sábado, 3 de novembro de 2007

Evolução incomoda?

Estive, ontem, em Praia do Forte...fiquei abismada. Embora alguns amigos já tivessem comentado sobre a enorme movimentação de turistas, só tive a real dimensão do fato ao ver, com meus próprios olhos (se é possível ver senão com eles mesmos), um autêntico exemplar do que se costuma chamar Turismo de Massa. Mais que o grande fluxo de visitantes, nacionais e estrangeiros (estes principalmente), o que mais me impressionou foi o acelerado processo de urbanização local. Eu, que tive a oportunidade de conhecer Praia do Forte praticamente virgem, em seu esplendor de autenticidade natural e cultural, não pensei em tamanha velocidade de crescimento. Alerto que não se trata de saudosismo, são apenas memórias. Quem me visse, olhando de um lado para outro, avaliando tudo, meio que boquiaberta, poderia até pensar que se tratava de uma turista, de procedência bem interiorana, desacostumada com esses ambientes. Efetivamente, a “civilização” chegou lá com toda força: são tantos condomínios de chalés e villages, tantas lojinhas, bares e restaurantes, quiosques, hotéis e pousadas, caixas eletrônicos etc. Os espaços públicos são cada vez mais restritos: loteou-se tudo, até o acesso à praia, hoje, é mais difícil. Não restam dúvidas: Praia do Forte é uma aldeia global. Ali, vê-se, fala-se e ouve-se de tudo um pouco. O acesso é até razoável, de um paisagismo interessante, porém, em se tratando de estacionamento, a situação complica...e como! Pareceu-me faltar planejamento e organização espacial. Ao menos em relação a outras localidades do Litoral Norte, há um maior controle de estacionamento dos veículos nas ruas, apresentando, inclusive, sinalização. Em Jauá e Jacuípe, está praticamente inviável transitar de carro: as ruas (diga-se, becos) são estreitas, os motoristas estacionam seus veículos em ambos os lados, em uma clara demonstração de falta de consciência cidadã, e, para variar, não há fiscalização. Com tristeza, vi muita sujeira, lixo acumulado e espalhado pelas ruas, nos jardins...definitivamente, a “civilização” aportou para lá ficar, deixando seu poderoso rastro. Fiquei pouco tempo, não podendo, por isso, fazer uma apreciação pessoal acerca do aspecto cultural, mas pude perceber, enquanto percorria o vilarejo, um dos mais evidentes sinais de homogeneização cultural: o artesanato dito local não difere, em quase nada, do encontrado em muitas localidades por que passei, inclusive o que é comercializado nas praias de Salvador e no próprio Centro Histórico. Saí de lá com uma forte sensação: como uma quase profissional de Turismo, fiquei devendo uma visita mais consistente. Mas não faltarão oportunidades...que seja logo!

sábado, 20 de outubro de 2007

E por falar em flores...


Aproveitando que a primavera já chegou, com todo o seu característico vigor e indiscutível beleza, falemos de flores. Em um primeiro momento, alguns podem até se perguntar: qual a relação entre flores e Turismo? Aparentemente, nada, mas tem tudo a ver. São muitos os destinos internacionais e nacionais em que elas são a motivação turística primária. E nem só para ornamentação servem as flores: hoje, a gastronomia faz amplo uso desse recurso que tem sido considerado atraente não apenas do ponto de vista de seu visual, bastante diverso, como também do paladar.

Nas últimas décadas, o Turismo Gastronômico tem crescido significativamente, em especial no continente europeu, onde já há uma tradição culinária muito forte, a exemplo de Itália, Espanha, Portugal, França e Alemanha. Na América Latina, a gastronomia é um dos mais importantes elementos culturais, de forte cunho identitário. Brasil e México se destacam, pela grande e variada influência de colonizadores e imigrantes: portugueses, espanhóis, japoneses, africanos, indígenas, povos pré-colombianos (como os astecas). Tendo em vista o comprovado incremento do interesse pela culinária local e regional de muitos destinos turísticos, as administrações municipais, estaduais e federal têm investido em sua divulgação, no intento de mais e mais atrair e fidelizar turistas. Aliás, essa tem sido uma das mais relevantes metas do Turismo mundial, mais especialmente do Brasil: aumentar a captação, os gastos e o tempo de permanência dos turistas, favorecendo, desse modo, a arrecadação de impostos, bem como a geração de emprego – direto e indireto - e renda.

No mercado brasileiro, em se tratando de produção e comercialização de flores e plantas, o destaque é a cidade de Holambra, no Estado de São Paulo, conhecida como “cidade das flores”. Com cerca de dez mil habitantes, Holambra tem por base econômica a agropecuária - englobando a horticultura, a citricultura, a produção de laticínios e de produtos derivados de suínos e aves – e o turismo. Sua produção de flores e plantas exóticas é volumosa e de alta qualidade, constando, inclusive, de sua pauta de exportações. Atualmente, há na cidade, aproximadamente, cerca de 100 floricultores ocupando uma área de 106 hectares em estufas, além de cerca de 130 hectares de rosas cultivadas em campo aberto.

Conhecida como estância turística, apresenta uma arquitetura bastante peculiar, de forte influência holandesa, além de um rico e variado calendário de eventos, contando com a participação de brasileiros e estrangeiros, o que tem rendido, para o município e seu entorno, significativos negócios. Seu público é, fundamentalmente, composto por floristas, decoradores, organizadores de festas, “buffets”, promotores de eventos; produtores; atacadistas e distribuidores.

Entre os eventos, ressaltam-se a Exploflora, maior feira no segmento em toda a América Latina, realizada anualmente no mês de setembro; o Enflor (Encontro Nacional de Floristas), o Gardenfair e a Hortitec. Da programação desses eventos, constam atividades como Feira de Acessórios, Flores e Plantas; Congresso para Floristas (Arte Floral e Palestras); Oficinas de Arte Floral; Vitrines de flores e plantas (diversas regiões); Decorações; e Ambientação para festas.

Mas nem só de floricultura e arte floral vive Holambra. O município é sede, também, de eventos esportivos, tais como o Trekker-Trek (competição de arrancada de tratores), a Corrida na Lama (prova individual com obstáculos naturais e artificiais), a Gincana de Charretes (competição em equipes) e a Média Paulista de Ciclismo.

Eventos de cunho religioso, como a Semana Santa, têm lugar especial na Cidade das Flores. A Prefeitura Municipal promove a exposição das 13 Estações da Via Sacra, sendo montados painéis e esculturas gigantescas, em que são utilizados diversos materiais, entre os quais placas de madeira, isopor, tecido, fibra de vidro sintética e tintas especiais. Também a festa natalina é um espetáculo de grande luminosidade, encantamento e beleza em Holambra. A Prefeitura Municipal organiza uma decoração muito bela e divertida. Estruturas em tamanho natural chamam a atenção: Papai Noel Esportivo, Papai Noel do Pólo Norte, Chuva de Neve, Presépio, Casa do Papai Noel, Vila de Natal e Árvore Cantante. Um encantador Desfile de Natal completa a festividade.

Na Bahia, o Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio a Pequenas e Médias Empresas – implementa um importante projeto de promoção do desenvolvimento integrado e sustentável das regiões com potencial para a floricultura tropical e temperada, chamado Cadeia Produtiva de Floricultura . São promovidas ações de capacitação dos produtores, melhoria do processo produtivo, facilitação do acesso à informação tecnológica e formação de associações para a compra de insumos e venda de produtos. Entre os municípios atendidos, vale salientar, por região: Amélia Rodrigues e Mata de São João (Litoral Norte); Valença, Camamu, Nilo Peçanha, Ituberá, Taperoá e Piraí do Norte (Baixo Sul); Ilhéus, Itabuna, Santa Cruz da Vitória e Canavieiras (Sul); Maracás, Jaguaquara, Lajedo do Tabocal e Vitória da Conquista (Sudoeste); Mucugê, Andaraí, Lençóis, Barra da Estiva, Rio de Contas, Bonito, Ibicoara, Piatã, Seabra e Palmeiras (Chapada Diamantina); Morro do Chapéu e Senhor do Bonfim (Piemonte da Diamantina). É o agronegócio expandindo fronteiras, gerando trabalho e renda, promovendo, assim, a inclusão social, um dos pilares da sustentabilidade.

Constata-se que as relações de consumo têm se transformado rápida e radicalmente também no mercado de floricultura: mesmo que em nossa cultura predomine, ainda, o sentido da visão, na atualidade as flores despertam as mais variadas sensações, especialmente a olfativa (muito explorada pela indústria química e de cosméticos) e a gustativa. Graças a elas, muitas cidades descobriram seu potencial turístico, bem como ampliaram sua base econômica. Nesse sentido, a atividade turística se apresenta em diversas modalidades: Turismo de Natureza, Turismo de Observação, Turismo Cultural e Turismo de Saúde, entre outros.

P.S.: Imagens retiradas do Google Images. As fotos das extremidades são da cidade de Holambra.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Festival de Lençóis: Nova Programação

A título de retificação, informamos que o evento está programado para acontecer no período de 24 a 28 de outubro, com atrações musicais de reconhecimento nacional e internacional, tais como Xangai; Lobão; Carlinhos Brown; Isabella Taviani e os sambistas Mariene de Castro, Edil Pacheco e Nelson Rufino. Diversas oficinas serão oferecidas, durante todos os dias do evento: fotografia, pintura, artesanato (em retalhos, em papel, em tecido, em madeira etc), arte em pedra, papel reciclado, fantoches e trilha interpretativa. Sem dúvida, grande oportunidade de diversão e qualificação profissional.

sábado, 13 de outubro de 2007

VOCÊ SABIA?

* Que no dia 27 de setembro se comemora o Dia Mundial do Turismo, com o propósito principal de promover, nas sociedades, a consciência para a importância da atividade turística e de seus valores sociais, cultural, políticos e econômicos?

* Que o Plano Nacional de Turismo – PNT (2007-2010) prevê investimentos de r$ 6,6 bilhões do orçamento federal, além de projetar a geração de 1,7 milhão de novos empregos e a entrada de us$ 7,7 bilhões em divisas para o país?

* Que o Plano Aquarela foi desenvolvido pelo Ministério do Turismo, por meio da Diretoria de Marketing e Relações Institucionais da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), para a promoção de todas as ações de divulgação do país no exterior, servindo de base para as ações de promoção, marketing e apoio à comercialização dos destinos, produtos e serviços turísticos brasileiros nos próximos anos?

* Que o Programa de Regionalização do Turismo é um modelo de gestão descentralizada, coordenada e integrada, que visa transformar a ação centrada na unidade municipal para uma política pública mobilizadora de planejamento e coordenação, com vistas ao desenvolvimento turístico local, regional, estadual e nacional, de forma articulada e compartlhada?

* Que o governo federal brasileiro objetiva, através da regionalização do turismo, ampliar e qualificar o mercado de trabalho, dar qualidade ao produto turístico brasileiro, diversificar a oferta turística, estruturar os destinos turísticos, ampliar o consumo turístico no mercado nacional, aumentar a inserção competitiva do produto turístico nacional no mercado internacional, ampliar o consumo turístico no mercado nacional e aumentar o tempo de permanência e gasto médio do turista nos destinos brasileiros?

