terça-feira, 28 de agosto de 2007

Ser Eremita no Capão


Bem, fiquemos, como de costume, com alguns comentários a respeito de uma postagem mais informativa. Como a mais recente se refere às belezas da Chapada Diamantina, creio que se faz necessário tecer algumas palavras sobre aquilo que Dulce chamou de “comunidades esotéricas e alternativas”.
Como estou imerso num âmbito que podemos chamar de alternativo, haja vista que faço parte da comunidade dos estudos em comunicação, possuo algum respaldo para tais próximas assertivas. Aliás, o pessoal de comunicação é bem alternativo, até demais. Pois bem, é um verdadeiro rebuliço o que circunda sobre as maravilhas de ser um vivente no Capão. Logicamente, não estou aqui para atacar as preferências pessoais de cada um. Por outro lado, creio que este estado ermitão de contato com o mundo é algo um tanto passageiro e que confirma não necessariamente uma vida alternativa, mas uma espécie de modismo na cultura alternativa. É sabido que esta ânsia pelo isolamento e contato com a natureza é algo oriundo da moda, ainda presente, do pensamento hippie e toda a sua indumentária ideológico-cultural. De todo modo, este isolamento do contato humano é um tanto exagerado e, até mesmo, não-humano.
O que quero dizer com isso é que a raça humana (para usar uma terminologia eremita) é condicionada ao contato com seus semelhantes. Não agüentamos ficar distantes do calor humano. O distanciamento nos causa esquizofrenia e, em casos extremos, suicídio e profunda melancolia, depressão. Ou ainda, podemos recorrer ao velho preceito romântico-naturalista de Rousseau a respeito do “bom selvagem”. Será mesmo que conseguiríamos nos manter neste estado de isolamento? Creio que não. A assertiva de Rousseau é cabível porque ele considera o homem como um ser a-social, na medida que ele o coloca fora do seio do mundo social. Por outro lado, uma vez que consideramos o indivíduo como um animal intrinsecamente social, ele já nasce imerso no contato com o mundo social.
Pois bem, de qualquer maneira, o que desejo destacar é que se considerar como um eremita no Capão é algo um tanto simples ou até mesmo paradoxal. Simples e paradoxal se complementam, haja vista que o eremita no Capão sempre está em contato com o social, ou seja, ele não fica literalmente isolado na natureza; paradoxal porque, se assim concebemos o eremita do Capão, em fins últimos, não há possibilidade do eremita ser, de fato, um eremita. Aparentemente, isto é complicado, mas, de fato, é muito óbvio o raciocínio. Em suma, creio que não há indivíduos eremitas no Capão.
Por fim, esta nova prática, em busca do contato com a natureza é, muitas vezes, uma justificativa para poder usufruir dos gracejos da sensação de liberdade de fumar um cigarro de cannabis, da liberdade sexual e outros tipos mais de liberdade. Ainda assim, creio que esta vida, dita alternativa, é um tanto engraçada, já que carrega consigo traços marcantes da cultura urbana. Mas, os Estudos Culturais diriam que é exatamente este o ritmo da cultura na contemporaneidade. Global, Local ou Glocal?

P.S.: Imagens retiradas do Google Images.

3 comentários:

Anônimo disse...

eu acho que é um pouco superficial e ingênuo conceituar uma forma "alternativa" de viver de moda, mas concordo na impossibilidade e improbabilidade de se viver isoladamente.

Anônimo disse...

Caro Wladimir,

Então, como seria profícuo classificar este apelo ao Capão, por exemplo? Você realmente acha que aquilo é um estilo de vida que ultrapassa a febre do "sou natural" tão em voga atualmente? Em relação à superficiliadade, não posso, infelizmente, desenvolver um texto prolongado sobre isso aqui. Concordo contigo, neste aspecto.

Obrigado pelo comentário,

Victor

Anônimo disse...

inocencia