A despeito de sua imensa produção industrial e cultural, e do incremento das atividades comerciais e de serviços, com o conseqüente aumento da arrecadação tributária, a elevada concentração de renda e riqueza faz perpetuar as crônicas desigualdades sócio-econômicas. Contribui, também, para essa situação bastante preocupante a precariedade da gestão administrativa e política do município e do Estado (como se já não bastassem as deficiências em nível federal).


Fontes:
Emtursa

Secretaria da Cultura da Bahia

P.S.: Imagens retiradas do Google Images. No lado esquerdo, temos a visualização da Cidade Alta e da Cidade Baixa. Já à direita, temos a imagem de uma Salvador pretérita.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Contemplando a evolução


“Quem vive de passado é museu”. Esse ditado, frequentemente utilizado em referência ao que se costuma, especialmente em algumas sociedades como a brasileira, designar “velho”, nunca se revelou tão inapropriado como nos dias atuais. Museu é história, portanto é vida: passada, presente e futura. Afinal, o que é um passado senão um presente já findado? A relação do homem com o tempo é algo especial, que demanda muitas reflexões. Talvez, mesmo, o tempo seja o que há de mais relativo na existência humana.

Encontram-se, nos museus, referências diversas – de estilos de vida, de modos de trabalho, de relações humanas, de evolução socioeconômica e cultural, de criação artística e intelectual – de grande relevância para o desenvolvimento integral das sociedades. Ao se livrarem do pesado estigma que os envolve, os museus ocuparão seu merecido espaço como importante elemento de educação, pode-se dizer, cidadã e sustentável.

Em geral, no Brasil, a despeito do fortalecimento do Turismo Cultural, os museus são pouco visitados. Assim como são igualmente pouco discutidos. Embora muitos pensem serem os museus espaços estáticos, monótonos, até mesmo não-atrativos, o fato é que há, neles, uma dinâmica espaço-temporal indiscutível. Lidar com museus requer certa dose de sensibilidade e paciência, além de forte interesse por cultura. Museu é lugar de contemplação, de fruição do belo, de êxtase, de envolvimento, de encontro do homem consigo mesmo. Apreciar um museu é, como muitas de nossas atitudes, uma questão de hábito. Daí a importância de se ampliar o acesso, especialmente de crianças, adolescentes e jovens adultos, ainda em fase escolar, a essas instituições.

Os primeiros museus foram concebidos e criados pela elite dominante - colecionadores, grandes senhores e soberanos -, imbuídos do intuito de reunir o maior número possível de objetos e obras raras, curiosas, ricas e memoráveis, de modo que, por intermédio deles, reafirmassem seu poder. Por muito tempo, os museus se destinaram, quase que exclusivamente, à preservação do passado, dos interesses e da memória dessas classes dominantes. (MACHADO, 1998).

Foi apenas nas primeiras décadas do século passado que a concepção e a atuação dos museus iniciaram uma perceptível e necessária mudança, em consonância com as significativas transformações por que vinha passando o mundo, crescentemente globalizado e tecnológico. O conceito mundialmente aceito de museu, na atualidade, foi elaborado ainda na década de 70 pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM), organismo ligado à UNESCO (Organismo das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura): “O museu é uma instituição permanente, aberta ao público, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, que adquire, conserva, pesquisa, expõe e divulga as evidências materiais e os bens representativos do homem e da natureza, com a finalidade de promover o conhecimento, a educação e o lazer.” (ICOM, 2001).

Nos dias atuais, numa sôfrega tentativa de “concorrer” com a enorme diversidade de mídias, especialmente a eletrônica, praticamente hegemônica em termos de atratividade, os museus devem se configurar como agências de socialização, de modo a permitir a (re)introdução de pessoas na cultura de uma sociedade. Porém, como tudo tem seu preço, alguns cuidados são imprescindíveis, pois, segundo Machado (1998), “alguns museus, tentando reagir à marginalização, cometem grandes exageros no seu afã de modernizar-se a todo custo, correndo o risco de perder a sua própria identidade, acabando por dissolver-se na geléia geral da indústria cultural. Museus não podem ser supermercados culturais. Museus não podem fazer qualquer coisa para atrair público.”.

Referências:
MACHADO, Mário Brockmann. Os museus. In : WEFFORT, Francisco & SOUZA, Mário (orgs). Um olhar sobre a cultura brasileira. Rio de Janeiro: Associação dos Amigos da Funarte, 1998.
ICOM (International Council of Museuns). What is ICOM. Paris, França: agosto de
2001. Disponível na World Wide Web .



P.S.: Imagem do British Museum retirada do Google Images.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Corredor de Museus



Bem, como primeira postagem deste blog, cremos que seja necessário abordar um dos pontos mais belos da Cidade do Salvador. Além desta ligação com a cidade, haja vista que somos soteropolitanos, o Corredor da Vitória é um espaço que congrega alguns dos mais belos museus da cidade. Conhecido por sua opulência arquitetônica e até mesmo urbanística, o Corredor da Vitória, esta pequenina extensão que liga Graça e Barra ao centro da cidade, se configurou como um espaço que aloca uma das camadas mais nobres da sociedade soteropolitana. Concomitantemente, este é um espaço que também abriga o Circuito Osmar do famoso Carnaval de Salvador da Bahia.