*Que foi encaminhado à apreciação do Congresso Nacional, em setembro último, pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, o projeto da Lei Geral do Turismo, objetivando garantir a continuidade e o fortalecimento da Política Nacional do Turismo, bem como a normatização do Plano Nacional do Turismo, além de estabelecer a conceituação do Turismo enquanto atividade econômica e disciplinar a prestação de serviços turísticos e estabelecer as regras para sua fiscalização?

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A Fé que atrai multidões e movimenta milhões


Religião sempre foi tema polêmico. E continua a ser. Prova disso é que muitos conflitos, de pequenas e grandes proporções, como as guerras, são, ainda hoje, “supostamente” travadas em nome de Deus. Muito freqüentemente, convicções religiosas radicalizam-se, surgindo, assim, os fundamentalismos, responsáveis pela destruição irracional de cidades, inclusive as consideradas sagradas, e pela perda lamentável de inúmeras vidas. Para alguns, essa temática é praticamente um tabu, justificando o antigo ditado popular que diz: “Religião não se discute”. Penso ser incompreensível que, a despeito de tamanha evolução econômica, social e cultural por que temos passado, homens ditos civilizados usem de preceitos e dogmas sagrados, que, ao menos teoricamente, visam ao bem-estar geral e à paz, para obtenção e manutenção de poder material. A meu ver, tais atitudes chegam a ser paradoxais e, portanto, injustificadas.

Creio que nunca na história da humanidade foi tão importante, digo imprescindível, a necessidade de fortalecer valores morais e éticos como a tolerância e o respeito às diferenças. Até porque vivemos em um mundo de enorme diversidade, em todos os sentidos: geográfica, política, econômica, étnica, cultural, social. Enfim, somos todos muito diferentes, graças a Deus! Sendo assim, por que não aceitá-las? A meu ver, são essas pequenas e grandes diferenças que valorizam a vida humana, que nos inspiram e incitam a refletir nossas existências e experiências, que nos possibilitam inovar e renovar atitudes e comportamentos. Não podemos perder de vista que a religião é, em sua essência, um traço identitário de um indivíduo ou grupo, compondo, portanto, sua cultura. Para mim, em se tratando de aspectos culturais, deve-se ter bastante cautela ao se fazer comparações, principalmente quando estão em estágios evolutivos significativamente distintos, podendo-se, assim, incorrer em injustiças muitas vezes inconseqüentes e irremediáveis.

Na verdade, essa reflexão de caráter pessoal foi uma breve introdução ao tratamento de um dos assuntos mais caros ao setor do Turismo: o volumoso deslocamento de visitantes e turistas – ditos peregrinos – a diversos destinos turísticos de apelo religioso, seja em datas comemorativas ou não. Esses movimentos configuram os chamados “Roteiros da Fé”, cada vez mais disseminados nacional e internacionalmente. O Turismo Religioso figura como uma das principais modalidades de atividade turística em âmbito mundial, mais especialmente no Brasil, considerado o maior país católico do mundo. A despeito do Catolicismo ser, ainda, a prática religiosa dominante, outras religiões – Islamismo, Judaísmo, Protestantismo, Candomblé, entre outras – costumam atrair milhares de fiéis a seus ”templos”, movimentando vigorosamente as economias locais e regionais, principalmente no que diz respeito ao comércio e prestação de serviços.

Para o Ministério do Turismo brasileiro (Mtur), “O Turismo Religioso configura-se pelas atividades turísticas decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa em espaços e eventos relacionados às religiões institucionalizadas”. Consiste na realização de visitas a locais que expressam sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade nos fiéis. Na prática, são verdadeiros espetáculos de fé e devoção. Ao mesmo tempo em que se presenciam cenas de amor e crença inconteste, capazes de nos causar encantamento, há também cenas dolorosas de flagelação, que nos provocam fortes emoções. São as ambigüidades da interpretação e da prática da fé.

Fora do Brasil, destacam-se: Cidade do México, em função de N. Sra. de Guadalupe, reconhecida como a protetora das Américas; Fátima, em Portugal; Santiago de Compostela, na Espanha; Lourdes, na França; Swieta Lipka, na Polônia; Assis, Roma e Vaticano, na Itália; os mais de 100 mosteiros da Suíça; Jerusalém (Terra Santa), em Israel; Llasa, capital do Tibet, na China, onde vive o Dalai Lama; Meca, na Península Arábica, a mais importante das cidades santas do Islã, onde nasceu o profeta Maomé; Delfos, na Grécia, onde se situa o famoso Oráculo de Delphos, localizado no interior de um templo dedicado ao deus Apolo; Kasi ou Benarés, cidade sagrada da Índia; e, mais recentemente, em virtude da posse do Papa Bento XVI, a cidade de Munique, na Alemanha.

No Brasil, são mais de 50 os destinos religiosos espalhados de norte a sul do país. Entre os mais relevantes, ressaltam: Belém do Pará (PA), onde cerca de dois a três milhões de devotos disputam a corda da berlinda de Nossa Senhora de Nazaré, na famosa festa do Círio de Nazaré; Juazeiro do Norte (CE), onde aproximadamente dois milhões de fiéis celebram, no dia 24 de março, sua fé em Padre Cícero; Nova Trena (SC), que recebe, por ano, 250 mil devotos de Madre Paulina; e Bom Jesus da Lapa (BA), conhecida como a capital baiana da fé, concentra, no mês de agosto, a segunda maior festa religiosa católica do país, com milhares de fiéis, sendo conhecida como Procissão ou Romaria do Bom Jesus. Em função da canonização, pelo Vaticano, de Frei Galvão, conhecido como o protetor das parturientes, Guaratinguetá (SP), sua terra natal, é o mais novo destino de fé do país.

Porém, uma vez que estamos no mês de outubro, vale salientar o principal destino turístico brasileiro de cunho religioso: Aparecida do Norte, na região do Vale do Paraíba (SP), conhecida mundialmente como uma estância turístico-religiosa, onde muitos milhares de fiéis celebram, anualmente, dos dias 03 a 12, a padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, com ricas e emocionantes novenas e missas festivas, celebradas tanto na Catedral-Basílica de Nossa Senhora Aparecida – conhecida como “Basílica Nova” - quanto na Basílica Nacional de Aparecida - dita “Basílica Velha”. Ao ano, são cerca de sete a oito milhões de visitantes. Os devotos usufruem, no Santuário, de uma infra-estrutura turística bastante satisfatória, para o que contam com o Complexo Administrativo e Turístico e o Centro de Apoio ao Romeiro, onde se pratica um amplo comércio para todos os gostos (e bolsos). Há, também, sala de batizados, capela da penitência, sala das promessas, berçário, bazar, museu, galeria de exposições, consultório médico e amplo estacionamento. Muitos também são os meios de hospedagem e estabelecimentos alimentícios distribuídos pela cidade. Até para as crianças (embora não só para elas) há opção de entretenimento: um grande parque de diversões, onde são desenvolvidas atividades lúdicas e culturais.

Aparecida do Norte é uma cidade relativamente pequena, com cerca de 112 Km² e aproximadamente 35 mil habitantes, mas possui um grande patrimônio histórico e cultural, composto de prédios antigos, monumentos, antigos seminários e igrejas, em grande parte de arquitetura marcadamente seiscentista, que merecem uma cuidadosa visita e apreciação. Por ocasião do Carnaval, o município dispõe de retiros espirituais para os que desejam afastar-se das atividades profanas típicas da festa momesca. A cidade é também movimentada pela festa de São Benedito, que ocorre uma semana após a Páscoa, congregando milhares de devotos.

O que se pode constatar é que essa modalidade turística representa importante alavanca econômica, entretanto há que se fazer um permanente acompanhamento da atividade e de seus fluxos, no sentido de evitarem-se as problemáticas comuns da massificação: excesso da capacidade de carga da cidade e seu entorno (com comprometimento da infra-estrutura básica), congestionamentos, incremento da poluição (água, solo, ar), superlotação dos locais de visitação e adoração, além do sempre possível risco de descaracterização da autenticidade cultural local. Mais uma vez, planejamento, organização e consciência crítica são essenciais. Aliás, o que é o Turismo sem tais estratégias?

P.S.: Imagens retiradas do Google Images. Da esquerda para a direita: Meca / Aparecida do Norte / Grécia (Delfos)

domingo, 7 de outubro de 2007

OKTOBERFEST: Turismo de Eventos e Negócios é alternativa à sazonalidade turística



Férias tem sido, praticamente, sinônimo de Turismo de Lazer e Entretenimento. E é evidente, também, a superior demanda dos turistas por destinos de grande riqueza natural, em áreas de litoral ou de campo. Praias, dunas, rios, cachoeiras, cânions, grutas e cavernas, montanhas e serras são importantes motivações ao deslocamento das pessoas que desejam curtir a natureza, relaxar e repor as energias. Mas também constituem ambientes não apenas apropriados, mas bastante convidativos para a prática de esportes, inclusive radicais. Não é à toa que cresce significativamente, em todo o mundo, o interesse por destinos ecoturísticos.

Porém, tais recursos e práticas requisitam condições climáticas favoráveis, de preferência com incidência de sol e brisa, bem típicos do verão e da primavera. Além disso, sabe-se que a atividade turística está fortemente atrelada a determinados períodos do ano, como férias escolares e datas festivas e comemorativas. Então, o que fazer na dita baixa temporada? Empresas de variados ramos de atividade, seja na comercialização de produtos seja na prestação de serviços, buscam uma forma eficaz de compensação para os meses de baixa demanda turística. Elas precisam sobreviver durante todo o ano, pois seus custos - especialmente, os fixos - costumam ser elevados. Então, como manter a empregabilidade, quando a arrecadação despenca? Nem mesmo o incremento na oferta de recursos culturais e históricos tem sido suficiente para reverter as significativas quedas no faturamento das empresas.

De fato, vencer a “sazonalidade” da atividade turística tem sido um dos maiores desafios dos diversos destinos turísticos de todo o mundo, em especial os que têm, no Turismo, sua base econômica, bem como os que têm por alicerce principal a oferta de sol e praia, como é o caso da maioria dos estados brasileiros situados na extensa faixa litorânea do país. Na última década, no Brasil, as modalidades turísticas de Eventos e de Negócios têm se revelado relevantes alternativas, para o que é fundamental investir em qualificação profissional, tecnologia e logística.

A despeito de ser um país tipicamente tropical, sem estações tão bem definidas, o Brasil apresenta sua alta estação concentrada, em geral, no período de verão (de dezembro a março) e nos meses de junho e julho (a depender da região). Porém, sua riqueza histórica e cultural permite formatar um amplo e variado calendário comemorativo. Assim é que as administrações municipais e estaduais investem no reforço de seus calendários festivos locais e regionais, na tentativa de atrair turistas para suas comemorações de caráter religioso, cívico e popular. É muito comum que certos eventos, há pouco tempo restritos, de pequeno porte e de cunho local ou regional, ganhem fama e tornem-se megaeventos, reconhecidos nacional e internacionalmente.

