
Cá estamos, mais uma vez, para comentar sobre o processo que move a cultura baiana: a nítida sensação de que estamos de mãos atadas com a raiz da cultura africana. Pois bem, é sabido que, há mais de 200 anos, a Irmandade da Boa Morte dava seus primeiros passos na cidade de Cachoeira na Bahia. Tal emblema da cultura afro-brasileira está se tornando, cada vez mais, um verdadeiro chamariz para o turismo na cidade. É válido ressaltar que, sob a minha compreensão, o turismo étnico é, logicamente, uma espécie de turismo cultural. No entanto, o que mais nos chama atenção para Cachoeira é que o turismo por lá praticado ultrapassa tudo isto e também se coloca como um turismo religioso e que, por outro lado, fornece aos pesquisadores, estudiosos e curiosos algumas possibilidades de contato com a raiz africana. É justamente por isso que o governador da Bahia, Jacques Wagner (PT) e a Ministra do Turismo, Marta Suplicy, firmaram um contrato de incentivo ao turismo étnico em Cachoeira. O contrato está em torno de R$ 1,2 milhão. Obviamente, isto ultrapassa a mera necessidade de um turismo étnico para a cidade. Trata-se, sobretudo, de incentivar o turismo baiano, haja vista que também foi firmado um contrato para revitalizar outras áreas do Pelourinho que estão situadas na região do Carmo. Por sinal, o bairro do Carmo abriga o mais luxuoso hotel de Salvador, o Convento do Carmo (auto-intitulado como Hotel Histórico), cuja diária pode ultrapassar a taxa de R$ 2.500,00. Portanto, podemos perceber que este pacto entre governos estadual e federal em prol do incentivo turístico ultrapassa uma mera questão de incentivar o contato com as raízes culturais.
Além disso, podemos perceber que um dos mais polêmicos representantes da cultura afro-brasileira, Vovô (presidente do Bloco Afro Ilê Ayê), também ficou satisfeito com o acordo, “há uma expectativa criada há muito tempo neste sentido. E as comunidades têm que ser beneficiadas com este tipo de turismo e intercâmbio cultural”. Algo um tanto estranho para este velho guerreiro pela cultura afro-brasileira no estado da Bahia. Obviamente, o que mais me causou estranhamento nas palavras de Vovô foi a noção de um intercâmbio cultural. Será isso mesmo o que acontecerá? Creio que ultrapassaremos isto. Para um defensor da cultura de raiz, Vovô pareceu estar um tanto mais aberto aos novos ares da mundialização. Esquece-se todavia que o freqüente turismo em Cachoeira, tende a minar esta chamada cultura de raiz. Isto é algo inevitável. Muitos dos que procuram estabelecer contato com o candomblé mais roots acabam indo para Cachoeira, com a sensação de que lá é um dos redutos intocados pelo processo de capitalização da cultura. Entretanto, sabemos que não é bem assim. Há um ano e meio, tive contato com um cineasta europeu que ficou em Cachoeira por quase dois anos para produzir seu documentário e não mais retornar àquela cidade. Já não temos mais antropólogos como Pierre Verger. Portanto, fica este pequeno paradoxo: incentivar o turismo étnico para se ter um maior contato com as origens do homem americano. É válido lembrar que este projeto visa, em especial, aos turistas afro-norte-americanos. Algo que também me gerou certo estranhamento, porque, antes mesmo de serem afro, os negros norte-americanos são norte-americanos. O que, no Brasil, infelizmente, não ocorre. O auto-intitulado negro brasileiro, precisa, mais que tudo, mostrar que ele tem raízes africanas, para depois falar de uma brasilidade.
Por fim, Cachoeira se tornará um forte centro de atração de estudiosos e pesquisadores, haja vista que, recentemente, a Universidade Federal do Recôncavo instalou um campus na cidade. A Universidade congrega os cursos de História, Comunicação e Museologia e, mais recentemente, implementou o curso de Ciências Sociais. Obviamente, uma escolha muito acertada. Um campus que congrega somente cursos de ciências humanas e que, por conseguinte, fica difícil destacar um deles, uma vez que todos podem contribuir para a revitalização da cultura afro-brasileira, seja a partir de vídeo-documentários, traçando estudos antropológicos, ou por recuperação histórica e fundando museus. Resta saber se todo este desenvolvimento contribuirá para a preservação desta cultura afro-brasileira quiçá ainda intocada.
Fontes:
Correio da Bahia
Agecom - Assessoria Geral de Comunicação Social do Estado da Bahia
P.S.: Fotos retiradas do Google Images.
Além disso, podemos perceber que um dos mais polêmicos representantes da cultura afro-brasileira, Vovô (presidente do Bloco Afro Ilê Ayê), também ficou satisfeito com o acordo, “há uma expectativa criada há muito tempo neste sentido. E as comunidades têm que ser beneficiadas com este tipo de turismo e intercâmbio cultural”. Algo um tanto estranho para este velho guerreiro pela cultura afro-brasileira no estado da Bahia. Obviamente, o que mais me causou estranhamento nas palavras de Vovô foi a noção de um intercâmbio cultural. Será isso mesmo o que acontecerá? Creio que ultrapassaremos isto. Para um defensor da cultura de raiz, Vovô pareceu estar um tanto mais aberto aos novos ares da mundialização. Esquece-se todavia que o freqüente turismo em Cachoeira, tende a minar esta chamada cultura de raiz. Isto é algo inevitável. Muitos dos que procuram estabelecer contato com o candomblé mais roots acabam indo para Cachoeira, com a sensação de que lá é um dos redutos intocados pelo processo de capitalização da cultura. Entretanto, sabemos que não é bem assim. Há um ano e meio, tive contato com um cineasta europeu que ficou em Cachoeira por quase dois anos para produzir seu documentário e não mais retornar àquela cidade. Já não temos mais antropólogos como Pierre Verger. Portanto, fica este pequeno paradoxo: incentivar o turismo étnico para se ter um maior contato com as origens do homem americano. É válido lembrar que este projeto visa, em especial, aos turistas afro-norte-americanos. Algo que também me gerou certo estranhamento, porque, antes mesmo de serem afro, os negros norte-americanos são norte-americanos. O que, no Brasil, infelizmente, não ocorre. O auto-intitulado negro brasileiro, precisa, mais que tudo, mostrar que ele tem raízes africanas, para depois falar de uma brasilidade.
Por fim, Cachoeira se tornará um forte centro de atração de estudiosos e pesquisadores, haja vista que, recentemente, a Universidade Federal do Recôncavo instalou um campus na cidade. A Universidade congrega os cursos de História, Comunicação e Museologia e, mais recentemente, implementou o curso de Ciências Sociais. Obviamente, uma escolha muito acertada. Um campus que congrega somente cursos de ciências humanas e que, por conseguinte, fica difícil destacar um deles, uma vez que todos podem contribuir para a revitalização da cultura afro-brasileira, seja a partir de vídeo-documentários, traçando estudos antropológicos, ou por recuperação histórica e fundando museus. Resta saber se todo este desenvolvimento contribuirá para a preservação desta cultura afro-brasileira quiçá ainda intocada.
Fontes:
Correio da Bahia
Agecom - Assessoria Geral de Comunicação Social do Estado da Bahia
P.S.: Fotos retiradas do Google Images.
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