De tal maneira, este espaço, que pode ser percorrido tranqüilamente a pé ao longo de toda a sua extensão, nos contempla com três importantes museus: Museu Geológico da Bahia, Museu de Arte da Bahia e o Museu Carlos Costa Pinto. Dentre os três citados, o de maior notoriedade para qualquer turista é, sem sombra de dúvidas, o Carlos Costa Pinto. Isto se justifica por um simples motivo: neste museu de propriedade particular, encontramos um acervo que é único no globo - as jóias dos escravos, conhecidas como balangandãs. É algo que circula entre os adeptos de museu que até mesmo o diretor do Louvre veio a Salvador e quis comprar esta coleção de balangandãs, haja vista que, segundo o mesmo, era algo de maravilhoso e realmente diferente. Ao que parece, o proprietário local não quis vender suas peças. Algo que só corrobora a nossa felicidade e do próprio brasileiro. Bem, já o Museu de Arte da Bahia é um espaço que possui um dos acervos de móveis mais belos da Cidade do Salvador, isto fica patente desde a sua porta, que é um verdadeiro monumento artístico. Além disso, ele conta com exposições constantes no seu piso inferior. Em relação ao trabalho com madeiras, podemos afirmar, sem hesitação, que o Museu de Arte da Bahia é um espaço privilegiado. Por último, o Museu Geológico da Bahia está se confirmando com um museu que não deixa a desejar dentro da sua área quando comparado com outros ao redor do planeta. Além de possuir um acervo sobre pedras, mineração e história, o Museu Geológico está se confirmando como um local excelente para estudantes da área e também como forma de entretenimento. Isso acontece porque lá funciona uma sala de cinema que integra o famoso Circuito Sala de Arte de Salvador. Então, além de poder fazer uma visitação ao Museu, o turista tem a opção de assistir a um filme após a visitação.

Por último, é válido destacar que o Corredor da Vitória é um espaço que possui diversos pontos atrativos. Aberta recentemente, no início do Corredor (sentido Barra - Centro), a doceria Doces Sonhos é um espaço que prima pela qualidade de seus bolos, tortas, doces e salgados, além de um ótimo atendimento. O Corredor da Vitória também é conformado por centros culturais muito próximos, como a Alliance Française, que também possui uma sala de cinema do Circuito Sala de Arte; o Goethe-Institut; os teatros Castro Alves, Vila Velha e Acbeu, além de lanchonetes, bares e restaurantes, em que o destaque vai para o Mai Thai. Este é um espaço que possui uma vista privilegiadíssima (o cliente observa a extensão da Baía de Todos os Santos) e que conta com os serviços de bar e restaurante. A única questão é que não se trata de um espaço gastronômico tão barato, mas, vale como dica para aqueles que possuem uma reserva maior. Além de tudo isso, no próprio Corredor, aquele turista que gosta de percorrer os locais citadinos, ou até mesmo o viajante, pode caminhar em direção ao centro de Salvador e, rapidamente, terá acesso a outros museus, de semelhante beleza, como o de Arte Sacra da Bahia, o da Santa Casa de Misericórdia, do próprio Pelourinho, da Galeria Pierre Verger, entre outros pontos mais.


Horário de funcionamento dos Museus:

- Museu Carlos Costa Pinto
Funcionamento: Segunda a Sábado das 14h30min às 19h (exceto às Terças-feira, Domingos e Feriados).
Endereço: Av. 7 de Setembro
Bairro: Vitória
Cep: 40080.001
Tel: (71) 3336-6081 / 3336-2701
Fax: 3336 2702 (Fax)
E-mail: mccp@museucostapinto.com.br
Site: www.museucostapinto.com.br


- Museu de Arte da Bahia
Funcionamento: Ter. a Sex. das 14h às 19h; Sáb e Dom das 14h30 às 18h30.
Endereço: Av. Sete de Setembro
Bairro: Vitória
Tel: (71) 3117 6903 / 6902
E-mail: mab@ipac.ba.gov.br
Site: www.funceb.ba.gov.br/mab


- Museu Geológico da Bahia
Funcionamento: Terça a Sexta das 13h30min às 18h; Sabado e Domingo das 13h às 17h
Endereço: Av. Sete de Setembro - Corredor da Vitória
Bairro: Vitória
Tel: (71) 3336-6922 / 3498
E-mail: hsampaio@mgb.ba.gov.br


Links Úteis:

- Emtursa: www.emtursa.ba.gov.br
- Bahiatursa: www.bahiatursa.ba.gov.br


P.S.: Foto do Corredor da Vitória, em 1929, imagem retirada do Google Imagens.

Gênesis


Este blog foi desenvolvido com o intuito primeiro de trazer informações a respeito de atrações e atrativos turísticos ao redor do Brasil. Num primeiro momento, disponibilizaremos algumas noções básicas e, logo após, traremos um texto mais analítico sobre o objeto da postagem. Bem, além destes dois pontos, traremos à tona debates sobre as situações que estão ao redor das temáticas do turismo, a exemplo dos transportes, o próprio ecossistema e, principalmente, o enfoque cultural. Blog criado por Maria Dulce Bulcão e Victor Scarlato.

P.S.: Imagem retirada do Google Images.