No Brasil, outubro é, sem dúvidas, um mês significativamente propício ao Turismo de Eventos. Um dos eventos de maior expressividade é a Oktoberfest, que acontece anualmente na cidade de Blumenau, no estado de Santa Catarina. Nesse ano de 2007, no período de 04 a 21, ela vive sua 24ª edição. A exemplo de toda a região sul brasileira, a fortíssima influência germânica se faz presente como a motivação maior para a festividade. Os blumenauenses, juntamente com convidados, turistas e curiosos, celebram a vida e as tradições dos imigrantes alemães que ajudaram a construir o país de forma tão diversa e enriquecedora. Porém, essa festa é celebrada também em outras cidades do Sul, tais como Santa Cruz do Sul (RS) e Igrejinha (RS).

A versão brasileira inspirou-se na maior festa da cerveja do mundo, a Oktoberfest de Munique, na Alemanha, iniciada no ano de 1810, por ocasião do casamento do Rei Luis I da Baviera com a Princesa Tereza da Saxônia. Lá, a Oktoberfest se inicia em meados de setembro e termina duas semanas mais tarde, no primeiro domingo de outubro.

Durante todo o evento, popularmente conhecido como “festival do chope”, residentes e turistas desfrutam de diversas atrações: feira cultural e artesanal; apresentações de bandas e grupos folclóricos; desfiles de carros e fanfarras, com a presença da rainha e das princesas; cervejarias (onde se pode beber o famoso “chope em metro”, motivo para competição com direito a premiação) e parque de diversões.

A Oktoberfest possui grande representatividade econômica pra o município e toda a região, o que se pode comprovar por seus impressionantes dados estatísticos: de sua primeira edição, em 1984, até o ano passado, acumulou um público de mais de 15,5 milhões de pessoas, com um consumo superior a nove milhões de litros de chope. São, em média, cerca de 700 mil pessoas por ano, admirando e usufruindo a autêntica cultura alemã: seus trajes típicos, sua música, suas danças, sua culinária, seu folclore. Diante de tais números, pode-se até imaginar o quanto esse evento movimenta a cadeia produtiva de consumo – hospedagem, alimentação, transporte, comunicação, artesanato, comércio etc – aumentando, consideravelmente, a arrecadação tributária.

Sugiro que esse modelo de preservação da autenticidade cultural de um povo sirva de inspiração a diversas manifestações culturais do país, ao contrário do que vem ocorrendo com o Carnaval baiano. Cabe ressaltar, também, a efetividade do Turismo de Eventos e Negócios como alternativa à sazonalidade turística, desde que devidamente planejado, organizado e executado.

Saiba mais sobre a OktoberFest Brasil.






P.S.: Vídeo retirado do YouTube.
P.S.: Imagens retiradas do Google Images.

sábado, 6 de outubro de 2007

Canudos: História, Cultura e Turismo Sustentável.




Para quem não sabe, mas se interessa pela cultura sertaneja, comemora-se, nesse mês de outubro, o 110º aniversário da Guerra de Canudos (1893 – 1897), um dos mais relevantes movimentos sócio-religiosos do país. É o momento de reverenciar seu líder, Antônio Conselheiro, homem de fortes e honestas convicções, que lutou por dignidade e justiça para o povo do Sertão. As bibliotecas do Estado estarão apresentando, para a população, exposições e atividades gratuitas durante todo o mês. Como aluna do curso de Turismo e Hotelaria da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), tive a oportunidade de estar em Canudos por três vezes, acompanhando professores e alunos que desenvolvem um projeto de significativa importância não só para o universo acadêmico e o município, mas para o Estado da Bahia. De nome “A Caminho dos Sertões de Canudos”, esse projeto, idealizado pelos professores Roberto Dantas e Sérgio Guerra, do Departamento de Ciências Humanas do Campus I, em Salvador, visa à implementação de uma política ecologicamente responsável para o setor do turismo na região do entorno de Canudos, o que equivale a dizer que busca o desenvolvimento do turismo sustentável na região. Além de seu caráter histórico-cultural, revela-se de fundamental importância para aquela comunidade que, fortemente carente, padece com os grandes males da atualidade: desemprego, uso de drogas, alcoolismo e prostituição. Na verdade, esse projeto representa um fio de esperança para várias famílias que vêem seus jovens sem grandes perspectivas de futuro, mesmo já tendo concluído seus estudos básicos (fundamental e médio). Para quem deseja se aprofundar no assunto, a literatura já é bastante razoável. O pleno desenvolvimento desse projeto depende, fundamentalmente, da participação e do apoio de órgãos governamentais, de entidades do setor privado e da sociedade civil. Todos podemos colaborar. Certamente que vale a pena, tendo em vista as animadoras possibilidades de recuperação econômica, social e cultural da região e entorno.

P.S.: Filme retirado do YouTube.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A Força Econômica, Social e Cultural do Turismo (3)

Na Bahia, a Secretaria Estadual de Turismo – SETUR (criada pelo atual governo, em dezembro de 2006, fruto do desmembramento da ex-Secretaria de Cultura e Turismo) tem por finalidade o planejamento, a coordenação e a execução das políticas de promoção e fomento ao Turismo. Sua estrutura organizacional se compõe de órgãos da administração direta e indireta. Na primeira, estão duas importantes superintendências: a de Investimentos em Pólos Turísticos - SUINVEST e a de Serviços Turísticos - SUSET, além do gabinete do secretário e da diretoria geral. Na outra, está a Empresa de Turismo da Bahia S/A – Bahiatursa, órgão oficial de Turismo do estado, responsável pela coordenação e execução de políticas de promoção, fomento e desenvolvimento da atividade turística, de acordo com as diretrizes governamentais, para o que conta com importantes parcerias com a administração federal e entidades privadas.

A missão da SETUR é “promover o desenvolvimento responsável e sustentável de áreas de interesse turístico, valorizando e preservando o patrimônio natural e cultural do estado, sempre com foco no desenvolvimento econômico e social das comunidades e respeito aos direitos humanos”. É responsável também pela administração e comercialização do Centro de Convenções da Bahia - CCB, entidade voltada à captação de eventos e à prestação de informações turísticas nas diversas localidades do estado.

O cumprimento de suas metas está atrelado a seus programas, entre os quais merecem destaque: (1) Bahia Qualitur – programa de certificação da qualidade, visando à melhoria da qualidade dos serviços oferecidos aos turistas que visitam o estado; (2) o Programa Fidelidade Bahia – que oferece prêmios e recompensas aos freqüentes visitantes do estado, estimulando seu retorno para conhecimento de novas atrações turísticas existentes; (3) o Portal www.bahia.com.br - portal oficial de turismo do estado, contendo todas as informações necessárias para o planejamento de sua viagem à Bahia; (4) o Programa de Capacitação de agentes de Viagens - que visa ampliar o conhecimento dos agentes de viagens acerca dos destinos turísticos do estado; e (5) o Programa de Regionalização - Roteiros do Brasil, juntamente com o Ministério do Turismo - que pretende transformar ações antes centralizadas nos municípios (em atendimento ao não mais vigente Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT) em “ações de foco regional”, com vistas a dar mais visibilidade aos destinos tanto no cenário nacional quanto no internacional.

Segundo pesquisas realizadas pela EMBRATUR em conjunto com a SETUR, Salvador possui mais de 2,6 milhões de habitantes, e apresenta-se, hoje, como o terceiro destino turístico do Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Tem como os cinco principais países emissores Itália, Estados Unidos, Portugal, Argentina e França; em âmbito doméstico, os principais estados emissores são Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe e Pernambuco. Em âmbito municipal, vinculada à Prefeitura Municipal de Salvador - PMS, é a Empresa de Turismo S/A – EMTURSA, fundada em 1986, o órgão responsável pelo Turismo, com a missão de “fomentar as atividades turísticas, promovendo Salvador como destino nacional e internacional, oferecendo aos visitantes e à comunidade, infra-estrutura e serviço de qualidade, gerando emprego e renda para o município”.

Entre suas competências, destacam-se: (1) Conscientizar a comunidade sobre a importância do turismo para a economia da cidade; (2) Resgatar, promover e proteger os autênticos valores culturais, religiosos, históricos, folclóricos e naturais da cidade do Salvador; (3) Explorar outros potenciais turísticos de Salvador, como: turismo religioso, náutico, cultural, gastronômico, lazer, melhor idade; (4) Estreitar o relacionamento com o “trade” turístico e entidades de ensino superior de turismo; (5) Estabelecer parcerias que viabilizem o aprimoramento da mão-de-obra, melhorando a qualidade dos serviços prestados na cidade. Mas, atualmente, o foco principal desse órgão é o planejamento, a coordenação, o fomento e a execução do Carnaval de Salvador, evento responsável pelo maior fluxo turístico do estado na dita Alta Temporada, concentrada entre os meses de dezembro e março.

Segundo a nova gestão da entidade, as ações prioritárias para o fortalecimento e crescimento do Turismo na cidade do Salvador são: Firmar parcerias e convênios para identificação do perfil e hábitos de consumo dos turistas; Implantar o Projeto Salvador 12 meses, que consiste em realizar ou apoiar grandes projetos ou eventos; Viabilizar parcerias para a revitalização da Península Itapagipana, através da construção de novos hotéis e centro de convenções; Fomentar, junto a investidores, a implantação de hotéis de bandeiras internacionais na cidade; Desenvolver o projeto de pousadas residenciais e viabilizar a implantação do mesmo em parceria com as demais secretarias; Criar parcerias para requalificar a mão-de-obra local; Articular, com demais secretarias, o projeto de revitalização das barracas de praia da orla Urbana; Fomentar a construção de parques temáticos e espaços para shows; Ampliar os postos de informação EMTURSA, especialmente em pontos estratégicos como porto, aeroporto, estação rodoviária; Modernizar o Mercado Modelo, o Elevador Lacerda e o Camping.

Percebe-se que, em termos de intenções, a Bahia e Salvador estão “no caminho certo”. Porém, diante da divulgação de índices econômicos e sociais tão animadores, que os órgãos oficiais insistem em divulgar (com elevados custos, diga-se de passagem) – do tipo “A Bahia cresce mais que a média nacional” - questiono: como se explicam os elevados índices de pobreza no estado? E os assombrosos índices de analfabetismo? E a mais elevada taxa de desemprego do país? Cresceram os investimentos em tecnologia de fiscalização e cobrança de impostos e tributos, mas para onde estão indo estes recursos? A quem tem favorecido essa enorme movimentação financeira? Será que o tão citado “enigma baiano” ( que marcou o início do século XX na Bahia) deixou, algum dia, de existir?

