sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Chapada Diamantina: o paraíso é aqui.

Não sei ao certo por que, mas senti um desejo repentino de falar de Mucugê. Aliás, da Chapada Diamantina. Esse é, sem dúvida, um dos mais lindos e inspiradores lugares desse planeta (digo isso mesmo não o conhecendo integralmente, mas por imaginá-lo). É, decididamente, o local apropriado para renovar as energias, recuperar o fôlego diante do estresse cotidiano, vencer eventuais episódios de mau humor e desesperança, fortalecer o espírito... Enfim, é demais! Só tenho boas recordações, e elas me bastam, pois lá vivenciei momentos muito aprazíveis e enriquecedores. Na minha memória, estão suas indescritíveis paisagens naturais. Cânions, serras, imensos paredões de rocha, grutas, flores de um colorido riquíssimo, cachoeiras simplesmente maravilhosas (um dos banhos mais deliciosos que já experimentei, apesar da água geladíssima) povoam minhas lembranças, fazendo-me sentir mais e mais vontade de retornar. Além disso, o contato com seu povo, tão acolhedor, revela, mesmo que parcialmente, a riqueza, e ao mesmo tempo, a simplicidade de sua cultura (por mais que isso pareça paradoxal, para alguns). Só vale a pena conhecer a Chapada! E, nela, além de Mucugê, pode-se conhecer também cidadezinhas bem rústicas, como Igatu, e cidades de maior porte e repercussão cultural, como Lençóis.

Na realidade, o que se chama Chapada Diamantina é uma região de serras situada no centro do Estado da Bahia, apresentando uma vegetação exuberante, composta de espécies da caatinga semi-árida e da flora serrana, com destaque para bromélias, orquídeas e sempre-vivas (essa, cabe salientar, uma espécie endêmica). Mas ela nem sempre foi uma imponente cadeia de serras: há cerca de dois bilhões de anos, um imponente conjunto de depressões sofreu a ação de diversos agentes modificadores, como os ventos e as chuvas, que lhe preencheram os espaços, tornando-se elevações de altitudes significativas. Nas ruas e calçadas das cidades da Chapada Diamantina, lajes de superfícies onduladas revelam a ação dos históricos ventos e águas que passaram sobre areais antigos.

Completam-lhe o cenário suas transparentes piscinas naturais e as belas e ruidosas cachoeiras, que se formam do movimento das águas dos rios Paraguaçu, Jacuípe e Rio de Contas. Os dois pontos mais altos da Bahia estão na Chapada: o Pico do Barbado, com 2.033 metros, é o mais alto do Nordeste, e o Pico das Almas, com 1.958 metros. Não é à toa que se diz que, para desbravar esse paraíso ecológico, não podem faltar curiosidade, coragem, espírito de aventura e muito, muito fôlego e preparo físico. Mas é preciso, acima de tudo, muita sensibilidade. Sensibilidade para entender a possibilidade de “explorá-la” sem destruí-la.

A Chapada Diamantina foi, no período compreendido entre a segunda metade do século XIX e a década de 30, uma região, por assim dizer, “explosiva”, comandada pelos coronéis, chefes das tradicionais famílias proprietárias de terras, que disputavam o poder político local. Até hoje, é uma região marcada por grande concentração de renda e, consequentemente, fortes diferenças sociais. Passando da opulência e prestígio – durante o ciclo do diamante e do ouro, no século XIX – ao abandono, em parte do século XX, a Chapada encontra, na atividade turística (mais precisamente, no Ecoturismo), uma excelente alternativa econômica, com possibilidades de desenvolvimento regional, revalorização cultural e inclusão social.

