segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Contemplando a evolução


“Quem vive de passado é museu”. Esse ditado, frequentemente utilizado em referência ao que se costuma, especialmente em algumas sociedades como a brasileira, designar “velho”, nunca se revelou tão inapropriado como nos dias atuais. Museu é história, portanto é vida: passada, presente e futura. Afinal, o que é um passado senão um presente já findado? A relação do homem com o tempo é algo especial, que demanda muitas reflexões. Talvez, mesmo, o tempo seja o que há de mais relativo na existência humana.

Encontram-se, nos museus, referências diversas – de estilos de vida, de modos de trabalho, de relações humanas, de evolução socioeconômica e cultural, de criação artística e intelectual – de grande relevância para o desenvolvimento integral das sociedades. Ao se livrarem do pesado estigma que os envolve, os museus ocuparão seu merecido espaço como importante elemento de educação, pode-se dizer, cidadã e sustentável.

Em geral, no Brasil, a despeito do fortalecimento do Turismo Cultural, os museus são pouco visitados. Assim como são igualmente pouco discutidos. Embora muitos pensem serem os museus espaços estáticos, monótonos, até mesmo não-atrativos, o fato é que há, neles, uma dinâmica espaço-temporal indiscutível. Lidar com museus requer certa dose de sensibilidade e paciência, além de forte interesse por cultura. Museu é lugar de contemplação, de fruição do belo, de êxtase, de envolvimento, de encontro do homem consigo mesmo. Apreciar um museu é, como muitas de nossas atitudes, uma questão de hábito. Daí a importância de se ampliar o acesso, especialmente de crianças, adolescentes e jovens adultos, ainda em fase escolar, a essas instituições.

Os primeiros museus foram concebidos e criados pela elite dominante - colecionadores, grandes senhores e soberanos -, imbuídos do intuito de reunir o maior número possível de objetos e obras raras, curiosas, ricas e memoráveis, de modo que, por intermédio deles, reafirmassem seu poder. Por muito tempo, os museus se destinaram, quase que exclusivamente, à preservação do passado, dos interesses e da memória dessas classes dominantes. (MACHADO, 1998).

Foi apenas nas primeiras décadas do século passado que a concepção e a atuação dos museus iniciaram uma perceptível e necessária mudança, em consonância com as significativas transformações por que vinha passando o mundo, crescentemente globalizado e tecnológico. O conceito mundialmente aceito de museu, na atualidade, foi elaborado ainda na década de 70 pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM), organismo ligado à UNESCO (Organismo das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura): “O museu é uma instituição permanente, aberta ao público, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, que adquire, conserva, pesquisa, expõe e divulga as evidências materiais e os bens representativos do homem e da natureza, com a finalidade de promover o conhecimento, a educação e o lazer.” (ICOM, 2001).

Nos dias atuais, numa sôfrega tentativa de “concorrer” com a enorme diversidade de mídias, especialmente a eletrônica, praticamente hegemônica em termos de atratividade, os museus devem se configurar como agências de socialização, de modo a permitir a (re)introdução de pessoas na cultura de uma sociedade. Porém, como tudo tem seu preço, alguns cuidados são imprescindíveis, pois, segundo Machado (1998), “alguns museus, tentando reagir à marginalização, cometem grandes exageros no seu afã de modernizar-se a todo custo, correndo o risco de perder a sua própria identidade, acabando por dissolver-se na geléia geral da indústria cultural. Museus não podem ser supermercados culturais. Museus não podem fazer qualquer coisa para atrair público.”.

Referências:
MACHADO, Mário Brockmann. Os museus. In : WEFFORT, Francisco & SOUZA, Mário (orgs). Um olhar sobre a cultura brasileira. Rio de Janeiro: Associação dos Amigos da Funarte, 1998.
ICOM (International Council of Museuns). What is ICOM. Paris, França: agosto de
2001. Disponível na World Wide Web .



P.S.: Imagem do British Museum retirada do Google Images.

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