A Força Econômica, Social e Cultural do Turismo (2)

O Ministério do Turismo (MTur) brasileiro tem por missão “desenvolver o turismo como uma atividade econômica sustentável, com papel relevante na geração de empregos e divisas, proporcionando a inclusão social”. Propõe-se a conduzir as políticas públicas com um modelo de gestão descentralizado, orientando-se pelo pensamento estratégico, para o que conta com órgãos de execução, desenvolvimento e promoção da atividade turística, a citar: (1) Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, responsável por executar a politica nacional para o setor, zelando pela promoção interna e pela qualidade da prestação do serviço turistico brasileiro; (2) Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, com atribuição de promover o desenvolvimento da infra-estrutura e a melhoria da qualidade dos serviços prestados; e (3) Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur) que, desde 2003, concentra-se na promoção, no “marketing” e no apoio à comercialização dos produtos, serviços e destinos turísticos brasileiros no exterior.

Caminhando em sua gestão “descentralizada e participativa”, o Governo Federal, buscando tratar a atividade turística como uma prioridade de Estado, lançou o Plano Nacional de Turismo (PNT) 2007-2010, que traduz um trabalho integrado de cooperação e participação entre diversos setores do governo, da iniciativa privada e do terceiro setor, bem como das instituições com assento no Conselho Nacional de Turismo – CNT. Tem como norte o lema maior “Uma Viagem de Inclusão”. Entre seus diversos lemas de base, constam: “Turismo para todos”, “Mais turistas, mais empregos” e “Mais divisas para o Brasil”. Suas grandes temáticas, voltadas a salientar a função social do Turismo, são: Desenvolvimento Sustentável, Desenvolvimento Regional, Preservação do Patrimonio Cultural, Proteção ao Patrimonio Natural e Geração de Empregos. Evidencia-se, assim, sua enorme abrangência teórica, mas, na prática, como andam as coisas? Parece-me haver um significativo descompasso entre o discurso (de primeiríssima qualidade) e a ação (muito incipiente, muito pautada em aspectos políticos, que, em geral, constituem verdadeiros entraves ao desenvolvimento).

Segundo o Mtur, o Turismo já é, atualmente, o quinto principal produto na geração de divisas em moeda estrangeira para o Brasil, disputando a quarta posição com a exportação de automóveis, uma das mais importantes indústrias mundiais. Há notícias de que, no contexto mundial de todas as atividades econômicas já praticadas, incluindo as de caráter ilegal, o Turismo só perde para o narcotráfico e a indústria bélica. Diante de tamanha representatividade, o Governo Lula ressalta que “o sentido mais profundo deste plano é a inclusão social, pois trata de erguer pontes entre o povo brasileiro e as esferas de governo federal, estadual e municipal, bem como da iniciativa privada e do terceiro setor, para construir um lazer que seja também uma visão compartilhada da nossa terra, da nossa gente, da nossa imensa vitalidade econômica, cultural e ambiental”.

Como não poderia deixar de ser, o Turismo faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, lançado recentemente, com propostas de ações, metas e um amplo conjunto de investimentos em infra-estrutura, bem como medidas de incentivo aos investimentos privados, aliados a uma busca de melhoria na qualidade do gasto público. Para o governo, essas ações conduzem para a crescente profissionalização da atividade. Esse é um plano de extrema relevância para o país, o que se verifica, de imediato, por suas metas: (1) promover a realização de 217 milhões de viagens no mercado interno; (2) criar 1,7 milhões de novos empregos e ocupações; (3) estruturar 65 destinos turísticos com padrão de qualidade internacional; e (4) gerar 7,7 bilhões de dólares em divisas. Seu cumprimento, seja a curto, médio e longo prazos, depende de diversos macro-programas e programas, lastreados em parcerias entre as três esferas de governo, entre os quais: planejamento e gestão; informação e estudos turísticos; logística de transportes; fomento à iniciativa privada; infra-estrutura pública; qualificação dos equipamentos e serviços turísticos; promoção e apoio à comercialização; e regionalização do turismo.

Os recursos para implementação desses planos – PNT e PAC – são da ordem dos bilhões, necessários se não para a erradicação do atraso, ao menos para sua minimização. Porém, vale salientar que o problema do Brasil, com relação a recursos, não é de caráter quantitativo (pois nunca se viu no país tamanha arrecadação tributária), mas, sim, qualitativo. O que o país precisa é de uma gestão racional, lastreada em critérios de prioridade estratégica, com vistas à preservação da soberania nacional, ao fortalecimento da cidadania brasileira e à sustentabilidade. Exatamente o que não vem acontecendo há muitas décadas. Tanto é que, devido a uma infra-estrutura deficitária – como, por exemplo, no setor de transportes (rodovias com péssimas condições de tráfego, hidrovias sub-dimensionadas, ferrovias mal-conservadas e insuficientes, carência de mão-de-obra qualificada) – muitos negócios lucrativos deixam de ser efetivados, com enormes prejuízos para o país. Consequentemente, padece o povo, carente de emprego e condições de vida dignas.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A Força Econômica, Social e Cultural do Turismo (1)

Não há, ainda, um consenso sobre a conceituação de Turismo: para alguns, é ciência, com todo o rigor metodológico que ela exige; para outros, uma arte de atrair, conquistar, satisfazer e surpreender clientes; há, também, quem a ele se refira como uma mera atividade ou prática de cunho essencialmente econômico, embora com fortes impactos socioculturais. Independente desse caráter dispersivo que tal discussão tem assumido em âmbito acadêmico, fato é que, especialmente nas últimas duas décadas, atribui-se a ele o poder (excessivo, a meu ver) de reverter as mais sérias crises econômicas que muitas nações têm enfrentado, principalmente a partir da década de 80, quando o processo de globalização - ou mundialização, como preferem os franceses - se consolida de modo irreversível.

Dizem muitos governantes que o Turismo é a “salvação da pátria”. Porém, o que eles costumam “esquecer” é que a atividade turística demanda permanentes investimentos em ampliação e melhoria de infra-estrutura – transportes, energia, comunicações, segurança alimentar, hospedagem, segurança pública e, principalmente, capacitação e qualificação profissional - bem como a modernização da superestrutura local, entendida como todo o aparato constituído pelos sistemas e relações de caráter político, ideológico e jurídico. Decididamente, não dá para brincar de “faz-de-conta”. O exercício da atividade turística requer conhecimento, responsabilidade, compromisso e uma profunda visão estratégica. Estes são requisitos indispensáveis ao alcance dos objetivos e metas que compõem um adequado planejamento governamental.

Analisando a evolução histórica do Brasil, percebe-se claramente o quanto os governantes brasileiros, contando com a nossa conivência implícita e explícita, foram incompetentes e irresponsáveis para com as diretrizes e políticas públicas para o Turismo, o que acabou por comprometer, em décadas, o desenvolvimento da economia nacional. Tanto que se tornou evidente, hoje, o fato de países significativamente mais pobres – não somente em recursos naturais, mas também em tecnologias - que o Brasil, a exemplo do Chile, apresentarem índices econômicos e sociais bem mais estáveis. Esse histórico descomprometimento político, a crescente corrupção e a escassa responsabilidade social de governantes e empresários foram (e continuam a ser) os maiores responsáveis pelo atraso brasileiro.

Durante décadas, nossa publicidade institucional se concentrou nos recursos naturais do país - sua incontestável rica biodiversidade - e, principalmente, na figura da mulher brasileira, preferencialmente nua ou seminua. Essa visão contribuiu significativamente para o empobrecimento da imagem do país, e consequentemente da atividade turística, passando a atrair turistas sem qualquer compromisso com nosso patrimônio material e imaterial. Não é, portanto, à toa que o Brasil desponta como um dos principais destinos mundiais na prática de turismo sexual. Crianças e jovens, indefesos e desprotegidos, são grandes vítimas de exploração sexual comercial e pedofilia. Segundo a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), cerca de um milhão de crianças entram, anualmente, para o mercado do sexo mundial, estando 10% deles concentrados em Brasil, Tailândia e Taiwan. Está constatada sua íntima relação com a pobreza, daí que o enfrentamento desse crime passa, necessariamente, pela solução de nossos mais crônicos problemas estruturais. Essa é uma questão de base: não adianta tratar o efeito, sem que se combatam as causas.

Séculos de concentração de renda e riqueza consolidam desigualdades socioeconômicas e culturais não apenas internamente, mas também externas. Não é a toa que crescem os índices de violência. Situações agudas tornam-se, frequentemente, crônicas e, em algum momento da história, se conformarão insustentáveis. Então, o que fazer? Até que ponto os dados estatísticos divulgados oficialmente e pela mídia massiva (em geral, a serviço dos grandes conglomerados da comunicação) são confiáveis, quando anunciam relevantes índices de crescimento do país? Será mesmo que eles refletem uma realidade brasileira integral ou são situações pontuais, de determinadas cidades, estados ou regiões? Como, por exemplo, comparar Sudeste e Norte, realidades tão distintas, inclusive no que concerne ao aporte de recursos que o Governo Federal destina para as imprescindíveis necessidades de emprego, educação, saúde, transporte, limpeza, segurança etc?

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Nizan Guanaes: "o futuro da Bahia é o turismo"


Bem, a partir do próprio título desta postagem, podemos perceber qual é o grande objeto da mesma. Logicamente, não estamos aqui para transcrever a tão medíocre palestra de Nizan Guanaes, no encontro "Conexões Bahia - Século XXI", que ocorreu internamente às paredes do Teatro Castro Alves - TCA, no dia 10/09. Por outro lado, deixar passar em branco, neste blog, algum comentário sobre a mesma seria uma injúria, já que o marqueteiro falou sobre perspectivas para a Bahia.

Logicamente, a grande centralidade do discurso, sempre que possível homenageado com palmas e por autoridades do Estado da Bahia, foi a questão do Turismo. Por outro lado, podemos perceber que nada de novo foi dito por Nizan Guanaes. Uma palestra que qualquer um de nós poderia proferir sobre a perspectiva turística da Bahia. Afirmar que este Estado é uma potência para o Turismo não é, de forma alguma, uma novidade. Aliás, basta lembrarmos que o discurso político acerca da “baianidade” começou por conta desse fomento do Turismo baiano. Infelizmente, não cheguei no momento em que o professor Albergaria (conhecedor da “baianidade” e movido pelo senso de escracho) proferia palavras sobre a figura de Nizan Guanaes e seu intento de uma Bahia pró-turística. De fato, foi uma lástima, é sempre bom ver Albergaria tecendo suas farpas contra as pessoas, um belo motivo para darmos risada. Permitam-me voltar ao cerne da questão. Pois bem, gostaria que Nizan Guanaes falasse algo mais profundo acerca do Turismo na Bahia e não apenas afirmasse o óbvio. Quem não sabe que este Estado é precário no ensino de história, que não damos atenção às belezas daqui e todo o blá blá blá que já estamos acostumados? Na verdade, creio que a grande "novidade" de Nizan Guanaes foi propor um desenvolvimento do Turismo no Estado da Bahia que extrapolasse a questão da politicagem. O modelo proposto pelo marqueteiro era unir forças políticas e privadas em prol do desenvolvimento da Bahia.