O Parque Nacional da Chapada Diamantina é uma das mais fascinantes unidades de conservação ambiental do Brasil. Abriga uma extraordinária variedade de ecossistemas, como caatinga, mata atlântica, cerrado e campos rupestres. Foi criado, por meio de um decreto federal, no ano de 1985, abrangendo uma área de 152 mil hectares da Serra do Sincorá e seus arredores, incluindo os municípios de Lençóis, Palmeiras, Andaraí e Mucugê (nesta, concentram-se aproximadamente 52% do parque). Suas montanhas e serras abrigam e sustentam variadas espécimes animais: jaguatiricas, onças, mocós, veados, teiús e seriemas estão entre os principais. As cidades situadas ao redor do Parque Nacional revelam, na rica e singular arquitetura colonial de seus prédios, a importância do ciclo do diamante para a riqueza local e para o Brasil, tornado primeiro produtor mundial no início do século XX. Atualmente, é administrado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA), que tem sua sede em Palmeiras. A realização de qualquer passeio ou roteiro, seja qual for a localidade, deve ser solicitada às associações locais de guias de turismo, o que se justifica por razões de segurança e de proteção ao meio ambiente.

A Chapada abriga também, em seus vales e cumes, diversas comunidades esotéricas e alternativas, a exemplo do Vale do Capão. Pequenos e grandes grupos de pessoas movidas por ideais de vida comuns, como o respeito à natureza, através de práticas agrícolas ecologicamente corretas, a utilização de energias limpas e as experimentações com bioconstrução, propagadores do auto-conhecimento, da vida saudável, praticantes de diversas técnicas alternativas - psicoterapias, astrologias, cromoterapia, florais – desenvolvem trabalhos com a medicina natural (à base de ervas), agricultura orgânica e apicultura, consolidando um modo de vida holístico. Destacam-se a Comunidade Lothlorien, fundada em 1984; a Comunidade Campina, fundada em 1990, às margens do Riachinho; a Comunidade Rodas do Arco-Íris, fundada em 1997, de forte inspiração artística: são músicos, capoeiristas, dançarinos, artistas plásticos, poetas.

Indo à Chapada, não deixe de conhecer Xique-Xique de Igatu, intitulada a Machu Picchu baiana, pois suas ruínas se assemelham às ruínas sagradas dos Incas, no Peru. Acredita-se que Igatu foi descoberta, por volta de 1840, por garimpeiros, que fizeram as obras em pedra. Localiza-se no distrito de Andaraí, distante 114 km de Lençóis. Nos tempos do diamante e do ouro, a vila já teve cerca de 15 mil habitantes; conta, hoje, com menos de 500. Sua arquitetura à base de pedras constitui seu principal atrativo. De.Igatu, no alto da Serra do Sincorá, pode-se apreciar grande parte da Chapada Diamantina: vales profundos, chapadões, a variedade de sua vegetação, a cerração matinal. Em seu entorno, estão cachoeiras, grutas, igrejas e até um cemitério. Recomenda-se, para um melhor aproveitamento da visitação aos atrativos, a companhia de um bom guia, para o que não faltam nativos qualificados, alguns deles ex-garimpeiros, memória viva da história local.


Fontes:

www.faced.ufba.br/~nec/capao.html
www.cidadeshistoricas.art.br/chapada
Guia da Chapada

P.S.: Fotos retiradas do Google Images. A primeira delas é o famoso Poço Encantado. A segunda retrata uma bela vista da cidade de Mucugê. A terceira enfoca uma pequena cachoeira em Mucugê. Já a última é a mais famosa paisagem da Chapada Diamantina.

3 comentários:

Fernanda disse...

Olá!
Tá massa o blog de vocês.
Só uma sugestão: abram os comentários para que não tem conta no blogger.com
se é que vão rolar comentários... o movimento tá meio lento´.

beijos.

Victor Scarlato disse...

Fala, Fernanda,

Bem, eu não havia me tocado sobre isso. Em relação ao movimento, espero que ele suba.

Obrigado,

Victor

Inspirações disse...

caVictor,

Acabei de chegar de uma viagem inspiradora da Chapada Diamantina. Fiz a volta no parque p tive a oportunidade de conhecer Igatu, Mucugê, Vale do Capão e Lençóis. Amei, fiquei encantada, um pedaço do meu coração ficou por lá. Realmente voltei energizada, completa e muito feliz e orgulhosa de ter este local maravilhoso em nosso país. O povo é fascinante, as paisagens cinematográficas. Vale a pena divulgarmos cada vez mais este local mágico. Parabéns pela sua descrição.

Abraços,
Monica