Mostrando-se um pífio conhecedor dos restaurantes populares da Bahia, Nizan Guanaes disse que não bastava apenas desenvolver os bons restaurantes como o Trapiche Adelaide (voltado para uma fatia ínfima da população local), mas que também até mesmo o Paraíso Tropical deveria ser colocado sob o foco. Ele esquece que o Paraíso Tropical também é um restaurante voltado para uma pequena parcela da população local, uma vez que a média de preço de um prato é de R$ 60,00. Então, é exatamente esta uma das grandes questões deste texto. Desenvolver uma Bahia pró-turística apenas salientando os aspectos potenciais do Estado sem dar um retorno à população é algo de absurdo. Ademais, como fazer da Bahia um Estado pró-turístico, se a questão da educação foi discutida a partir do simples mote: "devemos dar educação para esse povo, fazê-lo conhecer a história...". Seria isso algo tão simples assim?

Por fim, o que notamos na palestra de Nizan Guanaes foi algo que ele realmente sabe fazer: marketing. O problema é que a palestra foi uma estratégia de marketing pessoal para o palestrante, uma vez que ele trouxe música para o centenário de Dona Canô e também exibiu suas belas publicidades. Deveríamos analisar a postura destes comunicadores. Não basta que falemos o óbvio, devemos mostrar como operacionalizá-los. O pior de tudo é observar uma platéia de jovens deslumbrados com as palavras do marqueteiro. Aplaudamos!


P.S.: Imagem retirada do Google Images.


domingo, 16 de setembro de 2007

Natureza, História e Arte em Lençóis/Ba


Este blog tem por proposta falar sobre a atividade turística no Brasil, tanto em termos informativos quanto reflexivos, sempre que necessário (e não faltam circunstâncias em que tal necessidade se impõe). Pode parecer que estamos falando demasiadamente da Bahia, mas, garanto, não é proposital. Desta vez, a escolha de Lençóis se deve a um fato premente: aproxima-se um dos mais relevantes eventos da região, o Festival de Inverno. Portanto, não me restou alternativa.

Lençóis é uma das mais belas e importantes cidades históricas do Brasil. Situada na Chapada Diamantina, tem sua evolução histórica intimamente associada aos ciclos do ouro e diamante, responsáveis pela fundação de tantos municípios baianos aqui já citados, como Mucugê, Andaraí, Xique-Xique de Igatu, Palmeiras, Guiné, Caeté-Açu e Rio de Contas. Em seu auge, foi a maior produtora mundial de diamantes, posição hoje ocupada por Angola. Hoje, sua economia se baseia em atividades primárias e Turismo.

Sem fugir à regra, iniciou como um arraial de garimpeiros, no ano de 1845. Há uma lenda a justificar sua denominação: diz que os garimpeiros acamparam no alto do Serrano, cobrindo suas tendas com tecidos brancos que, de longe, pareciam lençóis estendidos. À medida que se fortalecia a atividade mineradora, proprietários de terras e comerciantes – em especial, de alimentos - foram gradualmente se instalando no entorno dos garimpos, tendo em vista a enorme potencialidade de rápido enriquecimento. Em 1856, passou a Comercial Vila de Lençóis, chegando a sediar um consulado francês, no intuito de estreitar os laços comerciais entre Brasil e França.

O garimpo ajudou a consolidar o crescimento de Lençóis até 1871, quando, por ocasião do esgotamento dos solos e a concorrência africana na exploração de pedras preciosas, foi praticamente abandonada por exploradores brasileiros e estrangeiros, amargando anos de muita escassez e pobreza extrema. Foram a cafeicultura e a extração do carbonato, muito utilizado pelas indústrias européias, que, em 1880, vieram a retomar, mesmo que parcialmente, a economia da cidade.

Apresentando um vasto e muito rico casario colonial, Lençóis foi, em 1973, tombada como Patrimônio Histórico Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ampliando as oportunidades para o desenvolvimento do Turismo não apenas da região de Lençóis, como de toda a Chapada Diamantina. Chamada cidade-patrimônio, é considerada, pelo “trade” turístico, um dos dez melhores destinos turísticos do país, em especial o ecoturismo. Possui uma boa infra-estrutura turística, com meios de hospedagem, restaurantes e bares, agências de turismo, acesso pela rodovia federal BR-242 e um aeroporto, que recebe vôos regulares. È a partir de Lençóis que a grande maioria dos roteiros ecoturísticos da região são organizados.

Embora costume ser muito lembrada por suas belezas naturais, aliás, como toda a Chapada, a cidade conta com uma variada oferta de atrativos históricos e culturais, começando por suas ruas pavimentadas, por escravos, em pedras. Entre os principais atrativos, destacam-se: a Igreja Nossa Senhora do Rosário, cuja construção, em estilo rural, data da segunda metade do século XIX; o Mercado Municipal, situado na Praça Aureliano Sá (antiga Praça dos Nagôs, em virtude de haver sediado intenso comércio de escravos), cuja construção teve início no século XIX com conclusão apenas em meados de 1900. Atualmente, sua importância se deve ao fato de sediar um centro de atividades culturais; o Campus Avançado da Universidade Estadual de Feira de Santana, onde estão os museus do Jarê, do Garimpo e o Geológico. Esta construção pertenceu a uma respeitada figura do século passado, Sinhazinha Sobral; a Igreja Senhor dos Passos, padroeiro dos garimpeiros, cuja imagem foi trazida de Portugal em 1852. Foi construída na segunda metade do século XIX por escravos em adobe em um período de 90 dias; o Casarão no alto do bairro São Félix, ex-quartel-general do coronel Horácio de Mattos, figura lendária da região, tendo sido prefeito de Lençóis, deputado e senador, além de haver lutado contra a Coluna Prestes dos sertões baianos; a Casa de Cultura Afrânio Peixoto, em que funciona um museu e uma biblioteca, com informações sobre a vida do famoso escritor. Funciona de 2ª a 6ª feiras, das 8:00 às 18:00h; a Praça do Coreto, com características típicas de interior, constitui ponto de encontro da comunidade local, em seu cotidiano, mas, principalmente, em apresentações musicais, a exemplo da Lyra Popular de Lençóis; o Antigo Prédio da Prefeitura, chamado Palacete do Cel. César Sá, construído em 1860 com influências neoclássicas. Com recursos do programa Monumenta, uma parceria entre o Ministério da Cultura e o Banco Mundial, foi transformado em museu; a Biblioteca Pública Urbano Duarte, casa em que nasceu um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, abriga a biblioteca municipal, fonte de estudo e pesquisa de estudantes, visitantes e curiosos; o Antigo Vice-Consulado Francês, localizado na Praça Horácio de Matos, importante centro econômico da época do garimpo, onde se travava o comércio direto com a Europa; as praças Horácio de Matos e dos Nagôs, com belíssimos casarões em estilo colonial, revelando a história e o luxo do período áureo do garimpo.

O Ecoturismo em Lençóis mais que se justifica: além das típicas formações rochosas de chapada, há também muitos rios, com águas ainda cristalinas; cachoeiras diversas; grutas e cavernas; morros; poços de águas, com colorações variadas, com predomínio do azul e do mate (em função da decomposição das folhas das árvores que caem a todo o momento, tendo em vista a elevada umidade climática da região); fauna e flora riquíssimas; e muitas trilhas a dar acesso a um mundo realmente inesquecível. Aventura não falta, permitindo a prática tanto de suaves caminhadas quanto de esportes radicais, como “rappel”, “canyoning”, “trekking”, mergulho profundo e de superfície, arborismo, espeleologia. Há, em toda a região da Chapada Diamantina, grande oferta de serviços em agências de viagens especializadas.

Nesse ano, apesar das ameaças de não se realizar por falta de patrocínio, será no período de 19 a 23 de setembro que Lençóis sediará a 9ª edição do Festival de Inverno, um evento aberto ao público, sem cobrança de ingresso. O festival acontece há oito anos e, tradicionalmente, ocorre entre julho e agosto, meses de auge da estação invernal. Envolve uma dinâmica bastante enriquecedora, pois, nele, são promovidas diversas Oficinas Culturais sobre temas variados - teatro, dança, música, fotografia, fabricação de brinquedos e muito artesanato – buscando-se sempre a comunhão de arte, música e educação. A programação inclui também eventos esportivos; manifestações de caráter popular (grupos folclóricos); apresentações teatrais; shows com atrações locais, como o cantor baiano Gerônimo, e nacionais, em que grandes nomes da música popular brasileira se apresentam, a exemplo de Gal Costa, Los Hermanos, Zizi Possi, Luiz Melodia e Lobão.

Apesar de sua relevância econômica e cultural para a cidade de Lençóis e seu entorno, cabe refletir sobre as condições em que o evento acontece. De cara, uma questão essencial: são esperados aproximadamente 25 mil pessoas entre turistas e residentes locais. Todo esse fluxo atende à efetiva capacidade de carga turística da região? A infra-estrutura local - abastecimento de água, esgotamento sanitário, alimentação, hospedagem, transportes, comunicações etc – suporta essa sobrecarga? O evento promove a inclusão social da comunidade local? Não podemos esquecer que não só Lençóis mas toda a Chapada Diamantina são patrimônios naturais e culturais inestimáveis, e que cabe aos órgãos públicos, empresários e toda a sociedade civil prezarem por sua sustentabilidade econômica, social e ambiental.

P.S.: Imagens retiradas do Google Images.

domingo, 9 de setembro de 2007

Nicho de mercado: uma compreensão oriunda do marketing?

Num primeiro instante, podemos pensar, ainda que de modo apressado, que a noção de especialização do mercado e de mão-de-obra é um advento do mundo contemporâneo, ou ainda, que nunca fora antes pensada. Porém, esta é uma temática cara à sociologia do século XIX, sobretudo nas figuras de Weber, Simmel e Dürkheim. Bem, talvez, estes nomes assustem aqueles leitores preguiçosos ou aqueles que não estão acostumados a uma discussão teórico-sociológica. De todo modo, não é esse o objetivo aqui do texto, por outro lado, não posso ficar restrito a não comentar sobre as fortes contribuições que tais pensadores trouxeram a esta discussão. Digo isso porque o texto anterior de Dulce é um excelente exemplo para mostrar como algumas concepções sociológicas estão espraiadas no discurso dito prático, a exemplo do “sistema aberto”.

Pois bem, adentremos na seara do tão problemático e raso estudo de marketing. Esta palavra se tornou um tanto mágica no mundo de hoje e, para piorar, ela geralmente aponta táticas e concepções dadas como receitas de bolo. Os estudos de marketing comportam uma mediocridade tão abissal que chega a ser débil. Uma vez imerso em duas graduações em Comunicação Social, sou um indivíduo que está esgotado com a área de marketing, aliás, parece que a comunicação está, cada vez mais, presa ao ramo do marketing. Para além desta crítica a esse excesso do marketing, considero interessante abordar aquilo que Dulce e os estudiosos da área chamam de nichos de mercado. Isso nada mais significa que um mercado especializado em algum ramo de atividade. É curioso observar como isso data de séculos, pois, desde a corte de Luís XIV, a França reconheceu a especialidade de atividades de alto luxo, desde a sapataria até a cozinha. Portanto, essa euforia do marketing nada mais é do que a simplificação de estudos.


O que talvez encante neste discurso de nichos de mercado é a capacidade que as empresas possuem para desenvolver mais e mais mercados. Ou pior, a capacidade sedutora que este discurso de marketing possui. Aliás, basta lembrarmos da exacerbada ode que se faz, atualmente, aos ditos marqueteiros. Na verdade, muitos creditam a vitória de uma empresa num determinado mercado a partir destes seres enviados dos céus. A grande astúcia do marketing é uma só: desenvolver constantes pesquisas a respeito do mercado consumidor. Como afirmam os estudiosos da área, “devemos conhecer, cada vez mais, o consumidor nos seus aspectos psicológicos”, ou seja, os anseios dos mesmos. A grande lástima é que isso seja ratificado por um tom de aparente novidade.


Por fim, gostaria de saber até que ponto esta ode pela especialização de serviços e mercados chegará. Por mais que estejamos imersos num mundo líqüido, para parafrasear Bauman, em que a expectativa e o anseio individual sejam reinantes, considero que isto pode beirar o absurdo.
Aliás, uma coisa que me causou uma grande curiosidade, como seria um turismo virtual?!? A satisfação de um cliente deveras exigente e especializado pode ocasionar coisas interessantes e bizarras, como a morte de adepto da zoofilia nos EUA. Ao passo que Simmel compreende a especialização como a tragédia da cultura, os estudos de marketing observam isso como a salvação do mercado.

sábado, 8 de setembro de 2007

O Brasil é também serrano


Falando em regiões serranas, são diversos os destinos turísticos brasileiros com essas características. São lugares que se destacam pela exuberância de seu relevo e sua vegetação (em especial, os pinhais e a mata de araucárias), mas também por seu clima diferenciado – próprio para repouso e tratamento médico - e sua riqueza cultural. Sim, porque, em geral, são cidades que contribuíram significativamente para a evolução histórica do país, tendo em vista sua participação efetiva nos frequentes movimentos políticos de emancipação local e de independência nacional.

Com destaque para as regiões Sudeste e Sul, em especial os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, muitas são as motivações que alimentam seu constante fluxo turístico: lazer e entretenimento, saúde, vitivinicultura, observação da natureza, vivência rural, história e cultura, aventura, eventos, entre outras. Em muitas dessas cidades, são evidentes as influências européias, especialmente portuguesa, espanhola , italiana e alemã, manifestadas não apenas em seus costumes e tradições, como também na culinária, um de seus principais atrativos turisticos.

Inicio, assim, com a região serrana do Rio Grande do Sul, pelo fato de haver sediado, recentemente, um dos mais relevantes eventos nacionais de cunho cultural, o Festival de Cinema de Gramado que, desde 1973, no mês de agosto, congrega um enorme número de artistas, intelectuais, interessados e curiosos, de procedências brasileira e estrangeira, em especial da América Latina. A exemplo do Oscar norte-americano (guardada as devidas proporções, é lógico), sua estatueta – o kikito – é uma das mais cobiçadas premiações nacionais da sétima arte.

O Rio Grande do Sul, com uma população de mais de 11 milhões de habitantes, situa-se no pólo mais meridional do país, mantendo limites geográficos com o estado de Santa Catarina ao norte, o Oceano Atlântico ao leste, Uruguai ao sul e Argentina a oeste. No contexto brasileiro, é o quarto estado mais rico (depois de São paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), o quinto mais populoso e o terceiro com mais elevado índice de desenvolvimento humano (IDH), em que a Organização das Nações Unidas – ONU – avalia a qualidade de vida local com base em critérios de educação, saúde e renda. Sua capital, Porto Alegre, tem a maior região metropolitana da Região Sul e a quarta maior do Brasil, conhecida como a Grande Porto Alegre, reunindo 31 municípios e uma população de mais de quatro milhões de habitantes.
Sua população é bastante variada, sendo, em grande parte, formada por descendentes de índios, portugueses, alemães, italianos, africanos e asiáticos. Em algumas de suas regiões, o português parece não ser a língua oficial, pois predominam os dialetos de procedência italiana e alemã. Além disso, vestimentas e alimentos típicos desses países chamam a atenção, despertando a curiosidade em experimentá-los.

Anualmente, cerca de 2 milhões de turistas visitam este Estado de grande vocação e potencial turístico. A oferta atende a, pode-se dizer, todos os gostos: praias no litoral norte, com suas imensas e belas falésias, nas cidades de Capão da Canoa, Tramandaí e Torres; na “Pequena Itália” – composta pelas cidades de Caxias do Sul, Garibaldi e Bento Gonçalves (as cidades do vinho) – estão as melhores vinícolas brasileiras; a oeste, destaca-se a cidade de São Miguel das Missões (em referência às Missões Jesuíticas); e, nas serras, durante o verão e o inverno, diversas cidades são (inundadas” de apreciadores dessa cultura singular: Gramado e Canela, com seu café colonial e seus chocolates irresistíveis e sua riquissima decoração natalina; São José dos Ausentes e Cambará do Sul, por suas baixíssimas temperaturas, inclusive nevascas, que exercem verdadeiro fascinio nos turistas. Nelas também se situam os maiores cânions do país, o de Itaimbezinho, o da Fortaleza e o Malarca. Ao Sul, está o maior complexo lacustre do mundo, formado pela Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim, bem como o ponto mais extremo ao sul do Brasil, o Chuí.

Parte da Serra Geral, uma das maiores do Brasil, a Serra Gaúcha se caracteriza por ser uma das mais frias regiões do país, foi essencialmente colonizada por imigrantes italianos e alemães, ainda no século XIX, tendo constituído sua primeira colônia no município de São Leopoldo. Nessa região serrana, as estações do ano são bem definidas, apresentando um verão quente e um inverno – período que vai do mês de junho a agosto - bastante frio. Nem parece ser o Brasil, país reconhecido, internacionalmente, por sua tropicalidade. Apesar disso, essa é a época mais recomendada para visitá-la.

A Serra Gaúcha fica no centro do Mercosul, distando cerca de 1.000 Km de grandes centros urbanos como São Paulo, Buenos Aires e Assunção. Compreende, basicamente, as cidades de Nova Petrópolis (com seus pinheirais deslumbrantes), Novo Hamburgo (a capital dos calçados), Gramado, Canela, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Garibaldi, Carlos Barbosa, São Francisco de Paula, São José dos Ausentes, Antonio Prado, Veranopolis, Flores da Cunha, Farroupilha, São Leopoldo e Nova Prata (situada em meio à mata nativa, possui um parque temático hidrotermal, com fontes que jorram águas a uma temperatura de 41ºC, com, dizem, excelentes propriedades medicinais e terapêuticas), entre outras. Em Gramado, o Lago Negro, o Parque Knorr, os canteiros de hortênsias – mais floridos entre os meses de novembro e março - e as enormes pedras-mirante são atrações imperdíveis. Oito quilômetros a separam de Canela, cidade de beleza singular, cercada de muitas e belas flores, sendo apreciada por seu rico artesanato e por maiores atrações: a Cascata do Caracol, a Catedral de Pedra e o Vale do Quilombo.

Como é de praxe dos turistas, vale a pena comprar algumas das inesquecíveis especialidades serranas: os chocolates caseiros, o artesanato de madeira e as malhas, todos amplamente ofertados nas inúmeras lojas de toda a Serra Gaúcha. Outra compra muito recomendada, principalmente para os apreciadores, são os vinhos, muitas vezes de produção limitada. Fora isso, recomendo muita fotografia e filmagem. Dá para compor um belíssimo álbum, tradicional ou virtual, não importa. Há até quem, de tanto fascínio, traga uma amostra da neve. Pena ser tão efêmera.

P.S.: Imagens retiradas do Google Images.

Turismo para todas as idades


Uma das modalidades turísticas com mais elevados índices de crescimento em âmbito mundial é o Turismo da Melhor Idade (antes, Terceira Idade), voltado a um público bastante especial - a partir dos 60 anos - não apenas em termos de suas necessidades, mas, especialmente, pelo que podem agregar às atividades no sentido de suas experiências de vida.

Cabe ressaltar a importância de superar preconceitos e quebrar paradigmas: as pesquisas mais atuais comprovam que, ao contrário do que pensam muitas culturas (em especial, as do mundo ocidental), o envelhecimento é um processo natural e não constitui um fator impeditivo para a maioria das atividades cotidianas de um adulto. Nos últimos anos, consolidou-se uma maior conscientização da importância da atividade física, do lazer, do contato com a natureza e da valorização de hábitos saudáveis, essenciais à melhoria da qualidade de vida.

Considerando-se o incremento, em escala quase mundial, da expectativa de vida humana, sua prática tem se difundido significativamente, com destaque para Europa e Estados Unidos. Com interesses mais centrados em aspectos culturais - embora muitos idosos já sejam, hoje, praticantes de esportes radicais – “rafting”, canoagem, “trekking”, montanhismo, “off-road”, pára-quedismo, mergulho, entre outros, BENI (2003) afirma que esse fluxo turístico tem como principal característica a não-sazonalidade, ou seja, elege seus períodos e destinos de viagem não em razão da alta ou baixa estação, mas em razão do tempo e da renda disponíveis. Esse público costuma realizar viagens com permanência mais prolongada nas destinações e tem preferência pelos deslocamentos em grupos, recebendo atenção especial na programação e no acompanhamento dos roteiros, equipamentos de hospedagem e alimentação.

Devidamente planejado e orientado, o Turismo da Melhor Idade propicia, além de uma maior ocupação dos equipamentos turísticos na baixa estação, outros relevantes benefícios, tais como: expansão e melhoria de infra-estrutura e atendimento da rede hoteleira; e qualificação da mão-de-obra local, por demandar treinamento especializado em recreação e saúde (1).

No Brasil, onde cerca de 25 milhões de brasileiros têm mais de 60 anos, este segmento turístico cresce de modo significativo, impulsionado, principalmente, pela profissionalização e especialização de algumas empresas do “trade” turístico, bem como por políticas governamentais de incentivo. Um exemplo disso é o programa Viaja Mais – Melhor Idade, divulgado recentemente pela ministra do Turismo, Marta Suplicy, com o objetivo de reduzir as taxas de desemprego no setor, durante o período de baixa ocupação. O projeto já conta com mais de 120 pacotes para 18 destinos brasileiros. Porém a Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), parceira do Ministério do Turismo para a execução do projeto, continua a receber novas propostas de destinos. A previsão é que, até o final desse ano, a programação completa esteja fechada.

O programa oferece pacotes a custos reduzidos, com possibilidades de parcelamento dos roteiros em até 12 meses. Será possível, também, a concessão de prazo de carência de até 180 dias. Aposentados e pensionistas do INSS podem optar pelo parcelamento em folha (crédito consignado), com juros inferiores a 1%, pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil. Mas o valor emprestado não pode ultrapassar 30% do valor líquido mensal do benefício. O beneficiário poderá levar um ou mais acompanhantes na viagem, desde que esteja dentro do limite de R$ 3 mil e do seu limite de crédito, e que seja uma pessoa maior de 16 anos (2).

Médicos e especialistas na atividade turística indicam como melhor época do ano para esse público viajar o período a que costumamos chamar “baixa temporada”, pois é quando os destinos turísticos mais procurados, em geral por sua diversidade natural e cultural, sua mais completa e confortável infra-estrutura e um mais qualificado atendimento, estão menos saturados. Desse modo, pode-se garantir não apenas pacotes promocionais, mas também melhores condições de acesso e estada, sem todo o alvoroço típico da alta temporada, em especial nas cidades costeiras, onde a procura por lazer e entretenimento é a motivação líder.

Em todo o Brasil, várias empresas turísticas voltam suas atividades ao público da melhor idade, especialmente agências e operadoras de viagens e meios de hospedagem. Não apenas cidades históricas e estâncias hidrominerais interessam aos idosos, mas também, e cada vez mais, locais de riqueza natural como montanhas e praias, onde podem realizar caminhadas, passeios, jogos e práticas desportivas. Assim é que regiões serranas são um dos destinos mais freqüentes, com destaque para os estados brasileiros de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Recife e Bahia. Há também a maravilhosa opção dos cruzeiros marítimos, com seis refeições diárias e muita diversão a bordo.

A título de exemplo, há, em Salvador, uma agência especializada nesse público, a Lobotur, situada no bairro do Itaigara. Sua experiência de mais de 15 anos de mercado lhe permitiu constituir o que denominam Família Lobotur, uma vez que possuem um grande número de clientes “habitues”. Atuam na oferta de pacotes personalizados e excursões, todos com serviço de guiamento de primeira qualidade. Seu trabalho pode ser considerado diferenciado, pois engloba etapas que têm agradado muito aos clientes: lançamento, venda, recepção para entrega do kit (literatura completa, com informações sobre a geografia, a história e a cultura locais), distribuição de brindes (camisas, bonés, bolsas), encontros pré e pós-viagem (troca de fotos, integração). Oferece, aos idosos, um excelente suporte, estando preparados para acompanhar portadores de diabetes e hipertensão, bem como pessoas com significativa limitação motora ou qualquer espécie de necessidade especial. Outro aspecto relevante é que oferecem seguro-viagem de ótima cobertura, inclusive para atendimentos emergenciais.

Lobotur: Endereço: Avenida ACM, nº. 846 Edf. Max Center sala 360.
Tels: (71) 3353-8780 / 3353-3439
E-mail: lobotur@lobotur.com.br
Web: www.lobotur.com.br
Funcionamento: Segunda a Sexta das 9h às 19h e Sábado das 9h às 12h



Fonte:

BENI, Mário C. Análise Estrutural do Turismo. 8 ed. São Paulo: Editora Senac, 2003. p. 436


(1) Disponível no site: <http://revistaturismo.cidadeinternet.com.br/artigos/pref-3idade-2.html> Acesso em: 31 ago 2007.

(2) Disponível no site: < http://oglobo.globo.com/viagem/mat/2007/08/24/297421962.asp> Acesso em:
31 ago 2007.

P.S.: Imagem retirada do Google Images.

Profissionalização e Segmentação do Turismo: oportunidades de inclusão sócio-cultural


Quem, entre nós, não quer ser, mesmo que por alguns instantes, turista? Mudar de ares, conhecer novos lugares, pessoas e culturas diferentes, satisfazer curiosidades, fazer amigos, experimentar uma outra culinária, quem sabe uma nova paixão? São imensas as possibilidades de relaxar, aventurar-se, entreter-se, realizar desejos e sonhos... Sim, porque é exatamente isso que, pelo menos a maioria das pessoas, quando em viagem de “férias”, busca. Afinal, em muitos casos, são meses, e até anos, de poupança e acúmulo de expectativas até que o fato se concretize.

Por isso, é tão grande a responsabilidade de quem trabalha na atividade turística. O estudo e a prática profissional do Turismo devem ter caráter sistêmico, tendo em vista que a atividade envolve relações ambientais de naturezas diversas e de elevada complexidade: econômicas, políticas, sociais, ecológicas, culturais. Assim, pode-se perceber que seu crescimento depende de uma série de variáveis, as quais devem ser focalizadas mais sob o aspecto qualitativo que quantitativo. Compreender o Turismo como um sistema aberto nos conduz ao entendimento de que, embora a atividade tenha limites de expansão, sua sustentabilidade é sempre possível.

Toda a cadeia produtiva – meios de hospedagem, bares e restaurantes, transportes, comércio, centros artesanais e culturais, postos de informação turística, serviços públicos etc – deve estar devidamente capacitada ao atendimento e satisfação das necessidades dos visitantes, mas deve, prioritariamente, buscar superar suas expectativas, surpreendê-los, de modo que se tornem clientes habituais. Além disso, turistas satisfeitos costumam ser uma das menos dispendiosas estratégias de promoção para um empreendimento e/ou destino turístico.

Não podemos esquecer que uma viagem, desde sua idealização até sua efetivação, envolve um importante processo: a decisão de compra, ou seja, decidir gastar para obter uma satisfação, seja ela material ou imaterial. Cabe aqui uma importante ressalva: a compra de um bem ou serviço turístico tem uma singularidade: sua satisfação é bem mais difícil de mensurar, tendo em vista que o turista está adquirindo algo de forte valor simbólico (mesmo que de natureza tangível) – uma fantasia, um sonho, uma esperança, uma expectativa, às vezes uma ilusão. Saliente-se, também, que a produção e o consumo do produto turístico são simultâneos, não permitindo testes prévios ou devolução. Em virtude disso, requer, da parte do turista potencial, certos cuidados e disponibilidade para renunciar, pois, certamente, algumas de suas vontades ou exigências não poderão ser atendidas, por razões as mais diversas.

Hoje, os clientes são mais exigentes. Visam à aquisição de produtos e serviços de qualidade a preços mais acessíveis. Demandam, cada vez mais, vantagens: custos mais baixos, prazos mais dilatados, “upgrade” de categoria (em hotelaria e na aviação aérea, principalmente), bonificações. Tendo em vista a dinamicidade e a forte competitividade do mercado turístico, as empresas estão em constante adaptação e renovação de estratégias, de modo a desenvolver uma administração de “marketing” competente, que garanta a satisfação dos clientes.

Um dos mais modernos e eficientes conceitos de “marketing”, a segmentação de mercado se mantém como uma forte tendência em tempos de globalização, pois constitui um instrumento poderoso, capaz de fornecer subsídios à percepção e compreensão do mercado: entende-se que os consumidores, reais e potenciais, são diferentes em termos de necessidades e desejos, embora também partilhem hábitos e interesses comuns. É assim que surgem os ditos “nichos de mercado”.

O Turismo é um dos mercados mais segmentados da economia atual, seja em âmbito local, regional, nacional ou global. De acordo com a vocação turística e o poder de atração dos destinos, BENI (2003) destaca as seguintes modalidades de Turismo: de lazer e entretenimento ou recreação, ecológico, ecoturismo, rural, agroturismo, de aventura, hidrotermal (climático e paisagístico), desportivo, cultural, étnico-histórico-cultural, temático, educacional, científico, religioso, de eventos, de negócios, de incentivos, urbano, de megaeventos, de saúde, esotérico ou esoturismo, de vinhos ou enoturismo, de habitação, sexual, alternativo, de jogo ou cassinismo, da melhor idade e, mais recentemente, o virtual.

Oportunamente, gostaria de evidenciar outras possibilidades de prática turística, o turismo especializado para “novos” segmentos de consumo, formados por grupos sociais que, a despeito de toda a evolução cultural por que temos passado em termos de conceitos e valores, permanecem, ainda hoje (mesmo que em escala menor), coagidos socialmente, sendo, muitas vezes, podados de seus direitos. Atualmente, já participam mais livre e espontaneamente do amplo e variado mercado de viagens. Entre eles, estão o Turismo GLBT – gays, lésbicas, transformistas e simpatizantes, o Turismo Naturista (inclusive os admiradores da flora e da fauna, que desejam a observação de pássaros, borboletas, insetos diversos etc, bem como os fotógrafos da natureza), o Turismo “Single” (pessoas sós, que buscam companhia ou novos relacionamentos sociais) e o Turismo para portadores de necessidades especiais, com demanda de espaços, instalações e equipamentos adequados à sua acessibilidade e circulação.

Independentemente de sua especialização, é importante ter em mente que, como atividade de forte impactação socioeconômica, o Turismo demanda, tanto da parte de gestores públicos e privados, quanto dos profissionais envolvidos, um planejamento estratégico amplo, consistente e participativo, enfatizando a formulação de diretrizes de desenvolvimento, para o que é de fundamental relevância a elaboração de um plano integral de “marketing”. Porém, que fique claro: embora tenha se originado com vistas à satisfação das necessidades de mercado, o “marketing” – ou, resumidamente, estudo de mercado - não está limitado a bens materiais de consumo, sendo muito utilizado também para a “venda de idéias”.


Fonte:
BENI, Mário C. Análise Estrutural do Turismo. 8 ed. São Paulo: Editora Senac, 2003. p. 428-439.

P.S.: Imagesn retiradas do Google Images.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Ser Eremita no Capão


Bem, fiquemos, como de costume, com alguns comentários a respeito de uma postagem mais informativa. Como a mais recente se refere às belezas da Chapada Diamantina, creio que se faz necessário tecer algumas palavras sobre aquilo que Dulce chamou de “comunidades esotéricas e alternativas”.
Como estou imerso num âmbito que podemos chamar de alternativo, haja vista que faço parte da comunidade dos estudos em comunicação, possuo algum respaldo para tais próximas assertivas. Aliás, o pessoal de comunicação é bem alternativo, até demais. Pois bem, é um verdadeiro rebuliço o que circunda sobre as maravilhas de ser um vivente no Capão. Logicamente, não estou aqui para atacar as preferências pessoais de cada um. Por outro lado, creio que este estado ermitão de contato com o mundo é algo um tanto passageiro e que confirma não necessariamente uma vida alternativa, mas uma espécie de modismo na cultura alternativa. É sabido que esta ânsia pelo isolamento e contato com a natureza é algo oriundo da moda, ainda presente, do pensamento hippie e toda a sua indumentária ideológico-cultural. De todo modo, este isolamento do contato humano é um tanto exagerado e, até mesmo, não-humano.
O que quero dizer com isso é que a raça humana (para usar uma terminologia eremita) é condicionada ao contato com seus semelhantes. Não agüentamos ficar distantes do calor humano. O distanciamento nos causa esquizofrenia e, em casos extremos, suicídio e profunda melancolia, depressão. Ou ainda, podemos recorrer ao velho preceito romântico-naturalista de Rousseau a respeito do “bom selvagem”. Será mesmo que conseguiríamos nos manter neste estado de isolamento? Creio que não. A assertiva de Rousseau é cabível porque ele considera o homem como um ser a-social, na medida que ele o coloca fora do seio do mundo social. Por outro lado, uma vez que consideramos o indivíduo como um animal intrinsecamente social, ele já nasce imerso no contato com o mundo social.
Pois bem, de qualquer maneira, o que desejo destacar é que se considerar como um eremita no Capão é algo um tanto simples ou até mesmo paradoxal. Simples e paradoxal se complementam, haja vista que o eremita no Capão sempre está em contato com o social, ou seja, ele não fica literalmente isolado na natureza; paradoxal porque, se assim concebemos o eremita do Capão, em fins últimos, não há possibilidade do eremita ser, de fato, um eremita. Aparentemente, isto é complicado, mas, de fato, é muito óbvio o raciocínio. Em suma, creio que não há indivíduos eremitas no Capão.
Por fim, esta nova prática, em busca do contato com a natureza é, muitas vezes, uma justificativa para poder usufruir dos gracejos da sensação de liberdade de fumar um cigarro de cannabis, da liberdade sexual e outros tipos mais de liberdade. Ainda assim, creio que esta vida, dita alternativa, é um tanto engraçada, já que carrega consigo traços marcantes da cultura urbana. Mas, os Estudos Culturais diriam que é exatamente este o ritmo da cultura na contemporaneidade. Global, Local ou Glocal?

P.S.: Imagens retiradas do Google Images.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Chapada Diamantina: o paraíso é aqui.

Não sei ao certo por que, mas senti um desejo repentino de falar de Mucugê. Aliás, da Chapada Diamantina. Esse é, sem dúvida, um dos mais lindos e inspiradores lugares desse planeta (digo isso mesmo não o conhecendo integralmente, mas por imaginá-lo). É, decididamente, o local apropriado para renovar as energias, recuperar o fôlego diante do estresse cotidiano, vencer eventuais episódios de mau humor e desesperança, fortalecer o espírito... Enfim, é demais! Só tenho boas recordações, e elas me bastam, pois lá vivenciei momentos muito aprazíveis e enriquecedores. Na minha memória, estão suas indescritíveis paisagens naturais. Cânions, serras, imensos paredões de rocha, grutas, flores de um colorido riquíssimo, cachoeiras simplesmente maravilhosas (um dos banhos mais deliciosos que já experimentei, apesar da água geladíssima) povoam minhas lembranças, fazendo-me sentir mais e mais vontade de retornar. Além disso, o contato com seu povo, tão acolhedor, revela, mesmo que parcialmente, a riqueza, e ao mesmo tempo, a simplicidade de sua cultura (por mais que isso pareça paradoxal, para alguns). Só vale a pena conhecer a Chapada! E, nela, além de Mucugê, pode-se conhecer também cidadezinhas bem rústicas, como Igatu, e cidades de maior porte e repercussão cultural, como Lençóis.

Na realidade, o que se chama Chapada Diamantina é uma região de serras situada no centro do Estado da Bahia, apresentando uma vegetação exuberante, composta de espécies da caatinga semi-árida e da flora serrana, com destaque para bromélias, orquídeas e sempre-vivas (essa, cabe salientar, uma espécie endêmica). Mas ela nem sempre foi uma imponente cadeia de serras: há cerca de dois bilhões de anos, um imponente conjunto de depressões sofreu a ação de diversos agentes modificadores, como os ventos e as chuvas, que lhe preencheram os espaços, tornando-se elevações de altitudes significativas. Nas ruas e calçadas das cidades da Chapada Diamantina, lajes de superfícies onduladas revelam a ação dos históricos ventos e águas que passaram sobre areais antigos.

Completam-lhe o cenário suas transparentes piscinas naturais e as belas e ruidosas cachoeiras, que se formam do movimento das águas dos rios Paraguaçu, Jacuípe e Rio de Contas. Os dois pontos mais altos da Bahia estão na Chapada: o Pico do Barbado, com 2.033 metros, é o mais alto do Nordeste, e o Pico das Almas, com 1.958 metros. Não é à toa que se diz que, para desbravar esse paraíso ecológico, não podem faltar curiosidade, coragem, espírito de aventura e muito, muito fôlego e preparo físico. Mas é preciso, acima de tudo, muita sensibilidade. Sensibilidade para entender a possibilidade de “explorá-la” sem destruí-la.

A Chapada Diamantina foi, no período compreendido entre a segunda metade do século XIX e a década de 30, uma região, por assim dizer, “explosiva”, comandada pelos coronéis, chefes das tradicionais famílias proprietárias de terras, que disputavam o poder político local. Até hoje, é uma região marcada por grande concentração de renda e, consequentemente, fortes diferenças sociais. Passando da opulência e prestígio – durante o ciclo do diamante e do ouro, no século XIX – ao abandono, em parte do século XX, a Chapada encontra, na atividade turística (mais precisamente, no Ecoturismo), uma excelente alternativa econômica, com possibilidades de desenvolvimento regional, revalorização cultural e inclusão social.

O Parque Nacional da Chapada Diamantina é uma das mais fascinantes unidades de conservação ambiental do Brasil. Abriga uma extraordinária variedade de ecossistemas, como caatinga, mata atlântica, cerrado e campos rupestres. Foi criado, por meio de um decreto federal, no ano de 1985, abrangendo uma área de 152 mil hectares da Serra do Sincorá e seus arredores, incluindo os municípios de Lençóis, Palmeiras, Andaraí e Mucugê (nesta, concentram-se aproximadamente 52% do parque). Suas montanhas e serras abrigam e sustentam variadas espécimes animais: jaguatiricas, onças, mocós, veados, teiús e seriemas estão entre os principais. As cidades situadas ao redor do Parque Nacional revelam, na rica e singular arquitetura colonial de seus prédios, a importância do ciclo do diamante para a riqueza local e para o Brasil, tornado primeiro produtor mundial no início do século XX. Atualmente, é administrado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA), que tem sua sede em Palmeiras. A realização de qualquer passeio ou roteiro, seja qual for a localidade, deve ser solicitada às associações locais de guias de turismo, o que se justifica por razões de segurança e de proteção ao meio ambiente.

A Chapada abriga também, em seus vales e cumes, diversas comunidades esotéricas e alternativas, a exemplo do Vale do Capão. Pequenos e grandes grupos de pessoas movidas por ideais de vida comuns, como o respeito à natureza, através de práticas agrícolas ecologicamente corretas, a utilização de energias limpas e as experimentações com bioconstrução, propagadores do auto-conhecimento, da vida saudável, praticantes de diversas técnicas alternativas - psicoterapias, astrologias, cromoterapia, florais – desenvolvem trabalhos com a medicina natural (à base de ervas), agricultura orgânica e apicultura, consolidando um modo de vida holístico. Destacam-se a Comunidade Lothlorien, fundada em 1984; a Comunidade Campina, fundada em 1990, às margens do Riachinho; a Comunidade Rodas do Arco-Íris, fundada em 1997, de forte inspiração artística: são músicos, capoeiristas, dançarinos, artistas plásticos, poetas.

Indo à Chapada, não deixe de conhecer Xique-Xique de Igatu, intitulada a Machu Picchu baiana, pois suas ruínas se assemelham às ruínas sagradas dos Incas, no Peru. Acredita-se que Igatu foi descoberta, por volta de 1840, por garimpeiros, que fizeram as obras em pedra. Localiza-se no distrito de Andaraí, distante 114 km de Lençóis. Nos tempos do diamante e do ouro, a vila já teve cerca de 15 mil habitantes; conta, hoje, com menos de 500. Sua arquitetura à base de pedras constitui seu principal atrativo. De.Igatu, no alto da Serra do Sincorá, pode-se apreciar grande parte da Chapada Diamantina: vales profundos, chapadões, a variedade de sua vegetação, a cerração matinal. Em seu entorno, estão cachoeiras, grutas, igrejas e até um cemitério. Recomenda-se, para um melhor aproveitamento da visitação aos atrativos, a companhia de um bom guia, para o que não faltam nativos qualificados, alguns deles ex-garimpeiros, memória viva da história local.


Fontes:

www.faced.ufba.br/~nec/capao.html
www.cidadeshistoricas.art.br/chapada
Guia da Chapada

P.S.: Fotos retiradas do Google Images. A primeira delas é o famoso Poço Encantado. A segunda retrata uma bela vista da cidade de Mucugê. A terceira enfoca uma pequena cachoeira em Mucugê. Já a última é a mais famosa paisagem da Chapada Diamantina.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Sideways: um filme para enoturistas


Já que estamos falando sobre enoturismo, considero válido destacar um filme lançado em 2004, do premiado diretor Alexander Payne: Sideways (traduzido para o português como Sideways: entre umas e outras). Bem, apesar de um certo alvoroço que se fez sobre o filme, Sideways é uma comédia que ultrapassa, em larga medida, o mero estado de “filme engraçado norte-americano”. Ainda assim, não creio que o filme seja uma “obra-prima da comédia”, como apontou o New York Daily News.

Logicamente, não estou aqui para resumir a própria história do filme, mas, ainda assim, considero que seja interessante traçar uma breve sinopse. O filme se desenrola a partir de uma viagem entre dois amigos ao redor da Costa Central da Califórnia. Esta viagem, na verdade, se mostra como despedida de solteiro para um deles, o mulherengo Jack (interpretado por Thomas Haden Church). Por outro lado, Miles (Paul Giamatti, o mesmo que protagonizou Harvey Pekar em Anti-herói AmericanoAmerican Splendor: 2003), é um professor de literatura que encontra-se completamente desolado com a separação daquela que fora seu grande amor. E é exatamente este par ambivalente que se junta em prol do prazer da degustação de vinhos pela Califórnia. Obviamente, não seria novidade dizer que quem se coloca como um verdadeiro connaisseur de vinhos é Miles.

Como Baco já disse em outrora: “que venha a verdade com o vinho”. É justamente esta a metáfora que faz a narrativa de Payne ganhar uma interessante tomada. A partir da degustação dos vinhos (e da tentativa de Miles ensinar este ofício para Jack), os dois amigos passam por diálogos que, apesar de cômicos, tentam evidenciar alguma reflexão sobre como é chegar aos quase quarenta anos e estar sozinho no mundo. Sozinho pelo menos em relação à uma companhia amorosa. Enquanto Jack é um conquistador barato, Miles se mostra como um indivíduo romanticamente apaixonado por uma única mulher e que jamais pode se abrir para outros ares, um legítimo amor nostálgico-platônico. Bem, a partir daí, o que efetivamente acontece é ajustamento entre tais individualidades. E aqui, fica patente um certo aspecto de moralidade: de nada adianta ser um indivíduo como Jack, uma vez que esta profusão de relações amorosas é efêmera e o coloca sozinho, mas também não adianta ser como Miles, um indivíduo perdido num amor não-correspondido. Portanto, Sideways é um filme que está inserido naquilo que podemos chamar de uma “tentativa de redenção do sujeito por ele mesmo”.

Por fim, gostaria de ressaltar a bela trilha sonora e a fotografia também está muito razoável. Um filme que deve ser assistido por todo e qualquer turista que anseia conhecer as rotas de vinho da Califórnia, região célebre por suas vinícolas. Ou, ainda assim, é um filme bacana para ser assistido por um grupo de amigos ao bom vinho e fondue. Pena que, para nós (soteropolitanos), isso seja uma prática muito difícil, devido ao calor da cidade.